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Uma casinha de bonecas e um trenzinho para os irmãos Guilherme e Adriana brincarem deram origem a um dos mais tradicionais pontos turísticos de Gramado. Trata-se do Mini Mundo. O avô de Guilherme e Adriana, Otto Höppner, um alemão que imigrou para o Brasil junto com a esposa brasileira Ritta, construiu em 1979 uma casa de bonecas para a neta.
A gente nunca imaginou que o Mini Mundo chegaria ao tamanho que tem hoje
JUSSARA HÖPPNER
Diretora do Mini Mundo
No ano seguinte, viajou para a Alemanha com o neto, onde comprou um trem circular para ser instalado ao ar livre. Nessa viagem, ambos se fascinaram por uma cidade em miniatura no país europeu, o que deu origem à ideia de fazer algo semelhante em Gramado. No ano seguinte, a família volta à cidade miniatura alemã em busca de inspiração. É também naquele ano que era construída a primeira réplica: do Castelo de Neuschwanstein, localizado no sul da Alemanha.
A partir daí, vieram as outras miniaturas e uma história símbolo do turismo na Serra. É essa trajetória que foi homenageada na Festuris, realizado entre 3 e 5 de novembro, em Gramado. A diretora do Mini Mundo, Jussara Höppner, 74 anos, mãe de Guilherme e Adriana e nora de Otto, recebeu o Troféu Amigos do Festuris, na quinta-feira (3), e o Troféu Silvia Zorzanello, no sábado (5), também no evento, mas concedido pela Câmara de Vereadores do município. Nesta entrevista, ela comenta sobre a surpresa em receber as homenagens e comemora a história bem-sucedida da família, que a empresária define como uma grande e deliciosa aventura.
Junto com o seu sogro, o Sr. Otto, e o restante da família, a senhora ajudou erguer a primeira grande réplica do Mini Mundo, o Castelo de Neuschwanstein, no início da década de 80. Qual é o sentimento de ver o Mini Mundo, que a senhora acompanhou desde o início, ser hoje um dos principais símbolos do turismo na região das Hortênsias?
Jussara: Não ajudei fisicamente a fazer, mas dei muito apoio moral, ajudei a procurar material, mas quem construiu foi o seu Otto, que era meu sogro, e o meu marido, que é o Heino. Isso foi no início dos anos 1980, quando o Mini Mundo recém tinha começado. A princípio, ele foi erguido para ser um entretenimento para nossos filhos, que eram pequenos. A gente queria fazer uma coisa pequena, mas que também, quando crescesse, ficasse para uso dos hóspedes do Hotel Ritta Höppner, que é nosso também. A gente recebia sempre muitas famílias, muitas crianças e, com certeza, sabia que iam aproveitar muito, porque brincavam muito com as nossas crianças. Aos poucos, isso foi crescendo mais do que a gente esperava e nos obrigamos a fazer daquele parque, que havíamos construído inicialmente para nossas crianças, uma empresa. Porque precisava de uma estrutura, de banheiro, até de um controle para que as pessoas não destruíssem essas peças. Aí, a gente cercou e construiu aquela entrada e, aos poucos, a gente foi profissionalizando esse trabalho. A gente nunca imaginou que o Mini Mundo chegaria ao tamanho que tem hoje. Mas, como tudo na vida, as coisas vão se modificando, crescendo, evoluindo e, hoje, realmente é um dos símbolos do turismo aqui da região.
Como foram os primeiros passos para realizar este sonho do Mini Mundo?
Jussara: No começo, foi acontecendo na medida do espaço que a gente tinha. Depois, a gente visitou na Alemanha uma cidade em miniatura, que foi nosso modelo inicial. Lá, a gente sentiu que era possível e era um desafio construir alguma coisa na mesma linha. Então, começamos a planejar dentro do que era possível se fazer por aqui, com o material que tinha por aqui também. Utilizou-se canos de plástico, canos de cobre, material de luminosos que nossos amigos até guardavam para dar, que eram materiais que resistiam à temperatura e à chuva. Isso foi no começo do Mini Mundo e, depois, a gente foi pesquisando e chegando a materiais melhores, que, além de terem uma durabilidade maior, permitiram uma perfeição de detalhes maior. E foi crescendo, não para de crescer, tem projetos de mais três anos pela frente. Então, é uma vivência, uma aventura muito gostosa.
Como era o turismo na Região das Hortênsias naquela época?
