
Na terça-feira (6), cadastrados aprovados para a segunda rodada do auxílio emergencial nascidos em janeiro começaram a ter acesso à primeira das quatro parcelas que serão pagas entre abril e agosto de 2021, conforme calendário estipulado. A medida tem como objetivo oferecer proteção econômica durante a crise sanitária e retoma os repasses que ocorreram em 2020, com parcelas que iniciaram em R$ 600, depois foram estendidas para R$ 300. Neste ano, variam entre R$ 150 (para pessoas que moram sozinhas) a R$ 375 (para famílias monoparentais dirigidas por mulheres). A média do benefício fica em R$ 250, valor destinado a famílias com dois ou mais integrantes. Mas, o que fazer com R$ 250?
Em Caxias do Sul, o valor não dá conta de cobrir os 47 produtos considerados na cesta básica calculada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes) da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Em último levantamento realizado pelo instituto, referente aos preços de janeiro, o "rancho" para uma família de aproximadamente três pessoas estava em R$ 998,62. Ainda que uma família seja beneficiada com o teto do auxílio federal — os R$ 375 mensais —, o valor representa 35% de uma cesta completa.
Outro item básico, o gás de cozinha, chegou a custar R$ 95 em algumas revendas da cidade no mês de março. Conforme última atualização do Sistema de Levantamento de Preços (SLP) da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o valor médio do botijão convencional, de 13kg, está em R$ 86,07 na cidade. Este valor ocupa mais da metade (57,38%) dos R$ 150 destinados a beneficiários que vivem sozinhos; 34% da parcela de R$ 250; e 22% da parcela de R$ 375.
Margarete Maciel da Silva, 47, é uma das caxienses aprovadas para a segunda rodada do programa. A partir de quinta-feira (15), ela vai poder sacar a primeira do benefício e ainda está em dúvida de como vai utilizar o valor de R$ 150 que considera baixo perante as despesas que possui.
— É uma vergonha este valor. Moro em apartamento financiado e, com este valor, não consigo pagar nem o condomínio, que custa R$ 170 — observa a cabeleireira que, mesmo quando autorizada a trabalhar, no modelo de distanciamento controlado do Estado, tem visto o número de clientes baixar desde o ano passado.
Ela mora com o marido no bairro Nossa Senhora das Graças e diz que tem compensado ajudá-lo no agendamento dos fretes que realiza do que deslocar-se até o salão com a baixa clientela.
— Gasto R$ 40 só de transporte para ir e voltar do salão, que fica no Cristo Redentor, então muitas vezes não compensa o deslocamento — comenta Margarete.
A proprietária diz que não paga aluguel no estabelecimento mas que, mesmo mantendo ele fechado, precisa arcar com as taxas fixas de luz e água, que totalizam R$ 87. Se somadas estas despesas e a conta de luz de sua casa, que gira em torno de R$ 90, a parcela do Auxílio Emergencial também não é suficiente.
Ela e o marido chegaram a receber parcelas de R$ 600 do benefício e depois de R$ 300 em 2020. Margarete relata que o repasse foi imprescindível em um momento no qual ela precisou parar de trabalhar, em função da pandemia. Paralelo a isso, o Seguro Desemprego que seu marido estava recebendo chegou ao fim, ainda no mês de maio, e foi o benefício emergencial que salvou as contas enquanto ele se estruturava na profissão autônoma.
— A gente conseguiu organizar isso e deu pra se manter mesmo sem o auxílio, mas como eu ainda estou praticamente sem trabalhar, ele continua sendo importante — destaca a beneficiária.
No fim das contas, Margarete afirma que a primeira parcela que retirar, provavelmente voltará para a União. Ela e o marido são Microempreendedores Individuais (MEI) e mensalmente arcam com o valor de aproximadamente R$ 42 cada um para manter a formalização em dia, totalizando R$ 84.
— Pelo menos consigo pagar o imposto, é o que dá pra fazer — conclui.
A listagem de beneficiados por cidades ainda não foi divulgada pelo Governo Federal, mas a segunda rodada do Auxílio Emergencial chegará a 45,6 milhões de brasileiros, sendo que, em 2020, foram 68,2 milhões de beneficiados. A limitação de um beneficiado por família contribuiu para esta redução. Confira o calendário de pagamento da primeira parcela.