Diferentemente do último ano, quando produtores apontaram queda de até 50% no cultivo da uva, a safra 2024/2025 terá qualidade superior no fruto e estimativa de 700 milhões de quilos na colheita. Essa é a projeção do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Uva e Vinho.
Os 700 milhões de quilos que devem ser colhidos nesta safra representam um aumento de 45,8% em relação à última vindima, quando foram colhidos 480 milhões de quilos.
— Estamos com uma expectativa muito positiva para a safra de 2025. Neste ano, não tivemos nenhuma situação anormal durante o ciclo de desenvolvimento da uva, que é de agosto até agora, próximo da colheita. Foi o clima normal e, agora, durante a colheita, está seco. Isso ajuda a amadurecer a uva de uma forma mais consistente fazendo com que se concentre mais açúcar e sabores — explica o presidente do Consevitis-RS, Luciano Rebellatto.
A concentração de sabores e açúcares na fruta reflete nos derivados, como vinhos, sucos e espumantes. Por isso, a expectativa de vinícolas da Serra, como as cooperativas Aurora e Garibaldi, são positivas quanto à safra atual.
O gerente agrícola da Cooperativa Vinícola Aurora, Maurício Bonafé, avalia que o clima ajudou, no período do plantio e brotação, para que o fruto tenha boa qualidade:
— Todas as variedades estão com uma qualidade muito boa. O clima tem ajudado e o manejo acaba fazendo com que se extraia o máximo das características que precisamos para a elaboração sucos, vinhos e espumantes. As uvas para suco deverão ter boa cor e concentração de açúcares, as brancas viníferas com excelente nível de acidez e sanidade e as tintas também estão com boas perspectivas de qualidade.
Entre as variedades que já estão sendo colhidas, chamadas precoces, o presidente do Consevitis-RS, Luciano Rebellatto, destaca a qualidade:
— A bordô e a concord estão sendo colhidas com excelente sabor, excelente qualidade e com uma concentração de açúcares muito boa também. Estamos com todas as variedades muito boas e com uma expectativa muito boa para o ano de 2025.
Além da qualidade, o preço deve ser atrativo. No ano passado, o quilo ficou entre R$ 2 e R$ 2,10 para a variedade isabel, por exemplo. Neste ano, Rebellatto projeta que possa chegar a até R$ 2,50.
Safra para abastecer o mercado
Como a última safra foi abaixo do esperado, com quebra na produção em função de eventos climáticos, como chuvas fortes entre os meses de setembro e novembro de 2023, a colheita atual servirá para abastecer o mercado consumidor, explica Rebellatto.
— Temos uma demanda maior do que a colheita de 2024. A safra 2025 vem para abastecer o mercado. O mercado precisa dessa quantidade de uva para que seja transformada em derivados e para que isso chegue à mesa do consumidor. O número abaixo disso nos preocupa porque acaba proporcionando a entrada de produtos de outros países, um problema que já existe e nós já sofremos muito com isso — afirma.
Clima contribuiu para qualidade da fruta
Mesmo com o desastre ambiental que atingiu o Rio Grande do Sul em maio, os parreirais não foram afetados pela catástrofe. Isso porque na época as videiras estavam em dormência.
A maior parte das parreiras atingidas, em Bento Gonçalves, Cotiporã, Pinto Bandeira e Veranópolis, são das uvas americanas, usadas na produção do suco de uva. No entanto, o número não foi expressivo: foram 500 hectares, numa dimensão de 43 mil hectares.
O período mais crítico para as adversidades do clima, na primavera, foi ameno e dentro do esperado. É o que explica o pesquisador e chefe geral da Embrapa Uva e Vinho, Adeliano Cargnin:
— É um período que interfere bastante na produção, quando a parreira está florescendo. Se chove muito, ocorre bastante doença e pouca polinização. Então, baixa o número de grãos por cacho. Apesar de ter algumas chuvas no ano passado, não chegou a afetar o florescimento — explica.
Já o período entre os meses de dezembro e fevereiro é importante para a maturação do fruto. Época em que se desenvolvem os sabores de cada variedade.
— Tivemos bastante sol e noites com temperaturas mais amenas, principalmente na Serra, o que faz com que a planta acumule bastante açúcar no cacho e transforme esses açúcares em vários compostos que, depois, vão influenciar bastante na qualidade do vinho e do suco. Em aromas, sabor e nutrientes também — analisa Cargnin.
De forma geral, a avaliação do pesquisador é de uma safra de maior qualidade e com uvas mais saborosas.
— Neste ano, a gente vai ter uma qualidade de uva maior, então vai gerar um produto de qualidade melhor. Mesmo não sendo uma safra tão volumosa, a qualidade é superior e isso é que vai fazer um produto de qualidade e ser competitivo no mercado. O mais importante hoje é qualidade e não quantidade — avalia o pesquisador da Embrapa.