Dia 7 de dezembro de 1975, Estádio Baixada Rubra. Essa data marca o primeiro embate entre os clubes da cidade sob a denominação Ca-Ju, o clássico que neste sábado, somando três diferentes períodos (incluindo o Fla-Ju), chega na 274ª edição. Na ocasião, a Associação Caxias de Futebol era a mandante, e foi derrotada por 1 a 0 pelo Juventude.
Para lembrar o confronto histórico, o Pioneiro levou ao Estádio Centenário, que ocupou o lugar da velha Baixada e será o palco do jogo deste sábado, dois experientes jornalistas, que viram tudo de perto. Guiomar Chies, 72 anos, com bloco e caneta, e Vasco Rech, 77, com uma câmara fotográfica, testemunharam ao lado do gramado a partida, a primeira da final da Copa Sinval Guazzelli.
Uma semana depois, as equipes voltaram a se enfrentar, no Jaconi. A Associação deu o troco e ganhou por 2 a 1, mas o Ju levou a melhor nos pênaltis e venceu por 3 a 2, erguendo o troféu. Nessas duas oportunidades ficaram evidentes as emoções e imprevisibilidades do clássico, que se mantêm até hoje.
Guiomar Chies lembra que a dupla caxiense vivia momentos atribulados, especialmente entre os dirigentes. A fusão dos departamentos de futebol do Grêmio Esportivo Flamengo e Esporte Clube Juventude, rivais desde a década de 1930 (a era Fla-Ju) e consumada em 1971, com a Associação Caxias, se desfizera em pouco tempo.
O Juventude havia reativado o departamento de futebol. E o grupo ligado ao antigo Flamengo ficara com a Associação.
- O ambiente estava quente entre os dirigentes, com declarações fortes e provocações. Afinal, o Juventude enfrentava um time que havia ajudado a criar - afirma Chies.
Vasco Rech é torcedor do Juventude. Mas afirma que, na oportunidade, a Associação era superior, e a vitória alviverde foi circunstancial:
- O Caxias era 10 vezes melhor, porque tinha um time formado há tempo, enquanto o Juventude havia buscado uma leva de jogadores em São Paulo. Assim, o Caxias martelou todo o tempo, mas num dos poucos ataques o Da Silva fez o gol, de cabeça, na goleira dos fundos do estádio.
O primeiro Ca-Ju teve uma situação considerada das mais inusitadas observadas por Chies durante sua longa trajetória na imprensa:
- O técnico do Juventude era o Carlos Gainete. No primeiro tempo, em certo momento, após ouvir críticas de um torcedor, ele saiu do reservado e foi para o vestiário, irritado. Os dirigentes foram atrás e o convenceram a voltar. Eu nunca havia visto coisa igual.
No intervalo da partida, o então dirigente Willy Sanvitto convidou o jornalista para ir ao vestiário e constatar que tudo estava bem.
- Entrei lá e me assustei com tanta vela que havia, em tudo que era lugar - se diverte o jornalista.
Como não poderia ser diferente, a arbitragem foi alvo de reclamações, principalmente do time perdedor.
- Os dirigentes do Caxias reclamaram que três jogadores saíram lesionados, inclusive um com suspeita de fratura. Também disseram que a federação havia mandado um aprendiz, José Luiz Barreto, para apitar - afirma Chies.
- Para o segundo jogo, veio o Armando Marques, que era o melhor do Brasil - completa o jornalista.
Na lembrança da dupla de jornalistas, o público foi numeroso. Com uma diferença em relação aos tempos mais modernos do futebol.
- As torcidas se dividiam: a da casa no setor social e a visitante, no outro lado. Mas não havia torcidas organizadas nem brigas, no estádio e na rua. Todos andavam juntos, com as camisas dos clubes, sem problemas - destaca Chies.
- O Juventude até teve a ala feminina, mas nada que lembra o que acontece hoje - recorda Rech.
- Foi o último clássico na Baixada Rubra. Depois o Caxias transformou o estádio, que passou a ser Centenário e Francisco Stedile - conta Chies.
Isso ocorreu porque em 16 de dezembro, um dia após o segundo jogo da final, foi criada oficialmente a Sociedade Esportiva e Recreativa Caxias do Sul, dando sequência à rivalidade que terá mais um capítulo neste sábado.
Ficha técnica do jogo
Associação Caxias (0)
Bagatini
Segatto
Luiz Felipe
Jerônimo
Félix
Rui Bandeira (Jurandir)
Nana
Arnaldo
Luizinho
Raul
Maurinho (Marcos)
Técnico:
Marco Eugênio
Juventude (1)
Roberto
Benazzi
Gonçalves
Rubão
Severo
Alcione
Assis (Altimar)
Freitas
Da Silva
Jaci
Soares
(Ricardo)
Técnico:
Carlos Gainete
Gol: Da Silva, no primeiro tempo
Árbitro: José Luiz Barreto
Local: Baixada Rubra, em 7/12/1975