A partir de hoje, e será assim até o final da Copa, Dunga é o homem mais importante do país. Nenhuma autoridade sequer roçará o seu poder. O presidente Lula, os governadores, os prefeitos, José Serra e Dilma Roussef, todos eles serão nada perto do técnico da Seleção Brasileira.
Então, que Deus o ilumine para recitar o nome de ao menos um craque hoje, quando anunciar os 23 jogadores que irão à África do Sul. Não importa quem: pode ser Neymar, Ronaldinho, Ganso, até Ronaldo e sua barriga. Se Dunga listar um craque, só um, terá valido a pena.
O Brasil nunca foi campeão sem um craque. Mas craque mesmo. Nada dessa mania de chamar de craque o sujeito com menos de 20 anos que faça gol no Maracanã ou Morumbi lotados. Falo do craque craque.
Pelé, Garrincha, Didi, Nílton Santos, Romário, Ronaldo. Em cada um dos cinco títulos, havia ao menos um fora de série. Bons, muito bons, ótimos ou excelentes sempre tivemos. Mas campeão, só com craque.
A Seleção de Dunga não tem craque. O mais próximo desta condição é Kaká sem pubalgia, o que não parece ser o caso. É um grande jogador, mas não genial. O craque tem de ser genial. Faça uma lista com os 15 maiores jogadores brasileiros de todos os tempos: Kaká entraria?.
Dunga está escrevendo uma bela história à frente da Seleção. Devolveu-lhe a autoestima, perdida naquela displicência gosmenta de 2006.
Montou um time operário e solidário, com disciplina tática e consciência para marcar sem a bola, que tem ultrapassado todos os obstáculos com louvor. Forjou um grupo na adversidade, e assim firmou um compromisso entre seus jogadores.
Tudo isso é verdade, mas também é verdade que o futebol brasileiro não pode prescindir da figura do craque de fato, aquele capaz de resolver um jogo numa invenção. A Alemanha e a Itália podem. O Brasil, não. Não um país no qual um talento endemoniado pode surgir na próxima rodada.
Em 2002 Felipão apostou em Ronaldo e Rivaldo quando ninguém dava um centavo por eles. Apostou nos craques e a partir deles montou um time, com Ronaldinho chegando. Dunga é da mesma cepa de Felipão. Há de abrir espaço para um jogador assim no grupo que vai à Copa.
Se fizer isso, estará à beira da consagração.
Do contrário, o risco de colocar tudo a perder não será pequeno.
Esportes
Que Dunga anuncie ao menos um craque para a Copa
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