É só as temperaturas subirem para aumentar a procura por uma iguaria que tem a cara dos dias quentes: o sorvete. Mas, embora o Brasil tenha regiões com verão o ano todo, o país ocupa a sexta posição no consumo do produto do mundo. Cada brasileiro consome 5,5 litros por ano, metade da média dos argentinos, por exemplo. Em 2018, foram mais de 1,2 bilhão de litros comercializados e consumidos, e um faturamento de R$ 13 bilhões. Os números de 2019 devem apresentar pequeno aumento, como nos últimos anos, quando o crescimento ficou em torno de 0,5% a 3% — índices considerados "interessantes" pela Associação Brasileira de Indústrias de Sorvetes (Abis), levando-se em conta a retração econômica. Na primeira década dos anos 2000, o consumo havia crescido cerca de 60%.
— Os números são baixos, mas, pelo menos, estamos na curva de crescimento. Imaginamos crescimento no ano que vem. As perspectivas são boas, mas não excelentes como gostaríamos — diz Eduardo Weisberg, presidente da Abis.
Não há dados por Estado ou município, mas se sabe que a Região Sul é a terceira maior consumidora de sorvetes no país, atrás do Sudeste e do Nordeste. O clima é um dos fatores que influencia. Frio e chuva acabam afastando as pessoas das sorveterias e dos corredores dos gelados nos supermercados.
Em 2016, conforme a Agagel (Associação Gaúcha das Indústrias de Gelados Comestíveis e Afins), o RS tinha 1.485 fábricas de sorvetes. A Região Metropolitana era aquela com maior número de empresas (549), seguida pelas regiões Noroeste (331) e Centro (227). No país, conforme a Abis, o setor gera cerca de 100 mil empregos diretos.
Na Urca, fábrica genuinamente caxiense, o forte das vendas é de outubro a dezembro. A média de produção na alta temporada é de 9 mil a 10 mil litros de sorvete por dia. A empresa vende para centenas de estabelecimentos, não apenas no Estado, mas fora também.
— Fornecemos para boa parte do Rio Grande do Sul e para uma pequena parte de Santa Catarina. São aproximadamente 40 lojas parceiras e em torno de 800 pontos de venda — conta Vinicius Dalle Laste, supervisor administrativo da empresa.
Entre os parceiros da Urca está Rafael Lisot, com uma unidade no centro de Caxias, que confirma o aumento nas vendas no final de ano, mas não somente por causa do calor. O movimento no comércio ajuda. As pessoas estão na rua em busca dos presentes e aproveitam a saída para tomar um sorvetinho.
— Em janeiro e fevereiro, diminui um pouco por conta das férias, mas ainda são melhores do que outros meses do ano — diz Lisot, acrescentando que a sorveteria oferece venda de potes de sorvete e de picolés, mas que o bufê é responsável pelo maior faturamento da loja.
Além da Urca, Caxias do Sul tem outras duas fábricas de sorvete, a Sorvelândia e a Refreskata. A primeira preferiu não conceder entrevista nem informar dados sobre produção, alegando razões de "segurança", conforme repassou ao jornal a agência de comunicação da empresa.
A segunda não retornou às ligações do Pioneiro. Conforme levantamento feito pela reportagem nos sites das duas empresas, a Sorvelândia tem três sorveterias em Caxias. A Refreskata tem cinco, além de unidades nos municípios gaúchos de Arroio do Sal, Antônio Prado, Casca e Gramado e nas cidades catarinenses de Bombinhas e Imbituba.
Ainda existe muito espaço para crescer
Com o frio, o consumo do sorvete cai de forma significativa em Caxias. O inverno acaba sendo período de férias nas fábricas, e as sorveterias incrementam o cardápio com outras opções — o bufê de cachorro-quente é uma das alternativas que se consolidou nos últimos anos.
Para o presidente da Associação Brasileira de Indústrias de Sorvetes (Abis), Eduardo Weisberg, trata-se mais de uma questão cultural:
— O Rio Grande do Sul está ao lado de Argentina e Uruguai, e eles consomem mais – diz, destacando que, na Argentina, o consumo per capita é de 10 litros. Entre os brasileiros, a média é de 5,5 litros.
Por isso, Weisberg acredita — e aposta — que o setor de sorvetes tem ainda muito a desbravar no Brasil.
— Existe espaço para crescer no Brasil. Temos muito espaço. E depende da criatividade — acrescenta.
Jornada do Sorvete em Bento
A Associação Gaúcha das Indústrias de Gelados Comestíveis e Afins (Agagel) realiza anualmente a Jornada do Sorvete, evento de capacitação que reúne empresários, gestores e trabalhadores do setor para avaliar ações, planejar atividades e rever práticas, considerando aspectos legais, econômicos e mercadológicos. A próxima edição será nos dias 9 e 10 de julho, no Dall’Onder Grande Hotel, em Bento Gonçalves.
Também com foco nos empresários do setor, a Associação Brasileira de Indústrias de Sorvetes (Abis) realiza todos os anos o Congresso Latino-Americano de Sorvetes-Helados (Clash). A edição 2020 será de 17 a 19 de junho, em São Paulo. Estão previstas palestras e workshops.