
Com dados que acendem o sinal de alerta, Caxias do Sul seguiu o ritmo do Estado e iniciou 2025 com o maior número de pessoas inadimplentes dos últimos cinco anos. Conforme o monitoramento da Serasa Experian, 148.484 moradores do município estavam com o nome negativado em janeiro deste ano, 12,4% a mais do que em janeiro de 2020, quando o número era de 132.057.
Especialista em finanças pessoais da Serasa, Thiago Ramos explica que esse número não se trata de uma pesquisa, mas do banco de dados do órgão, que é atualizado a cada vez que uma empresa negativa um consumidor. Ele reitera que Caxias do Sul tem seguido um movimento nacional.
Conforme os dados da Serasa, atualmente são 725.598 dívidas em Caxias do Sul — o maior número desde 2020 é de março de 2024, quando havia 758.163 dívidas —, que contabilizam R$ 988 milhões, a segunda maior do Rio Grande do Sul, atrás somente de Porto Alegre, com R$ 3,4 bilhões. E Ramos alerta para o alto tíquete médio de dívidas por inadimplente dos caxienses, que atualmente é de R$ 6.656,72, sendo o maior do Estado.
— Temos percebido que as pessoas estão precisando de crédito para equilibrar as contas, e não estão conseguindo pagar. Quando elas não encontram nos bancos tradicionais, procuram nas financeiras, e no Estado o primeiro lugar no ranking da categoria de dívidas está com bancos, com 30% das dívidas, e em segundo lugar vem as financeiras, com quase 17%, e em terceiro lugar o setor de serviços — contextualiza o especialista da Serasa.
Conforme Ramos, não há uma única explicação para a inadimplência no Brasil, mas um somatório de questões tanto nos âmbitos nacional e internacional, como até mesmo a educação financeira das pessoas. Conforme ele, o órgão fez recentemente uma pesquisa que revelou que para 57% dos entrevistaram o principal gasto no cartão de crédito são as compras no mercado, e 38% disseram que já pediram um empréstimo para pagar contas de água, luz ou gás.
— O dinheiro não está dando para pagar contas simples do mês, e os gaúchos estão recorrendo ao crédito para isso. Isso significa que em algum momento ele vai ter que escolher qual conta vai pagar. Isso leva a um aumento da inadimplência.
Mudanças em âmbito nacional
E é claro que os dados de Caxias do Sul preocupam os especialistas do município. Para o economista Tarciano Mélo Cardoso, uma série de fatores impacta diretamente no número de 148 mil inadimplentes. Aponta reflexos vindos de uma crise financeira entre 2014 e 2016, além, claro, da pandemia da covid-19.
Outra preocupação do economista é com o valor financeiro das dívidas, que está beirando o R$ 1 bilhão. Conforme dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruno (PIB) de Caxias é de R$ 31,6 bilhões. Cardoso diz que para reverter esses altos números são necessárias ações em âmbito nacional, como diminuição de cargas tributárias e a redução do que é chamado de “risco Brasil”
— Não digo um incentivo como o governo central costuma fazer de injeção de capital na mão da população, isso acaba sendo um efeito contrário, instiga mais o consumo, obviamente quando tem um repique inflacionário, e esse comprar mais caro acaba reduzindo a questão de necessidades básicas, e aí gera a inadimplência. Boa parte da inadimplência que temos em Caxias e Brasil vem em função dessas injeções contínuas de capital, carga tributária constantemente elevada, crises mais amplas que geram redução de emprego e as pessoas ficam inadimplentes. E tem a questão cultural do brasileiro.
Regra do 50, 30, 20
Segundo Thiago Ramos, especialista em finanças pessoais da Serasa, evitar a inadimplência passa, fundamentalmente, pela educação financeira. Ele defende que o assunto deveria ser tema em escolas, e lamenta que ainda seja um “tabu cultural” dentro dos lares brasileiros. Como forma de dica, diz que as pessoas devem anotar os ganhos e gastos mensais em um caderno ou tabela de computar e, acima de tudo, não gastar mais do que recebe.
