
Exportar e importar não se enquadram em uma mera relação comercial de compra e venda. São muitos fatores que influenciam na dinâmica do mercado externo, desde os mais comuns, como cotação, até os mais complexos, que envolvem conjunturas políticas e até imprevistos, como é o caso do coronavírus, cujos efeitos iniciados na Ásia já impactam, gradativamente, em setores econômicos no mundo todo _ embora ainda não na região.
Na Serra, a balança comercial lida com suas particularidades. Em 2019, Caxias do Sul, por exemplo, teve o pior índice de faturamento de exportações dos últimos 10 anos, enquanto municípios como Farroupilha, Bento Gonçalves e Flores da Cunha obtiveram desempenhos sólido. No ano passado, Caxias gerou aproximadamente US$ 685 milhões em vendas para outros países, valor mais baixo desde 2009 (US$ 632 milhões).
— Tem muito a ver com segmento. Nosso carro-chefe (de Caxias) é metalmecânico e sofreu bastante nos últimos tempos, pois os nossos principais mercados entraram em crise — avalia a diretora de Negócios Internacionais da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Denise Gallio.
O impacto mais significativo para o maior município da Serra foi a consolidação da perda da Argentina como um dos principais parceiros comerciais. Entre 2017 (ano de melhor índice) a 2019, o país vizinho caiu da primeira colocação como destino das vendas das empresas caxienses para a quarta posição, passando de 18,95% para 6,50% em representatividade do bolo de exportações, segundo dados divulgados pela CIC. Como substituto, o Chile surgiu em alento, mas também é considerado um parceiro frágil na atual conjuntura.
É possível, no entanto, não ficar suscetível a conjunturas? Na opinião de Denise Gallio, um dos problemas para o desamparo de muitas empresas é a comodidade.
— A gente se acomoda muito. Mas o Mercosul não está indo para frente e muito menos a Argentina. Temos de buscar novos mercados. Caxias tem grande potencial para vender em outros países, temos de desacomodar. Há problemas de produtividade, de custo de logística, mas temos de trabalhar juntos para superar esses desafios e não ficar só reclamando e esperando a Argentina melhorar. É uma cultura que precisa mudar — sugere Denise.
Balança comercial
Em importações, Caxias registrou em 2019 total de mais de US$ 415 milhões, maior valor desde 2014 (em torno de US$ 442 milhões). No saldo da balança comercial (resultado da subtração entre exportações e importações) , o município contabilizou US$ 267,4 milhões, menor valor dos últimos 10 anos. Nem por isso trata-se de um dado negativo — afirma o assessor de Economia e Estatística da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias (CDL), Mosár Ness.
— De um ponto de vista teórico moderno de economia, é preferível ter até certo déficit, importar mais, se o que se está comprando não são produtos de consumo, mas sim insumos para produzir e renovar seu parque fabril, e esse déficit posteriormente pode ser compensando com superávit do faturamento. No lado da balança comercial, se fechássemos zero a zero não significaria algo necessariamente ruim, pois significa investimento —destaca.
Os principais destinos das exportações caxiense em 2019 foram, respectivamente, Chile, EUA, México, Argentina e China. Já nas origens das importações destacaram-se China, EUA, Itália, Alemanha, Suécia e Índia.





Acordos bilaterais, via de mão dupla
Com a política assumida de abrir fronteiras alfandegárias, o governo federal já encaminha diversos acordos comerciais com blocos econômicos e países de diferentes continentes, entre os quais os pertencentes à União Europeia, Oriente Médio e Ásia. Embora a estratégia seja atrativo à primeira vista, a empolgação exige também cautela:
— São mercados bons para nós e que têm potencial, mas é uma via de duas mãos. Eles vão vir com tudo também. Tem mercado lá, mas tem mercado para eles aqui também. A abertura comercial é importante, mas é preciso se preparar. Por isso temos de cobrar as questões do governo que nos torne competitivos e acabarmos não prejudicando a nós mesmos até internamente — ressalta a diretora de Negócios Internacionais da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Denise