
Após registrar retração de 4,8% em abril, a indústria de Caxias do Sul voltou a crescer em maio. O avanço em comparação com o mês anterior foi de 5,6%. Apesar do indicador ser positivo, o dado é analisado com cautela por especialistas, economistas e empresários ligados ao setor. Os números foram apresentados nesta quinta-feira (6) e integram o relatório de Desempenho da Economia de Caxias do Sul, organizado pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).
A precaução ao avaliar o crescimento industrial caxiense tem uma explicação: para os especialistas da CIC, é preciso observar o cenário de forma mais ampla e não apenas o dado mensal de maneira isolada. Exemplo disso é que no acumulado do ano o setor registra queda de -4,4%. O desempenho negativo também figura no acumulado de 12 meses, com registro de -2,2% no período.
— Os números acumulados refletem melhor a evolução dos dados, nos dão uma visão mais clara e nos dão até uma tendência do que pode acontecer em cada um dos setores — justifica o diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC Caxias, Tarciano Melo Cardoso.
Dos cinco primeiros meses de 2023, a indústria teve performance positiva em três, sendo janeiro (0,5%), março (8%) e maio (5,6%). Em fevereiro e em abril, houve queda de -2,8% e -4,8%, respectivamente.
— A indústria está estacionada, não é uma crise, mas traz um sentimento de cautela ao fazermos operações e negócios. É uma espera do que está para acontecer, de ter um cenário mais palpável dos rumos que a economia brasileira vai tomar e do que a demanda pode nos solicitar para que possamos ter mais certezas no que investir. Todo mundo, seja pessoa física ou jurídica, vive, hoje, uma expectativa do que vai acontecer de uma reforma tributária, de como vai surgir a forma de ancorar o déficit do arcabouço fiscal... — aponta Cardoso.
O vice-presidente de Indústria da CIC Caxias, Ruben Bisi, demonstrou preocupação com o desempenho de algumas áreas dentro da indústria caxiense:
— Quando falamos em indústria, falamos de 11 setores aqui na nossa região. E o setor metalmecânico é o que está mais sofrendo, porque está ligado às máquinas e implementos agrícolas, que está com (desempenho) de -11,2% — salienta.
Já a economista da entidade Maria Carolina Gullo pondera que outros segmentos da indústria, como algumas empresas da área têxtil, estão com produção satisfatória, o que ajuda equilibrar os dados de uma forma geral:
— Em função da pandemia, muita produção foi internalizada. Temos fábricas em Caxias produzindo muito bem, não estão com cautela. Pelo contrário, estão até fazendo terceiro turno. Então, acaba que um setor compensa o outro. Não é uma crise, é simplesmente não conseguir manter um crescimento que se teve nos dois últimos anos — avalia ela.
O crescimento de maio na indústria foi puxado pelo avanço de 14,9% nas compras e 10% nas vendas. A massa salarial e as horas trabalhadas também evoluíram positivamente, com 5,6% e 0,6%, respectivamente. Por outro lado, a utilização da capacidade instalada caiu -2,8% — este componente vem em decréscimo desde março na cidade, o que demonstra que as empresas estão, a cada mês, operando abaixo da sua possibilidade, segundo os especialistas.
Comércio amarga nova queda de vendas em maio

De maneira geral, a economia de Caxias do Sul cresceu 3,7% no quinto mês do ano. Além da indústria, os serviços também contribuíram positivamente para este avanço, com acréscimo de 3,5% na comparação com abril. O comércio, contudo, apresenta desempenho negativo pelo terceiro mês consecutivo: em maio, conforme levantamento da CDL, o recuo nas vendas foi de -2,2%.
O dado é considerado preocupante, tendo em vista que nem mesmo as esperadas vendas do Dia das Mães foram capazes de trazer um alívio para o setor — dos cinco primeiros meses de 2023, apenas em fevereiro houve performance positiva na cidade.
— Tivemos um aumento expressivo em alguns segmentos do ramo mole, como o de vestuário, calçados e tecidos, de 14,44%, e que engloba alguns dos itens que mais costumam ser procurados para presentear as mães. Mesmo com um aumento de 4,1% nas vendas para a data, a queda registrada em setores do ramo duro, como de implementos agrícolas, com -9,27%, e de automóveis, caminhões e autopeças novos, de -8,20%, acabaram puxando esse índice para baixo e fazendo com que tivéssemos queda pelo quarto mês no ano — explica o assessor de Economia e Estatística da CDL Caxias, Mosár Leandro Ness.
Outra preocupação do setor é quanto ao aumento da inadimplência, classificado como um dos gargalos para que os resultados voltem a apresentar bons números nos próximos meses.
— A base de devedores teve um crescimento de 1,57% em relação a abril e de 5,75% na comparação com maio de 2022. É importante que o consumidor limpe o seu nome, tenha acesso ao crédito para que volte ao mercado, sem depender apenas de períodos sazonais, que vêm com as datas comemorativas ou com as estações mais frias — frisa o coordenador de Tecnologia, Informação e Inovação da CDL Caxias, Cleber Figueredo.
"A compra ocorre pela real necessidade", diz diretor de confecção infantil

Embora esteja inserido na cadeia têxtil, o diretor da empresa caxiense Dedeka, Sérgio Moacir da Rosa, também prega prudência quando o assunto é o desempenho econômico da atividade em 2023. Isso porque ele projeta, até o fim do ano, uma queda de 15% no faturamento da empresa em comparação com 2022. O motivo principal para esta redução está ligado ao fator climático, segundo Rosa.
— As duas primeiras necessidades do ser humano são comer e vestir. Mas o que tem acontecido nos últimos anos é que a compra ocorre pela real necessidade. Se faz frio, os pais deixam de comprar para eles, mas vestem a criança. Vão até as lojas e compram peças novas, repõem. Agora, se não tem uma temperatura mais baixa, vai se levando com o que tem e se deixa para investir no próximo ano — pondera o diretor da confecção infantil.
A empresa atende tanto lojistas, por meio de representantes, como também o consumidor final, via e-commerce, com produtos infantis como pijamas, bermudas, biquínis, roupões, pantufas e macacões. O quadro de funcionários atualmente é composto por 95 pessoas.
Exportações e importações registram crescimento
As exportações e as importações de Caxias do Sul tiveram aumento em maio na comparação com o mês anterior. As exportações avançaram 14,5%, enquanto que as importações cresceram 33,1%. Já o saldo da balança comercial sofreu diminuição de 15,3% no período.
No destino das exportações caxienses em maio, os Estados Unidos se situam na primeira posição, seguidos por Chile, Argentina, Uruguai e México. Já entre os países de origem das importações caxienses, a China se mantém na liderança, seguida por Itália, Alemanha, Estados Unidos e Japão.