Jussara: Pela estrutura de Gramado, já era bastante, porque Gramado sempre teve uma natureza muito bonita, muito semelhante à Baviera. Então, quem conhecia ou quem era de outros lugares ou tinha uma residência acabava vindo para cá pelo clima, pela natureza. Aqui, já tinha o Lago Joaquina Bier, o Lago Negro e tinha a (Cascata) do Caracol (em Canela). Então, uma cidade completava a outra. Tinha muita flor. Os jardins eram lindos, lindos. E o Mini Mundo chegou encantando, porque fazia parte daquele cenário, com aquela casinha de boneca, com os anões, com o próprio hotel.
Então dá para dizer que o Mini Mundo foi um dos empreendimentos precursores do turismo da região?
Jussara: Eu acredito que sim. Por isso também foi difícil a gente conseguir uma valorização disso até pela comunidade, pelas pessoas que visitavam. A gente cobrava Cr$ 1, na época, nem sei quanto é hoje, mas era tipo R$ 0,50. Era eu mesma que cobrava no portão. A gente cobrava só para que as pessoas valorizassem as obras e o trabalho que estava sendo feito. Então, demorou um tempo, porque os visitantes não estavam acostumados com esse tipo de trabalho. Mas, aos poucos, eles foram entendendo, foram valorizando e hoje não temos mais problemas com isso.
Tudo no Mini Mundo é rico de detalhes, como é o trabalho para manter sempre perfeito, mesmo após tantos anos?
Jussara: É uma delícia, porque a gente está sempre renovando as réplicas. Elas já são feitas com um produto com uma durabilidade maior, mas também tem muito mais perfeição nessa parte mais detalhada do projeto. Hoje, eles obedecem, rigorosamente, as medidas tanto da área do projeto, do prédio, como dos detalhes das pinturas. Alguns chegam ao extremo de ter dentro daqueles terraços o teto com as mesmas pinturas que existem no original, como é o Palácio de Mônaco. O Palácio de Mônaco tem um terraço com várias pinturas que contam a história do principado e aqui no Mini Mundo também tem. Então, as pessoas não conseguem ver diretamente, mas se elas se abaixarem, conseguem enxergar. Esses detalhes, isso tudo que a gente sabe que existe, cada prédio foi uma história para conseguir... Isso tem um valor imenso para nós.
E quem é a equipe que cria com tanta perfeição estas réplicas? A família ainda participa de que forma nisso junto com a equipe?
É uma vivência, uma aventura muito gostosa
JUSSARA HÖOPPNER
Diretora do Mini Mundo
Jussara: A gente (família) participa na procura dos prédios que mais se adaptem ao contexto do Mini Mundo, em que ele procura mostrar uma verdadeira cidade, onde tudo é perfeito. As pessoas são os mais de 4 mil mini habitantes, incluindo mulheres grávidas, crianças, adultos, velhos, catadores de lixo, tem todas as profissões... Eles são modificados à medida que acontecem coisas na cidade. Por exemplo, na pandemia, todos os mini moradores usavam máscaras de cores diferentes. Então, é muito dinâmico, como é o nosso mundo.
E qual é a equipe que trabalha com vocês?
Jussara: Hoje, nós temos um prédio onde é a oficina, onde é o escritório, o setor de planejamento e desenho. Ali dentro trabalham cerca de 20 pessoas. De manhã, todos os dias, uma parte dessas pessoas vai até o parque e faz uma vistoria, uma limpeza em todas as miniaturas, todos os cenários. E adoram fazer isso, porque se sentem pertencentes àquele mundo também, só que são maiores. Eles são os gigantes desta história.
O espaço surgiu mais para as crianças brincarem, mas os turistas que se hospedavam no hotel ficavam fascinados pelas miniaturas. A senhora entende que o Mini Mundo se tornou o que é por causa do hotel? E o hotel também incrementou o movimento por causa do Mini Mundo?
Jussara: Existe uma filosofia familiar que é a mesma: trabalhar com muito amor, procurar fazer todos os dias o melhor que a gente puder. Isso marca e acaba contagiando tanto o Mini Mundo pelo hotel e o hotel pelo Mini Mundo. Então, não sei dizer qual local se beneficiou mais com o outro, porque um completa o outro. Hoje, o hotel está bem maior, mas continua com o mesmo estilo familiar. Até por conta de eventos, a gente tem uma capela, que é uma réplica da Itália. Então, a primeira parte do hotel é também o mundo das grandes réplicas, porque cada chalé tem uma arquitetura própria. Tem um chalé que é uma cópia francesa, outro é da Suíça, tem da Bavária, da Áustria. O restaurante também é todo em estilo alemão. A gente procura diversificar tudo isso para atender a todos os gostos. Afinal, os nossos hóspedes e visitantes se tornam nossos amigos. Então, a gente tem hóspedes de mais de 60 anos. O hotel completou agora 64 anos. O Mini Mundo completa em dezembro do ano que vem 40 anos. Então, tem grandes obras previstas.
