Para o setor automotivo que chegou ao fundo do poço entre 2015 e 2016, a lenta retomada nas vendas vem sendo saudada com alívio e otimismo na segunda cidade que mais consome carros no Estado.
Os números indicam que o crescimento no comércio de automóveis, caminhões e motos em Caxias do Sul é constante desde 2017 e os empresários estão ainda mais confiantes de um 2020 mais robusto. Mas esqueça a euforia do final dos anos 2000 e do início desta década, quando o ritmo de emplacamentos acrescia 12 mil a 15 mil veículos todos os anos na frota da cidade. Na comparação com o boom da época, visto hoje como um movimento criado artificialmente pelo governo, o mercado atual é mais comedido.
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Os emplacamentos anuais alcançam metade ou menos da quantidade em relação ao passado. Outra diferença é que o varejo está mais maduro e ciente de que o público tem hábitos de consumo diferentes daquele que lotava as concessionárias até poucos anos.
Um dos sinais da retomada é a presença de pessoas que haviam adquirido o último carro OKm há mais de cinco anos e agora sentem-se seguras para injetar dinheiro no bem durável. É compreensível. Com a crise, poucos tinham recursos ou segurança para trocar de carro ou optavam por modelos seminovos e usados. Agora, o público vislumbra a chance de ir até uma concessionária e negociar o velho pelo novo. Líder operacional, Franciele Comerlatto, 35 anos, está na leva dos compradores do momento. Ela tinha um hatch fabricado em 2014. Aguardou o momento certo e se organizou para adquirir uma SUV recentemente, sonho de consumo de muita gente. Para a decisão, considerou a renda estável, a necessidade de renovar o bem e a oferta na loja.
— Só comprei este ano, pois organizei todas as minhas finanças. Acho que a situação econômica é particular de cada um, mas para mim está melhor — reconhece Franciele.
Uma análise da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) indica que o varejo de automóveis, caminhões e autopeças novos na cidade acumulou alta de 41,61% em setembro, o maior índice de todos os ramos do comércio no período. O dado não considera a quantidade de unidades vendidas, mas sim o faturamento divulgado por concessionárias participantes da pesquisa. A alta é puxada especialmente pelas empresas que possuem frotas e buscam a renovação e por famílias com renda estável.
— Em 2013 e 2014, começou a crise e levou as empresas frotistas a botar o pé no freio. Passado o boom, o veículo de frota se desgasta em cinco anos. Em 2017 e 2018, houve uma retomada mais vigorosa de troca de veículos. O motivo dessa alta é que agora temos que renovar a frota, que está velha. As famílias que não vislumbram quebra de renda optam pelo veículo novo — analisa o assessor de economia e estatística da CDL Caxias, Mosár Leandro Ness.
Crescimento de 10% ao ano
Caxias acompanha a evolução no país. Conforme Paulo Siqueira, presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodiv) no Rio Grande do Sul, entidade vinculada à Fenabrave, o crescimento é antes de tudo uma recuperação. Em média, as vendas vêm aumentando 10% ao ano desde 2017.
Recentemente, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) reviu para menos a expectativa da produção em 2019. Embora a aposta seja de alta, a entidade estima que o país fechará o ano com 2,94 milhões de veículos produzidos, ou um crescimento de 2,1% — no começo do ano, a projeção era uma alta de 9%.
— Tendo deprimido esse mercado em algo em torno de 50%, em alguns casos em 60%, falta muito a ser conquistado. A questão pela qual ainda não se acelera de uma forma mais intensa essa recuperação é uma certa instabilidade interna, como a reforma da Previdência, e a manutenção dos empregos. Tem também o custo da taxa de juros para o consumidor final. Sem contar a própria turbulência nos países vizinhos, que impacta aqui _ pondera Siqueira.
Mosár avalia o setor de veículos como um termômetro da recuperação econômica no país como um todo, mas com reflexos mais visíveis em Caxias:
— O veículo está no topo da cadeia dos bens duráveis. Existe sinal de confiança do consumidor. E Caxias tem uma característica diferente. Somos mais sensíveis à queda e também à retomada em função da renda maior, por termos indústria, comércio e agronegócio fortes. Se o PIB no Brasil cresce 0,8%, em Caxias cresce 6%.
Se ainda não dá para estourar champanhe, o setor automotivo pelo menos respira aliviado.