Difícil explicar como um time formado por jogadores da elite dos clubes brasileiros, mais um futuro candidato a melhor jogador do mundo, não consiga marcar um gol sequer em seleções inexpressivas no cenário mundial, como são África do Sul e Iraque. A seleção olímpica de futebol masculino faz um papelão até aqui nos Jogos do Rio. E, nesta quarta-feira, às 22h, na Fonte Nova, a seleção precisa de gols para vencer a Dinamarca e se classificar às quartas de final dos Jogos do Rio, sem depender de resultados paralelos ou sorteio para seguir em busca do ouro.
Encastelada em um hotéis cinco estrelas – como todas as seleções brasileiras de futebol masculino –, a atual vive a Olimpíada em uma bolha. Longe do Rio de Janeiro, onde pulsa o espírito olímpico, os jogadores de futebol do Brasil se mostram totalmente desconectados dos Jogos. Não cruzaram com Wu, Phelps, Del Potro, ou qualquer atleta que tenha passado pela Vila Olímpica.
Leia mais:
CBF chama Tite e monta gabinete de emergência pela vaga olímpica
Marta ou Neymar? Internautas mostram preferência pela atleta da seleção feminina de futebol
Com as vaias recebidas no Mané Garrincha, depois do segundo 0 a 0 em sequência, o capitão da seleção olímpica, Neymar, foi um resumo desse universo paralelo: se omitiu de explicações. A sua atitude pós-jogo, passando olimpicamente pela zona mista, com enormes fones de ouvido verdes, fingindo não pertencer àquele plano, repercutiu mal até mesmo nos bastidores da CBF. O técnico Rogério Micale chegou a pedir desculpas pela atitude do camisa 10 – aquele que deveria ser o porta voz do time.
– Neymar é um jovem de 24 anos, que não atingiu a sua maturidade. Atingirá aos 28, quando chegará ao ápice de sua condição. E ele já tem de lidar com a pressão aos, 17, 18 anos de idade. E onde a sua geração, que deveria dar o suporte para ele desenvolver o talento, ainda não se firmou. Assim como houve com Ronaldo Fenômeno (aos 17 anos foi reserva na Copa de 1994) – declarou.
Mas o discurso do treinador foi adiante e cobrou menos pressão sobre o seu camisa 10, sob pena de "perdermos" o jogador na Seleção, e respondeu sobre a comparação que vem sendo feita pelos torcedores, entre Marta (craque da seleção feminina e eleita cinco vezes a melhor do mundo) e Neymar:
– Se não respeitarmos nossos craques, eles não vão querer mais jogar com a gente. Marta está com quantos anos mesmo? Ah, 31. Marta está em um momento muito bom da carreira, é uma jogadora sensacional, e tem o reconhecimento. Neymar tem um futuro como melhor do mundo. Precisamos respeitar Neymar, é um jovem, ponto.
A partir de agora, até o técnico da Seleção Brasileira, Tite, atuará junto ao grupo para tentar evitar um novo nocaute no futebol brasileiro e barrar um 7 a 1 olímpico. Em Salvador, Tite se juntará a seu auxiliar, Cléber Xavier, conversando com os jogadores e tentando tranquilizar o grupo _ que vem se mostrando instável.
Em Salvador, terra de Micale, a seleção fará um jogo pela sobrevivência. Tradicional reduto de festas para o time da CBF, um apoio incondicional é esperado na Fonte Nova. Sem Thiago Maia, suspenso, Walace ou Rodrigo Dourado entrará na equipe.
– Gostaria que o meu povo abraçasse a seleção – pediu o técnico.
Ficha da partida desta quarta, que vale pela 3ª rodada
Brasil:
Weverton;
Zeca
Marquinhos
Rodrigo Caio
Douglas Santos;
Walace (Rodrigo Dourado)
Renato Augusto
Felipe Anderson;
Gabriel Barbosa
Gabriel Jesus (Luan)
Neymar
Técnico: Rogério Micale
Dinamarca:
Jeppe Hojbjerg;
Desler Puggaard
Edigerson Gomes
Blabjerg Mathiasen
Pascal Gregor;
Andreas Maxso
Lasse Vibe
Jens Jonsson
Casper Nielsen;
Nicolai Brock-Madsen
Robert Skov
Técnico: Niels Frederiksen
Arbitragem: Alireza Faghani, Reza Sokhandan e Mohammadreza Mansouri (trio iraniano/Fifa)
Local: Arena Fonte Nova, em Salvador (BA)
Horário: 22h
Fique de olho
Brasil: vai ter jogador da dupla Gre-Nal no time titular. Na hora da decisão, Rogério Micale faz mistério, mas escalará Walace ou Rodrigo Dourado na vaga do suspenso Thaigo Maia. A tendência é que o gremista entre na vaga do jogador do Santos. Walace faz uma temporada superior à de Dourado, além de ter um porte físico semelhante ao dos atacantes europeus _ todos jogadores pesados e com pelo menos 1m87cm de altura.
Dinamarca: é o time com o futebol mais pragmático do Grupo A: joga no 4-4-2, para se defender, e tenta escapar em contra-ataques e na bola aérea. Ainda que a seleção olímpica nos Jogos do Rio seja quase um time C do futebol dinamarquês, há alguns jogadores que merecem atenção. O zagueiro Edigerson Gomes é natural da Guiné-Bissau, e pega pesado na defesa, sem medo de distribuir pancadas. O capitão do time, o volante Lasse Vibe, geralmente é quem começa os contra-ataques. Na frente, Robert Skov fez o que ninguém mais fez no Grupo A: gol. A vitória da Dinamarca por 1 a 0 sobre a África do Sul ocorreu com o gol do atacante do Sikeborg (da Dinamarca).
Histórico
Os times principais de Brasil e Dinamarca se enfrentaram quatro vezes. Três delas, porém, em amistosos. Na Copa da França em 1998, o Brasil de Rivaldo, Bebeto, Dunga, Cafu, Taffarel , Ronaldo, Roberto Carlos e companhia, bateu a Dinamarca por 3 a 2, e avançou às semifinais do Mundial. Bebeto e Rivaldo (dois gols) marcaram para o Brasil.
Mas, em 1972, pelos Jogos de Munique, o Brasil começou a dar adeus à Olimpíada alemã ao perder na estreia para a Dinamarca, por 3 a 2. Mesmo jogando com Abel Braga, Paulo Roberto Falcão e Roberto Dinamite, o Brasil caiu diante dos europeus. Em seguida, ao empatar com a Hungria (2 a 2) e perder para o Irã (1 a 0), a seleção olímpica foi eliminada do Grupo C.