E quais são os projetos para o Mini Mundo?
Jussara: Recentemente, a gente abriu uma área que fica em cima da nova entrada e ali foi colocada uma réplica de Salvador, onde tem o palácio do Governo, o Elevador Carlos Lacerda... Ele fica atrás do Museu do Ipiranga. Tudo tem de ser composto conforme a topografia do terreno. Alguma coisa a gente vai modificando, mas, principalmente, a gente mantém o que puder de árvores. Mudamos projetos para preservar a vegetação, principalmente a nativa, para que a pessoa chegue aqui e não encontre uma cidade, mesmo que seja em miniatura, árida. A gente procura fazer com que o visitante se transporte para uma realidade diferente. Está entrando até fevereiro uma parte do Rio de Janeiro. Nada de óbvio. Não é o Pão de Açúcar, não é o Cristo Redentor, mas tem o Teatro Nacional e coisas muito bonitas... Entrou o Pelourinho, acabando de compor a parte da Bahia. Então, está sempre evoluindo, sempre com novidades.
Como vocês fazem a definição de novos atrativos?
Jussara: Uma pesquisa que é feita. Depois, é avaliada por um grupo de pessoas, pela família também. Cada prédio, a gente vai atrás de toda a documentação. A gente tem muitos que são sugestões dos visitantes. Por exemplo, o Palácio de Mônaco foi sugerido pela Luciana de Montigny, que é uma brasileira consulesa em Mônaco. Ela chegou aqui e ficou encantada com o Museu Paulista pela perfeição e pediu muito da possibilidade de se fazer (o Palácio de Mônaco), e a gente acabou, depois de muitas conversas e idas e vindas, fazendo o Palácio do Principado de Mônaco, que foi uma escolha do príncipe de Mônaco, o Albert. Então, a gente foi recebido por ele. Tudo é uma aventura.
É uma honraria que recebo representando a família, o trabalho do hotel, o trabalho do Mini Mundo
JUSSARA HÖPPNER
Diretora do Mini Mundo
Por ser uma das protagonistas desta história precursora, como a senhora se sente ao ver estas cidades das Hortênsias recebendo milhões de turistas?
Jussara: A gente fica feliz que Gramado está sendo reconhecida. Tudo com muito bom gosto. Gramado é uma cidade realmente única, realmente fora do normal, porque tudo é muito bem feito. As pessoas daqui sabem receber muito bem e têm a consciência de que vivem do turista. Isso é muito importante, porque a pessoa não pode trabalhar só porque tem de trabalhar; ela deve trabalhar porque gosta ou então muda de trabalho. Então, é uma filosofia que Gramado construiu aos poucos e está dando certo.
E como se sente ao ser contemplada com o Troféu Silvia Zorzanello, honraria concedida anualmente para quem se destaca no desenvolvimento do meio turístico em âmbito nacional?
Jussara: Eu fiquei muito honrada e surpresa, porque eu acho que a gente só trabalhou esse tempo todo pelo turismo, mas não para ser mencionado em alguma coisa. É uma honraria que recebo representando a família, o trabalho do hotel, o trabalho do Mini Mundo, que vem desde o seu Otto e a dona Ritta, minha sogra que faleceu muito jovem. Acho que o trabalho deles foi, talvez, o mais difícil, porque chegaram aqui quando não tinha nem rua, estrada na frente. Então, eles foram os que trabalharam mais duro sem ter segurança e garantia de um retorno disso tudo. Eram imigrantes e colocaram toda a sua energia, todo o seu esforço acreditando em um turismo que talvez não viesse. A gente se espelha muito neles. A gente se sente sempre muito grato ao que a gente aprendeu e a tudo o que a família toda segue até hoje. Já tem até a quarta geração que trabalha ali dentro. E eu estou muito feliz também em poder representar, porque esse trabalho está sendo valorizado pela comunidade que foi quem escolheu a pessoa que vai receber esse prêmio. E também recebo o prêmio Amigos do Festuris. Eles, a cada ano, escolhem empresas e pessoas que deveriam receber esse troféu. Estou bem feliz com isso. Não queria aceitar, mas no fim, eu disse: é uma honra muito grande que a gente não pode fugir.