
A falta de chuvas tem antecipado a colheita de algumas variedades de frutas em Caxias do Sul. Na propriedade de Norberto Boff, em Ana Rech, os pêssegos, que deveriam ser colhidos na metade de janeiro, já começaram as ser retirados dos pés. Foi a alternativa para evitar que a produção fosse totalmente perdida. Conforme Boff, as frutas estão pequenas e verdes ainda.
— Se pudesse esperar, ia colher uma fruta bonita, de primeira, e agora estou colhendo de segunda, feia. Onde eu colheria 10 quilos por pé de fruta bonita, vou colher três de fruta miúda — lamenta o agricultor, estimando uma safra total de, no máximo, cinco toneladas de pêssego quando o normal seriam 20 toneladas.
A colheita da ameixa também precisou ser antecipada na propriedade de Boff. No caso da pera e do caqui, culturas mais tardias, ele vai aguardar. Mas se não chover logo, há risco de que as duas variedades também sejam afetadas:
— Já passei por pedra (granizo), geada, mas seca assim nunca, é fora do comum.
O produtor estima um prejuízo até agora de 70%. O percentual pode aumentar dependendo do comportamento do clima daqui para frente. Boff não sabe como irá lidar com as perdas já que não tem reserva de emergência:
— Não se ganha muito e os insumos são muito altos (custos). Vai ser bem complicado — projeta, acrescentando que ainda não há falta de água para o consumo da família porque estão economizando.
Segundo o secretário da Agricultura, Rudimar Menegotto, a situação em Caxias é crítica porque são três anos consecutivos de chuvas irregulares e abaixo da média. Desde o início de outubro e até a tarde de terça-feira (28), o que corresponde a quase três meses, choveu 204,5 milímetros em Caxias do Sul. O dado foi registrado na estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), instalado no aeroporto Hugo Cantergiani. Para se ter uma ideia da estiagem, a média mensal de chuva na região é de 120 milímetros.
— As pastagens estão secas sem alimento para os animais. Vamos ter redução na produção de leite também — frisou Menegotto durante entrevista ao Gaúcha Hoje nessa manhã.
Ainda conforme Menegotto, há relatos de produtores que precisam optar por qual lavoura irrigar diante da escassez de água. Algumas produções estão sendo abandonadas para garantir a irrigação de outras.
— Hoje a preocupação é que venha chuva, mas não granizo, o que iria piorar a situação — completou.
Os estragos causados pela estiagem prolongada no interior de Caxias estão sendo levantados para embasar um provável decreto de emergência da prefeitura. Os dados, buscados pelas subprefeituras junto aos produtores rurais, devem ser apresentados à administração municipal na próxima segunda-feira (3). O objetivo é comprovar que a falta de chuva causa danos ao abastecimento humano.
A previsão do tempo
A estiagem é causada pelo La Niña, que resfria as águas do Oceano Pacífico e altera o calor e a umidade em diversas partes do mundo. No último dia 16, o Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs) divulgou que a probabilidade do fenômeno climático permanecer até o final do verão está acima dos 80%, considerando-se os modelos de previsão para definição do evento El Niño Oscilação Sul (ENOS) do International Research Institute for Climate and Society (IRI). Para janeiro e março, a previsão é que a chuva se mantenha próxima da média na Serra. Para fevereiro, a tendência é de que fique abaixo da média.