Como traduzir um cenário de desempenho econômico? Otimista, pessimista ou realista? Porque há índices que revelam uma retomada de crescimento em Caxias do Sul, mesmo que tímido, na ordem de 1,6% em outubro, em comparação a setembro. O maior vetor desse incremento foi a indústria, com crescimento de 4,2%.
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No entanto, apesar da evolução econômica e da criação de 2.727 novas vagas no mercado de trabalho, desde maio percebe-se um decréscimo do percentual de novos empregos. Outubro revela um desempenho econômico de 6,9%, em relação ao acumulado dos 12 meses, mas o percentual de novos postos de trabalho fica em 0,8%, no mesmo período. Ou seja, há boas perspectivas futuras, mas há também grandes desafios, como a questão da empregabilidade. Os dados citados são parte do estudo mensal do Desempenho da Economia, da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), que foi apresentado na tarde desta quarta-feira, na Sala da Presidência da CIC.
– Depois da greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, tivemos um segundo semestre muito bom, que fez o comércio e a indústria crescerem. No entanto, este ano estamos com dificuldades em acompanhar os índices do passado no setor industrial. Em Caxias, a indústria deu uma patinada no segundo semestre deste ano, em comparação a 2018. Ao mesmo tempo, os bons índices do comércio são favorecidos pelo mal resultado que o setor teve no ano passado – explica Maria Carolina Rosa Gullo, integrante da diretoria de Economia, Finanças e Estatística da CIC.
Em outubro, a indústria cresceu 4,2%. No entanto, a crise da Argentina, grande parceiro comercial das indústrias caxienses e a instabilidade no Chile, apesar de que os chilenos tem um sistema mais sólido, tem sido citados como os entraves do setor. De dezembro de 2018 a setembro de 2019, por cinco meses Caxias decresceu no ramo industrial: dezembro de 2018, - 8,8%; janeiro de 2019, -4,4%; junho, -4,4%; agosto, -1,9%; e setembro, -1,0%. Por isso que esse índice de outubro traz um certo alívio ao setor, que fecha um acumulado de 12 meses com crescimento de 2,9%. Esse dado não faz sequer sombra ao incremento, no mesmo período, de 12,5% que o comércio atinge.
OTIMISMO OU REALIDADE?
Dentro dessa perspectiva, o resumo que fica, a partir da reunião de ontem, é o bom senso da realidade.
– Caxias não é uma ilha. Podemos sofrer um pouco mais e depois recuperar mais rápido, mas a gente vai manter essa correlação com o PIB (Produto Interno Bruto) – explica Joarez José Piccinini, da diretoria de Economia, Finanças e Estatística da CIC.
Essa dinâmica alucinante da economia, nos últimos anos, trouxe instabilidade para o cenário caxiense, mas ao mesmo tempo, os índices negativos têm sido superados com uma retomada mais forte na cidade, em comparação ao restante do país.
– Caxias sofreu muito durante as crises de 2015 e 2016, mas a cidade saiu mais fortalecida. A retomada do setor de transportes comerciais ajudou a puxar a economia – reconhece Piccinini.
Mosár Leandro Ness, assessor de Economia e Estatística do CDL, fez um cálculo para explicar a relação entre o crescimento de Caxias e o PIB brasileiro.
– Para cada 1% de crescimento da economia brasileira, Caxias tenderia a ter um índice três vezes maior. Noto que, se ficarmos em 6% aqui em Caxias, vamos perceber que essa sensibilidade de crescimento terá sido ainda maior.
COMÉRCIO E SERVIÇOS, ENTRE ALTOS E BAIXOS
Na dianteira do crescimento o saldo mais positivo do mês é o do setor da indústria, mas o comércio vem logo a seguir, com 2,6% de aumento em relação ao mês anterior.
O saldo negativo de outubro é a queda de 3,6% do setor de serviços, no entanto ele mostra estabilidade no acumulado, com índice de 9,3% de crescimento.
– Tivemos um desempenho comercial, embora relativamente menor do que nos últimos três meses, mas no acumulado dos 12 meses, a tendência é que o setor tenha uma expansão em torno de 10%, até o final do ano. Esse número é extremamente significativo e importante para o município, porque revela um resultado bem melhor para o setor, em relação a 2018. No ano passado, enquanto que a indústria e serviços cresciam, ninguém nos tirava para dançar, e ficamos sentados, sem crescer – descontrai Ness.
Ness explica ainda, que o ramo duro (de bens duráveis), com aumento de 2,54% em relação a setembro, é significativo, porque traz na esteira o desempenho de outras áreas do comércio. No acumulado dos 12 meses, atinge a marca de 17,31%.
– Quando o ramo duro cresce, eleva junto os outros índices. Tivemos em outubro, a queda na venda de automóveis, caminhões e autopeças, de 2,33%. Mas, registramos um crescimento significativo em 12 meses, 33,76%. A venda de implementos agrícolas também subiu, 10,39%, e geralmente aumenta nos meses de outubro a março do ano seguinte, por ser sazonal. Essa recomposição, de compra de bens de valor agregado mais alto, sustenta nosso crescimento do comércio em Caxias – afirma Ness.