Marco Antônio Barbosa, especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil
A discussão atual sobre a reforma tributária incide diretamente na capacidade e no custo de produção brasileira e, consequente-mente, no crescimento do PIB do país. Entretanto, outro fator importantíssimo para o desenvolvimento econômico, que precisa ser discutido com a mesma seriedade, é a diminuição da violência. A falta de segurança do empresário — seja por roubos de cargas ou assaltos nas fábricas e empresas — traz consigo um número longe de ser irrisório e que constitui um real desfalque aos bolsos do consumidor interno: o custo de produtos aumenta em até 20% em razão das frequentes ocorrências desta natureza.
Segundo a CNT (Confederação Nacional do Transporte), em levantamento anual da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística) — consolidado por meio do cruzamento de dados da Polícia Civil, da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal —, o crime organizado e a “indústria” dos roubos de cargas nas rodovias brasileiras foram responsáveis por mais de 22 mil ataques no país em 2018. A ação de associações criminosas especializadas em roubo e receptação de cargas gerou um prejuízo de quase R$ 2 bilhões. No ano passado, segundo as primeiras estimativas do governo, os registros devem cair um total de 23%, fechando em 18 mil roubos em todo o país. Ainda assim, a estatística é alarmante: a média é dois assaltos por hora. Destes, mais de 80% estão concentrados na Região Sudeste, maior e, por enquanto, mais desenvolvido polo industrial do Brasil.
Somam-se a esse prejuízo bilionário os investimentos em segurança particular feitos pelas empresas, que precisam garantir a salvaguarda de seus patrimônios. Quem paga essa conta? O consumidor. Além dos impostos embutidos no custo final, o valor aumenta pela insegurança, geradora de gastos extras fixos que inflacionam diretamente o preço de produtos.
Mas se a conta estoura no trabalhador, também inibe o empresariado. Levantamentos feitos por um comitê de cargas do Reino Unido apontaram o Brasil como o 7º colocado no ranking de roubo de cargas entre 57 países analisados. Em outro relatório, a BSI Supply Chain Services and Solutions pesquisou o roubo de cargas na América do Sul e constatou: no primeiro semestre, o Brasil concentrou nada menos do que 90% das ocorrências, sendo 88% dos casos registrados como ataques a caminhões.
Você, empresário, traria o seu negócio para o Brasil? E, se trouxesse, qual seria o custo final das suas operações? Seria o mesmo praticado na Europa ou Estados Unidos, por exemplo? O questionamento, obviamente, é retórico. A matemática é cruel e a conta não fecha.
É importantíssimo olharmos para os impostos cobrados – que neste ano já passaram a cifra dos R$ 333 bilhões –, entretanto, existem outros fatores, como a segurança, que precisam de investimento financeiro e também uma intensa concentração de energia para a elaboração e discussão de projetos no nosso Poder Legislativo. A redução nos números ainda é muito baixa perto do saldo do crime. As reformas tributária e da Previdência melhoram o cenário, mas a violência ainda é um fator decisivo na hora do investimento empresarial, como pesquisas anteriores, incluindo a Federação das Indústrias, já constataram.
Segurança é qualidade de vida para a população, para o mercado e para as empresas. Todo mundo ganha.
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