Nas lavouras de Terra de Areia, maior produtor de abacaxi do Rio Grande do Sul, a colheita já começa a se intensificar. As primeiras frutas foram colhidas ainda entre outubro e novembro, mas é agora, com o início do veraneio, que o trabalho ganha fôlego — há plantações em todos os estágios: com frutas no ponto, quase prontas, ainda para amadurecer e recém plantadas.
A estimativa da Emater/RS-Ascar é de uma safra de 5.740 toneladas, mantendo os números da colheita passada, quando foram recolhidas 5.644 toneladas. O último levantamento oficial do órgão, divulgado em 2017, apontou 5.100 toneladas em Terra de Areia, o que correspondia a 87% da produção gaúcha. Naquele ano, a área plantada em todo o Estado era de 392 hectares.
Com 350 hectares de área dedicada ao plantio do abacaxi, o município litorâneo é responsável por 97% da produção comercial, conforme o assistente técnico da regional da Emater de Porto Alegre, Luis Bohn. Há outras 24 cidades produtoras de abacaxi no RS, mas o volume é bem inferior. Guarani das Missões, por exemplo, produziu apenas 0,20 tonelada (200 quilos) em 2017 — e tinha um único produtor.
— Terra de Areia poderia colher abacaxi o ano inteiro, mas, por estratégia de mercado, começa em novembro e vai até abril — acrescenta Bohn. Como é uma fruta que não apetece tanto em dias frios, acaba não tendo muita demanda no inverno.
Os responsáveis pelos números que colocam o município do Litoral Norte — passagem obrigatória dos moradores da Serra Gaúcha até a praia — no topo da produção de abacaxi são cerca de 100 agricultores, entre eles José Eridio dos Santos Engels, 53 anos. O produtor, que aposta na cultura desde 2001, já colheu 50 mil frutas desde que iniciou a safra deste ano. Ele espera colher, no total, 150 mil unidades de abacaxi.
Parte da produção de Eridio é entregue em tendas de beira de estrada, como as da Rota do Sol, e outra para vendedores ambulantes. O abacaxi do agricultor, natural de Itati, também abastece uma das principais redes de supermercados do Estado, a Companhia Zaffari.
— Sempre quis trabalhar com abacaxi, via com outros olhos. É mais lucrativo — diz o produtor.
Preço segue o mesmo, por enquanto
O valor do abacaxi varia conforme o tamanho. Os produtores de Terra de Areia têm cobrado, em média, de R$ 1 a R$ 3 pela unidade. Nas tendas, é comum três frutas de tamanho médio (de 600 a 800 gramas) por R$ 10. Por enquanto, não há aumento em relação ao valor do ano passado, mas há uma possibilidade de incremento, segundo Luis Bohn:
— Ainda é cedo dizer, o mercado é que vai nos dizer. Estamos no início da safra. Há uma expectativa de aumento em função de menos oferta de frutas de modo geral. Tivemos menos oferta de citros, há uma menor oferta de melancia, e isso age indiretamente no mercado de todas as demais frutas. Existe uma expectativa também em função da questão econômica que nós estamos passando.
"De tudo o que plantei até hoje, foi o que vi mais resultado"
As chuvas acima da média do ano podem afetar a qualidade do abacaxi, mas não devem influenciar na colheita. Pelo menos não na plantação de Sinval Leal Justo, 54 anos. A expectativa é de colher nos 11 hectares plantados em Terra de Areia, até maio, 500 mil frutas, quantidade similar à da última safra.
Sinval entrega a mercadoria em mercados e fruteiras no Litoral, especialmente nas praias de Capão da Canoa, Xangri-lá e Tramandaí. Mas a maior parte é fornecida para a Ceasa. No período de entressafra, o trabalho não dá trégua. Ele continua trabalhando a terra para a próxima colheita:
— A gente não para nunca. Limpa a lavoura, arruma a terra para novos plantios.
Natural de Três Cachoeiras, município também produtor de abacaxi, Sinval dedica-se à fruta há 30 anos. Antes, plantava outras culturas, como banana e tomate.
— De tudo o que plantei até hoje, foi o que vi mais resultado — comenta.
SEM FESTA
A Festa do Abacaxi de Terra de Areia, prevista para ser realizada em fevereiro, foi cancelada. A reportagem não conseguiu contato com a administração municipal para saber os motivos do cancelamento.
NATURAL
Dos cerca de 100 produtores de abacaxi de Terra de Areia, apenas três são orgânicos. Os demais são convencionais.
ÁREA MENOR QUE A DE BANANA
Embora Terra de Areia seja a maior produtora de abacaxi do Estado, a maior área plantada no município não é da fruta. É a banana que tem a maior plantação: são 850 hectares, mais do que o dobro da área dedicada ao abacaxi (350 hectares). No entanto, a banana tem um preço menor e mais instável.
DADOS
A Emater irá divulgar uma nova radiografia do abacaxi em 2020.
Serra já teve a fruta
A Serra Gaúcha, apesar do frio, chegou a ter produtores de abacaxi, conforme mostra o levantamento de 2017 da Emater. Mas os dois agricultores de Nova Petrópolis deixaram a atividade nos últimos anos e rumaram para outro segmento, o da prestação de serviços.
Conforme Rubens Hansen, do escritório da Emater de Nova Petrópolis, as plantações ficavam no Vale do Caí, região mais quente, o que favorecia o plantio. O sabor, segundo ele, era igual ao do tradicional abacaxi de Terra de Areia.
Agora, ficaram apenas alguns resquícios das lavouras.
— É uma pena — lamenta ele.