Poucos clubes no Rio Grande do Sul têm uma dependência tão grande da categoria de base quanto o Juventude. Um clube médio, do Interior e que sempre oportunizou aos jovens formados no Estádio Alfredo Jaconi chances no time de cima. Nem mesmo no tempo da marcante parceria com a Parmalat, na década de 1990, os jovens foram deixados de lado.
Vários deles estavam nas conquistas da Série B, em 1994, do Gauchão, em 1998, e da Copa do Brasil, em 1999. Os goleiros Umberto e Márcio Angonese, o volante Lauro e o meia Itaqui – que hoje treina a equipe sub-20 – são exemplos de atletas que saíram debaixo da arquibancada do Jaconi para levar o Papo aos anos mais gloriosos de sua história.
E no caso do Juventude, morar embaixo da arquibancada não chega a ser um problema. Mesmo sem grande luxo, o alojamento da categoria de base alviverde é confortável,espaçoso e muito organizado. Nos 10 quartos que funcionam atualmente, estão 15 jovens de diversas regiões do Estado e do país – o local tem capacidade para até 25 pessoas.
Ficam ali garotos das categorias sub-15 e sub-17. A partir dos 18 anos, o clube paga uma ajuda de custo aos jogadores, além do salário determinado em contrato. Como está localizada no próprio estádio, as instalações onde moram os atletas passam, por todas as inspeções do Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndios (PPCI) do corpo de bombeiros.
– O alojamento está inserido na segurança que a gente dá para o estádio como um todo.Ele tem um projeto (junto ao Corpo de Bombeiros) e alvará com laudo vigente, que é renovado uma vez ao ano. Tem o alvará de vigilância sanitária também. São os documentos que a FGF e a CBF exigem para se usar o estádio em competições oficiais – diz o vice-presidente de patrimônio do clube, Luiz Carlos Bianchi.
Na vistoria para 2019, foi pedido ao clube que aumentasse a altura do corrimão das escadarias de acesso, o que foi feito antes do início do Gauchão. Mais confortável Após o incêndio que vitimou 10 atletas do Flamengo, no Ninho do Urubu, na semana passada, a preocupação aumentou pelo país. Porém, os riscos aos atletas que moram no Alfredo Jaconi são mínimos. Até 2016,a realidade do alojamento do Ju era diferente. Eram ocupados dois andares e a capacidade era de até 80 atletas.
Com a reorganização financeira aplicada ao clube há três anos, um dos andares virou a sede das escolinhas e se deu atenção maior para o espaço que permaneceu. Apesar de ainda não ter uma segunda saída – o projeto está em desenvolvimento –, o fato de toda a estrutura ser de tijolo e concreto minimiza as chances das chamas se propagarem de um quarto para outro. Até mesmo os armários dentro de cada instalação são de alvenaria. O que há de mais inflamável são as camas e as portas.
– Estamos construindo uma saída de emergência nova. Mas, ainda assim, temos 35 metros entre a última parede do alojamento e a saída principal.A exigência do Corpo de Bombeiros é uma a cada 40m. Mas a nova servirá para reduzir ainda mais os riscos para os meninos – diz Bianchi, lembrando também que há monitoramento durante todo o período no alojamento:
– Durante o dia há um monitor com eles, até o começo da noite. Na madrugada, há portaria e monitoramento 24 horas. Sempre há alguém de olho neles.
Como não há treinamentos das categorias de base no verão, não existem aparelhos de ar condicionado nos quartos. Quando necessário, os próprios jogadores levam ventiladores. Para o inverno, bastante rigoroso na região, o Juventude disponibiliza uma estufa a óleo para cada habitação. O modelo, mesmo que elétrico, é mais seguro que os que possuem resistência. Além do monitor cuidando diariamente do alojamento, o Ju disponibiliza uma equipe multidisciplinar para acompanhar o desenvolvimento dos atletas.
Uma psicóloga e uma pedagoga trabalham com a parte de educação, ensino e emocional dos garotos. O departamento médico é o mesmo que o do profissional, tendo horários específicos para a base. A fisioterapia tem profissionais exclusivos para o sub-20, sub-17 e sub-15. Além do trabalho realizado no estádio, todos alojados no Jaconi são matriculados em uma escola da rede pública. O clube disponibiliza ônibus ou van para ida e volta até o local das aulas. Há um acompanhamento de como está o rendimento de cada menino.