O maior município da Serra gaúcha segue a tendência do Estado e contribui para que o Rio Grande do Sul esteja acima da média nacional em número de farmácias. De acordo com a Receita Federal, são 248 CNPJS ativos em Caxias do Sul, o que representa a média de um estabelecimento para cada 2 mil habitantes.
Em âmbito estadual, de acordo com o Conselho Regional de Farmácias (CRF), o setor registrou crescimento de 6% em 2022 e fica acima dos padrões de concentração deste tipo de negócio. Os gaúchos contam com 50 farmácias ou drogarias para cada grupo de cem mil habitantes.
O índice é superior às taxas vistas nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O levantamento Saúde em Resumo 2021: Farmacêuticos e Farmácias, produzido pela entidade, que reúne as principais economias do mundo, indica que somente a Grécia conta com uma proporção mais elevada do que o Rio Grande do Sul. A média geral dos filiados ao organismo internacional é de 28 farmácias por cem mil habitantes.
A consolidação de um novo perfil de negócio, que oferta cada vez mais produtos e serviços, é apontada como um dos motivos que têm feito os caxienses presenciarem a aparição de novos estabelecimentos. E na grande maioria dos casos instalados em redes de varejo que têm dominado o mercado.
O CRF, através do vice-presidente, Tarso Bortolini, reconhece que o aumento do número de filiais acaba prejudicando as pequenas farmácias individuais.
— Não conseguem concorrer com a capacidade de investimentos das redes. A alternativa é por meio da ampliação dos serviços oferecidos por seus farmacêuticos, que irão fidelizar e criar uma relação de confiança com os usuários de medicamentos e produtos para a saúde — relata Bortolini.
E é essa a aposta de umas farmácias mais tradicionais de Caxias do Sul. Instalada há 40 anos na esquina da Avenida Júlio de Castilhos com a Rua Marquês do Herval, a Farmácia Central mantém desde a inauguração um ambulatório que aplica injeções, afere a pressão arterial e oferece testes de glicose e covid. O estabelecimento, muito pela posição privilegiada do ponto do negócio, resiste à concorrência de grandes redes pelas mãos dos irmãos Francisco e Luis Grazziotin. Proprietários do ponto, a dupla admite que a compra de remédios online e a abertura de farmácias, principalmente nos bairros, fizeram o movimento diminuir com o passar dos anos.
— A farmácia independente passa por dificuldades em função das grandes redes que vieram de São Paulo e também do Estado. A cidade cresceu e chegou em um ponto que os bairros se tornaram pequenas cidades, e essas redes se instalaram ali. O e-commerce pegou uma fatia do mercado muito grande após a pandemia, quando as pessoas se habituaram a comprar online. Estamos pensando seriamente em investir neste modelo de venda — explicou Grazziotin.
Sem precisar sair do bairro ou sequer de casa para comprar remédios, os produtos oferecidos pelas drogarias estão cada vez mais à mão do consumidor. No entanto, ser atendido pelo dono do estabelecimento é situação cada vez mais rara de quem vai até a farmácia.
— Estamos aqui porque gostamos e não queremos parar de trabalhar, mas o público que vem aqui também gosta de nos encontrar — disse Francisco, que não abre mão de manter o atendimento 24h por dia, sete vezes por semana, outro diferencial do negócio.
— Estamos atendendo há 40 anos durante a madrugada, já perdemos pela concorrência de preço e por vários pontos que abrem, não podemos perder o que já está consolidado — contou.
Mercado de Trabalho aquecido
A presença de drogarias cada vez mais perto uma das outras atenta para a necessidade de profissionais. E a qualificação de novos farmacêuticos entra no radar das universidades, que, segundo o CRF, formam cerca de 18 mil profissionais por ano no país. A graduação, ofertada atualmente por 1.058 polos de Ensino à Distância (EAD) e 751 cursos presenciais, é acompanhada pelo conselho que rege à profissão e acende o alerta para cursos que utilizem carga excessiva da ferramenta EAD.
— Ressaltamos os problemas como a precarização da qualidade, contradições com as diretrizes curriculares, mercantilização do ensino e o não reconhecimento do mercado de trabalho. Nesse sentido, afirmamos que o EAD não é modalidade, é uma ferramenta de ensino — afirmou Tarso Bortolini.
Na Universidade de Caxias do Sul (UCS), o curso presencial forma até 25 alunos por ano e, segundo a coordenadora Melissa Schawanz, tem 100% de empregabilidade ao final da formação.
— O mercado está muito aquecido, temos uma necessidade muito grande de farmacêuticos, inclusive recebendo muitos de outras regiões. A concentração de profissionais de Minas Gerais, do Amazonas e da Região Nordeste é altíssima no Estado — contou Melissa.