As vendas do comércio de Caxias do Sul voltaram a ter desempenho negativo em agosto após dois meses com registros positivos. Na comparação com julho, a queda foi de 1,9%. Se avaliado o mesmo mês do ano passado, o decréscimo foi ainda maior, de 10%. Entre as justificativas dos especialistas do setor estão as vendas aquém do esperado no Dia dos Pais e os poucos dias de frio. Os dados integram o relatório de Desempenho da Economia de Caxias do Sul, organizado pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).
A queda nas vendas acendeu um alerta amarelo, de atenção, aos lojistas, de acordo com o gerente administrativo financeiro da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul (CDL Caxias), Carlos Alberto Cervieri. O assessor de Economia e Estatística da CDL, Mosár Leandro Ness, complementou que o desempenho foi inesperado. Ness explica que os baixos números foram registrados devido a uma sequência de fatores econômicos que freiam o poder de compra do caxiense:
— A gente ainda não conseguiu repassar, nos salários, a inflação do passado. Então, há uma corrosão natural sobre a renda dos consumidores. A segunda questão é o aumento geral nos itens que estão sendo tributados, a não correção da tabela do imposto de renda, taxa de juros ainda alta. Tudo isso tira o poder de compra do consumidor. Soma-se a isso ajustes na indústria, tivemos demissões em julho e agosto. Essas demissões fortes também movimentam o mercado. Tudo isso cria um cenário que estimula pouco o consumidor a voltar a consumir.
Os relatórios divulgados detalham que os segmentos de vestuário, calçado e tecidos tiveram queda nas vendas de 8,66% no oitavo mês do ano. A baixa, segundo os especialistas, está atrelada ao inverno menos rigoroso e contribuiu para as consequência negativa para o varejo local.
A expectativa, agora, é de que com as datas de final de ano, o comércio consiga se recuperar. De janeiro a agosto, o setor está com 2,42% de crescimento. Nos últimos 12 meses, o incremento é de 5,79%.
Indústria teve crescimento de vendas
A atividade industrial de Caxias do Sul no mês de agosto cresceu 6,5% se comparada a julho. Segundo dados divulgados pela CIC, todos os componentes desse indicador foram positivos, como destaque para as vendas industriais que foram 14,4% maiores que no mês anterior.
Já o setor de serviços segue em ascensão. No mês de agosto, o crescimento foi de 6,7% em relação a julho e, quando comparado com agosto de 2022, é de 29,1%. Com estes dados, o setor apresenta ascensão de 23,5% no acumulado do ano e de 19,5% no acumulado de 12 meses. Agosto foi o sexto mês de desempenho positivo para o setor.
Agosto gerou 787 vagas de emprego em Caxias
No mês de agosto, Caxias do Sul registrou 7.936 admissões e 7.149 desligamentos, resultando na abertura de 787 empregos formais. O setor de serviços foi o que mais contratou, com 523 admissões, seguido pela indústria, com 232 contratações. Em agosto de 2023, há 161.872 trabalhadores com carteira assinada no município. Este número é o maior desde 2015, quando atingiu-se a marca de mais de 164 mil trabalhadores formais.
O integrante do Diretoria de Planejamento, Economia e Estatística da CDL, Tarciano Mélo Cardoso, explica que o atual cenário de Caxias do Sul é positivo com um crescimento considerável. Mas há uma preocupação a médio e longo prazo para os anos de 2025 e 2026, com as contas públicas do Brasil, que consequentemente, na visão de Cardoso, podem afetar a economia e o mercado de trabalho local.
— Para os anos de 2025 para 2026 é que temos que voltar a nossa preocupação. Tem a aprovação de um arcabouço fiscal que traz uma decisão de aprovação de déficit de 0,25% pra mais ou para menos. Contudo, quando a gente olha o relatório Focus (relatório semanal de mercado) já tem um déficit programado de -0,75%, ele esta fora da banda inferior, isso traz um risco de como vai ser interpretado — afirma Cardoso.
Para ele, a interpretação das consequências dessa possível dívida pode frear os investimentos. Cardoso explica que a partir do momento que há um desequilíbrio de contas públicas, com aceno de que se pretende gastar mais dentro do setor público e uma reforma tributaria em discussão, para compensar o déficit existem duas possibilidades: endividamento ou arrecadação. Para ele, as duas opções são ruins porque se necessitará aumento de juros, de inflação e de carga tributária, taxações que afetam economicamente no bolso do contribuinte e não permitem que ele gaste nos demais setores.