A noite de segunda-feira foi marcada pelo encontro de integrantes da comissão técnica na Seleção Brasileira com a comunidade caxiense. O 3º Simpósio de Futebol, realizado na UCS, reuniu amantes do esporte para um bate-papo com Cléber Xavier, auxiliar técnico, Matheus Bachi, analista de desempenho e auxiliar técnico, e Fernando Lázaro, analista de desempenho, todos membros da equipe de trabalho do técnico Tite e da Seleção, classificada para a Copa 2018 como campeã das Eliminatórias Sul-Americanas.
Dentre os temas, destaque para as rotinas diárias de trabalho, algo inovador na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Antes do evento, Cléber Xavier contou em detalhes à reportagem do Jornal Pioneiro a metodologia implantada por Tite e sua equipe.
- Nossa metodologia é adaptada a uma realidade diferente, de seleção que são convocações de dois jogos em 10 dias, com três treinos para cada jogo, diferente de uma rotina de clube, que é diária. E tudo isso sendo implantado com a nossa metodologia, que evolui muito nos últimos anos, principalmente no Corinthians, para rapidamente tornar o processo mais rápido para o atleta - detalha o fiel escudeiro de Tite, numa parceria de 16 anos.
Cléber Xavier, 52 anos, é auxiliar de Tite desde o Grêmio em 2001, em passagem marcada pela conquista da Copa do Brasil. Depois disso, títulos como Sul-Americana com o Inter, dois títulos de Brasileirão com o Corinthians, 2011 e 2015, e Libertadores e Mundial, também com o Timão, em 2012. Talvez por isso, Cléber não se incomoda em ter um nome totalmente atrelado ao treinador da Seleção.
- Não consigo dissociar meu trabalho do dele. Sou um cara parceiro do Tite há anos, ele é mais reservado, sou mais aberto, mas não fico me imaginando diferente disso. Nosso foco total é nos próximos jogos. Quando tive o convite fiquei feliz, mas os amigos e a família sentem muito mais - revela, ao citar os horários de trabalhos diários, das 10h às 19h, na sede da CBF, no Rio, além dos compromissos como jogos e viagens.
Entrevista
"Conseguimos fazer dar certo por meio de gestão", diz Cléber Xavier, auxiliar técnico da Seleção
Chegada à Seleção
Nem tínhamos um parâmetro. No início, pensamos em buscar em outras seleções do cenário mundial como Alemanha, Inglaterra, para ter uma referência, mas nem deu tempo porque a situação da Seleção era difícil. Fomos nos descobrindo e nesses um ano e três meses estamos aprendendo ainda a treinar a Seleção. Foram três fases: a primeira de classificar, a segunda de se consolidar e fazer a equipe crescer e agora é de enfrentar seleções europeias. Tudo é novidade. Até enquanto clubes, enfrentamos apenas uma vez um clube da Europa (título Mundial do Corinthians sobre o Chelsea em 2012).
Atletas
Mas o que achamos mais positivo e impressionou é a qualidade dos atletas. Nos primeiros treinos vimos isso. Já tínhamos trabalhado em clubes grandes, mas chegar lá e ter Neymar, Daniel Alves, Marcelo, Phillipe Coutinho, Thiago Silva, de altíssimo nível e todos juntos, impressiona, além de ver o crescimento destes atletas como entendedores de futebol como atletas de altíssimo nível. Isso nos ajudou muito na adaptação da rotina e do que queremos: desempenho e resultados.
Diferencial
Cito três pilares do nosso trabalho na Seleção: nossa rotina (nunca existiu trabalho diário na CBF), nossa metodologia de trabalho, criada e desenvolvida por nossa comissão técnica, e nossa forma de gestão. Isso é o que nos chama a atenção. Essa relação de cobrar sem pisar no atleta, elogiar, mas sem ficar babando demais, ter uma relação verdadeira e um prazer de conversar sobre futebol. Quando se conversa com atletas desse nível, é preciso ter um conhecimento mais profundo, tem que passar claramente o que tu quer e isso está acontecendo.
Gabriel Jesus e Neymar
Já na Seleção Olímpica, acompanhamos o trabalho e ali já vimos respostas como o Gabriel Jesus, que além de intenso, gostou de jogar com o Neymar e os dois deram certo. Isso caiu como uma luva para nós. Foi uma das grandes conquistas dentro de campo, assim como o crescimento do Marquinhos e a afirmação do Alisson.
Grupo de jogadores
Pegamos um grupo que vinha pesado da Copa de 2014 e outros que vêm das dificuldades das Eliminatórias, com medo de não chegar ao Mundial. Todo esse processo, nós conseguimos fazer dar certo por meio de gestão. E isso cresceu mais do que imaginávamos, nem em sonho se imaginava que seria assim, com esses resultados dentro e fora de campo. Quando mais resultado vem, mais tem que trabalhar para manter e fortalecer a equipe. Isso que contei, como Casemiro jogando muito, reafirmação de Fernandinho, disputa Willian e Phillipe Coutinho são histórias positivas.
Situações negativas
Negativas, nenhuma. Ouvimos de problemas anteriores com comissão e conosco não há um mínimo detalhe negativo.
Desafios
Agora é enfrentar novas escolas, fortalecer a equipe nas opções que temos e seguir observando e dando oportunidades para levar 23 jogadores que tenham reais condições de serem usados. Cada vez mais saímos felizes dos jogos porque nos sentimos fortalecidos para as próximas etapas.
Chance para novos
Existe chance, sim. Pequena, mas existe. Ainda não fechamos. Serão mais duas convocações, uma em março e a final. Temos atletas no Brasil que podem surgir como o Gabriel Jesus, que ocupou seu espaço. Temos atletas como Richarlison (do Watford-ING), Malcom (Bordeaux-FRA), Arthur (Grêmio), são vários. Não é fácil e queremos analisar mais para cometer o mínimo de injustiça possível e levar nossa maior força dentro do nosso conceito.