A rede hoteleira da Serra projeta para os próximos meses recuperar os prejuízos do segmento, um dos mais impactados pela pandemia. A perspectiva baseia-se em uma série de motivos que se desenham no horizonte: alta temporada por causa do frio, fim do antigo modelo de distanciamento controlado no Estado e avanço da vacinação contra o coronavírus.
Na Região das Hortênsias, que tem cerca de 35 mil leitos, concentrados principalmente em Gramado e Canela, a reação do setor já ocorre, em especial nos finais de semana. É o que diz o presidente do Sindicato Patronal da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias, Mauro Salles, explicando que mudou o perfil dos hóspedes.
Atualmente, a maior ocupação é de moradores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com alta renda. Mauro diz que Isso ocorre devido à dificuldade de deslocamento aéreo, o que diminui o fluxo de outros Estados como ocorria antes da pandemia, e à dificuldade de sair do país, o que faz com que o público que costumava viajar ao Exterior agora prefira destinos nacionais.
— Estamos em um período de retomada depois daquele pico de casos da pandemia. Agora, estamos sentindo que o turista está mais confortável para viajar, principalmente, no final de semana. A maior parte dos hotéis está atingindo o limite de 50% ou ficando próximo — comenta Salles, ao justificar que a projeção do setor é por uma movimentação mais acentuada no feriado de Corpus Christi e no Dia dos Namorados.
A expectativa do setor hoteleiro na Serra também se relaciona ao fim do modelo de distanciamento social, porque a perspectiva é a de que o governo estadual flexibilize o percentual autorizado para a utilização das estruturas. Na bandeira vermelha, em que o RS está hoje, a capacidade de atendimento varia de 30% a 75% (veja abaixo). Com o novo sistema, que deve entrar em vigor até sábado (15), a taxa de ocupação liberada poderá ficar entre 60% e 75% — o maior percentual é para quem tem o selo Turismo Responsável, do Ministério do Turismo, que atesta o respeito aos protocolos.
No entanto, a diretora executiva do Sindicato Empresarial da Gastronomia e Hotelaria da Região Uva e Vinho (Segh), Márcia Ferronatto, salienta que a maior procura dos turistas vai depender também da liberação de outras atividades. A região, que abrange 20 municípios com 10mil leitos instalados — a maior parte em Caxias do Sul e Bento Gonçalves —, fechou março com menos de 10% da capacidade ocupada e, de acordo com Márcia, os dados ainda em contabilização de abril devem permanecer em um patamar semelhante. Se houver uma maior circulação de pessoas, Márcia diz que os próximos meses poderão ser mais rentáveis.
— A questão do frio, para nós, tem uma chamada. Então, estamos na expectativa, mas ainda não impactou. Acreditamos que daqui para a frente deve ter mais procura. Outra questão é que essa incerteza do que vai estar aberto e fechado, deixa o turista inseguro para se programar. Precisamos de previsibilidade. Abrir um dia e fechar no outro, para o turismo, é complicado — protesta Márcia.
Ocupação permitida nos hotéis no atual modelo de distanciamento
Conforme os protocolos da bandeira vermelha no Modelo de Distanciamento Controlado, em bandeira vermelha é permitido:
::Estabelecimentos sem o Selo Turismo Responsável do Ministério do Turismo: 30% de lotação.
::Estabelecimentos com Selo Turismo Responsável do Ministério do Turismo: 50% de lotação.
::Estabelecimentos com até 10 habitações/unidades isoladas (chalés, apartamentos isolados e similares, com banheiros exclusivos e refeições independentes e/ou agendadas): 50% de lotação.
::Hotéis e similares em beira de estrada: 75%.
Bento Gonçalves reduz em 40% o número de turistas
O cenário dos hotéis é um recorte da dificuldade enfrentada por todo o setor. Dados divulgados ontem, pela prefeitura de Bento Gonçalves, revela a queda expressiva no número de visitantes, no primeiro trimestre deste ano. De janeiro a março, 199mil turistas estiveram no município, contra 331mil em igual período do ano passado. É uma queda de 40%.
O levantamento da Secretaria Municipal do Turismo também aponta como a bandeira preta impactou os hotéis. Os dois primeiros meses do ano fecharam com uma ocupação próxima dos 41%. As regras mais rígidas, que passaram a vigorar na região no final de fevereiro, fizeram essa taxa baixar para 10,6% em março.
Outro dado mostra um movimento igual ao percebido pelo setor hoteleiro na Região das Hortênsias, com predomínio de visitantes do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. De cidades gaúchas, partiu metade dos turistas de Bento no primeiro trimestre, enquanto outros 15% eram do Estado vizinho. O restante se dividiu entre as demais regiões do país.
Menos turistas, mas gasto médio é maior em Gramado
No Hotel Giardino Di Pietra, localizado na entrada de Gramado, os protocolos mais flexíveis são a esperança da retomada do movimento mais intenso. A diretora financeira da empresa, Ana Camila Bazzan Augsten, conta que no período de fechamento das atividades econômicas, em bandeira preta, impactou a ocupação dos hotéis.
—Agora tem um fluxo menor de pessoas, mas com turistas dispostos a gastar mais — constata.
Apesar disso, Ana diz que, ainda não foi possível compensar as perdas acumuladas ao longo da pandemia. No entanto, a previsão é de que os próximos meses sejam mais promissores.
— Estamos com o hotel lotado, dentro do que podemos ocupar. O que está diferente em relação a fevereiro e março, quando fechou por causa da bandeira preta. As pessoas estavam um pouco acuadas. Agora, já percebemos uma volta à normalidade. Como as pessoas estão bem cansadas em função da extensão da pandemia, eu acho que o movimento vai ocorrer de qualquer jeito. Com o frio, claro, fica muito bom para Gramado.