O desafio de completar 21 quilômetros correndo é grande. Ele exige tempo de preparação e traz consigo dores. Em Caxias do Sul ainda há o acréscimo dos morros. Afinal, tudo o que você desce, terá que subir. Mas estes são fatores que aumentam ainda mais a satisfação do corredor ao completar a distância pela primeira vez. Esses foram os sentimentos que vivi ontem pela manhã, na Meia-Maratona de Caxias do Sul. Ao cruzar a linha de chegada, com o tempo de 1h45min, até as dores foram esquecidas.
No total, foram 40 dias de preparação para a prova, descontando-se sete devido à forte gripe que me tirou das ruas. Não bastasse essa perda, ainda veio uma inflamação no pé direito dois dias antes da competição. Afinal, nada é tão ruim que não possa piorar.Com esses agravantes, veio também a dúvida sobre se conseguiria completar o trajeto. O percurso, na teoria, parecia fácil. Apenas a subida da Moreira César e da Sinimbu seriam obstáculos fortes. Mas a prática mostrou outra situação. Ainda que o clima tenha ajudado os 410 corredores dos 21 quilômetros, com temperatura amena e sol, o percurso foi mais pesado do que o projetado.
A prova
Com dores no pé, preferi usar o primeiro quilômetro para aquecer o corpo, o que me ajudou. As dores sumiram em meio à prova, e o primeiro terço dela foi tranquilo. As ruas também favoreceram, já que não havia morros íngremes na Sinimbu, Angelina Michelon, Júlio de Castilhos e Os Dezoito do Forte. O morro mais pesado era uma descida. O pace (ritmo médio de corrida), que havia planejado acima de 5min40s por quilômetro, foi ainda melhor: 4min45s.
Os problemas maiores só foram surgir na Júlio de Castilhos, já em São Pelegrino. O paralelepípedo não é um piso regular como o asfalto. Não bastasse isso, veio a subida do Cristóvão de Mendoza, que não parece tão forte quanto realmente é. Ali, veio o primeiro sinal de desgaste, e a dor no pé direito voltou. Mas tudo que se sobe, desce. E a Júlio tem uma descida boa até a Perimetral. Era o momento para respirar e recuperar o fôlego.
A Perimetral, até o cruzamento com a Moreira César, foi a parte mais tranquila de todo o percurso. Completei metade da prova em 50 minutos, melhor do que o esperado. Só que nem tudo são retas. E vieram dois morros. Bem longos, próximos do acesso ao bairro Jardim América.
Quando iniciei as subidas, elas pareciam o dobro do que eu via. Era os desgaste. E ele ficou ainda mais claro após o retorno na rótula da Humberto de Campos, quando surgiu uma cãimbra na panturrilha esquerda. Mas, ali, já tinham-se ido 15 quilômetros. O jeito era focar no asfalto para esquecer a dor.
O trecho mais complicado
Foi o que fiz. Desci a Perimetral e entrei na Pio XII ignorando as dores. Pensava apenas nos morros que ainda viriam pela frente e que não eram poucos: seis no total (três na Moreira César e três na Sinimbu). A primeira trinca, admito, foi mais fácil. Mas a segunda... Entrei na Sinimbu concentrado nos últimos três quilômetros. Mas, quando subi o último morro, entre a Visconde de Pelotas e a Dr. Montaury, o corpo pedia que a linha de chegada fosse na Catedral.
Os dois quilômetros finais pareciam cinco devido ao desgaste. Descer a Sinimbu, entrar na Treze de Maio e voltar para a Os Dezoito do Forte foi mais difícil do que percorrer os 19 quilômetros anteriores. As pernas pareciam que não iam mais. Mas suportaram. As dores? Pararam quando entrei na Alfredo Chaves e cruzei a linha de chegada. Tudo bem que, dois minutos depois, elas voltaram ainda mais fortes. Mas o desafio estava concluído.