Outra dica do especialista da Serasa é a regra 50, 30, 20:
- 50% do salário deve ser utilizado para contas indispensáveis, como água, luz, gás e aluguel.
- 30% do salário para lazer e parcelas de cartão de crédito.
- 20% deve ser guardado.
Ramos acrescenta que endividamento e inadimplência são termos distintos, embora possa haver certa confusão. Inadimplência, conforme ele, é o famoso “nome sujo”, quando uma pessoa atrasa uma dívida e não consegue negociar ela, enquanto que endividamento é qualquer pessoa que tem uma parcela de cartão ou financiamento, por exemplo:
— O único que não está endividado é quem paga à vista, que não usa cartão de crédito, só que a Serasa nem faz esse levantamento — exemplifica Ramos.
Como negociar as dívidas
Aqueles que perderam os tradicionais feirões de renegociação de dívidas podem ficar tranquilos. Tanto a Serasa como o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias possuem ações ao longo do ano, confira:
SPC/CDL Caxias
- Pelo site: as pessoas podem acessar o site da CDL (clique aqui), onde é possível verificar as dívidas que têm com as empresas associadas da entidade e fazer a negociação para quitação. Se fizer a negociação pelo site, o nome "ficará limpo" após a quitação total da dívida. O serviço é gratuito.
- No balcão do SPC: indo até a sede do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) em Caxias, na Rua Sinimbu, 1.415, esquina com Alfredo Chaves, no Palácio do Comércio, o usuário consegue verificar as dívidas que têm com as empresas associadas à entidade. A CDL intermedeia a negociação da dívida entre o consumidor ou empresa com o estabelecimento. Indo pessoalmente no Balcão do SPC, o nome "ficará limpo" a partir da negociação. O serviço é gratuito e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h (sem fechar ao meio-dia). Mais informações: telefone (54) 3209-9977 ou WhatsApp (54) 99620-2871.
- Pelo aplicativo: é possível, também, consultar pelo app “SPC Consumidor”, inserindo o CPF. O usuário tem acesso ao score, ao Cadastro Positivo, ao Certificado Digital e ao monitoramento do CPF. Pelo app, o serviço é cobrado de acordo com o plano, variando de R$ 13,90 a R$ 27,90.
Serasa
- Acesse o Serasa Limpa Nome: acesse o site do Serasa Limpa Nome ou o aplicativo da Serasa (disponível para iOS e Android). Caso já tenha cadastro, basta entrar com o CPF e a senha. Caso contrário, será direcionado para uma página de cadastro e o processo é totalmente gratuito. Basta preencher seus dados e prosseguir.
- Consulte suas ofertas de negociação: se houver ofertas de negociação disponíveis, clique em "ver detalhes" para conferir as informações sobre elas, tais como: razão social da empresa, número do contrato, produto/serviço e valor atual da dívida.
- Escolha uma opção de negociação: clique em “negociar”, para conhecer as opções de negociação disponíveis. Verifique as condições oferecidas e escolha a melhor. Caso escolha parcelar o pagamento, informe também a quantidade de prestações desejada e a data de vencimento dos boletos. No Serasa Limpa Nome, também é possível quitar o acordo via Pix.
- Gere o boleto e faça o pagamento: por fim, caso tenha escolhido pagar por boleto bancário, basta gerar o boleto e fazer o pagamento no banco, lotérica ou Carteira Digital da Serasa. Após a confirmação de pagamento do primeiro boleto do acordo, a empresa credora tem até cinco dias úteis para solicitar a retirada da dívida do seu CPF (no caso de dívida negativada). Em caso de parcelamento da dívida, é necessário manter o pagamento pontual de todas as parcelas do acordo dentro do prazo, ou a empresa poderá negativar a dívida novamente.