O resultado das eleições presidenciais no ano passado evidenciou empolgação da maior parte dos empresários e agentes econômicos de diferentes setores produtivos no país. Com o decorrer do governo de Jair Bolsonaro (PSL), no entanto, as expectativas foram reduzindo. A projeção do PIB é um reflexo da regressão dos ânimos: se no ano passado estimava-se uma alta de pelo menos 3% para 2019, no final de julho deste ano, a previsão já era de 0,82%, conforme Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo Banco Central.
Em nível municipal, os números são positivos, embora ainda não representem reflexo robusto inicialmente esperado. Recentemente, a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias divulgou os resultados da economia caxiense no semestre. Os números são positivos. Conforme o levantamento, no acumulado dos seis primeiros meses, a economia dos três principais setores teve incremento de 7,6%.
Conforme a professora de economia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria Carolina Gullo, o município pode ser referência para parâmetros da macroeconomia nacional.
— Caxias tem a peculiaridade de entrar primeiro numa crise e sair primeiro de uma crise. Isso aconteceu em 2015 e começamos uma recuperação lenta, mas constante, a partir de 2017. Tínhamos ideia de economia com mais força em 2019, tendo em vista o que estava previsto para acontecer, o que acabou não se efetivando na proporção que se imaginava — avalia.
A principal atribuição por não haver a retomada plena da economia, na opinião de economistas, é a suposta demora para avanço da reforma da Previdência no Congresso Nacional.
— A economia entrou num compasso de espera porque não conseguimos vislumbrar para que lado o Brasil vai crescer. Para crescer, precisa de investimento. Como a poupança do governo é negativa, a única forma é investimento externo direto, do exterior. Eles (investidores) estão esperando definição plena dessa condição do déficit público com a aprovação da reforma da Previdência para, a partir daí, investir com mais vigor na nossa economia.
— A gente espera que as reformas possam preparar terreno para 2020 ser melhor que 2019. Mas não deve haver mudança de chave com resultados ainda em 2019 — opina Maria Carolina.
... Ou talvez 2022
Se a expectativa de retomada já não existe para esse ano, alguns economistas já projetam números modestos de melhoria para os próximos três anos. De acordo com o Banco Central, a estimativa é de que em 2020 a economia tenha crescimento de 2,10% e para 2022 de 2,50%.
A resposta positiva da economia também só deve surtir efeito consolidado em médio prazo, na opinião do assessor de economia e estatística da CDL Caxias, Mosár Leandro Ness:
— Esse ano vamos seguir nessa condição morna. Para ano que vem a expectativa é que tenhamos um processo de crescimento um pouco mais pronunciado. O mercado aponta de 2% a 2,5% para 2020. É uma boa margem, considerando que podemos estar entrando num segundo semestre (deste ano) numa condição de recessão. Dificilmente vamos passar da faixa de 2% sem gerar inflação, ou processo de desalinhamento da nossa economia.
Pessimismo no mercado de trabalho
Se o otimismo de empresários e agentes econômicos já ganha tom de cautela, a perspectiva do mercado de trabalho é ainda mais retraída. Conforme a coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Maria Portela Coimbra Soares, a recuperação da empregabilidade é o último índice a reagir em movimentos de retomada econômica:
— Embora tenha havido redução do índice de desemprego, ainda está muito negativo, muito aquém de como estava o cenário em 2014. Tínhamos (em 2014) aproximadamente 179,5 mil pessoas inseridas no mercado formal de trabalho em Caxias. Em 2017, eram 153,7 mil e a perspectiva do fechamento de 2018 (que serão divulgados em outubro) é de cerca de 155 mil.
Segundo ela, outro fator que influencia na demora maior para geração de empregos é a própria adaptação das empresas em tempos de crise.
— Na medida que as empresas fazem a mesma coisa com contingente menor, quando vai recontratar não recontrata o mesmo número de pessoas para aquele setor. O mercado se adapta fazendo mais coisas com menos gente. Se tiver retomada, será muito lenta.
Ainda assim, Lodonha afirma que a expectativa é de que Caxias apresente aumento no índice de contratações para o próximo ano.
O que mais é preciso?
Nos últimos quatro anos, as expectativas de parte do empresariado se concentraram em movimentações políticas. Inicialmente, atribuiu-se o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) como elemento necessário para a retomada econômica. Com a destituição da presidente, cobrou-se então a reforma trabalhista. Após a efetivação da reforma trabalhista, defendeu-se apoio à candidatura de Jair Bolsonaro e, em seguida, a mobilização pela reforma da Previdência.
Mesmo com todos os fatores defendidos para a estabilidade econômica já consolidados ou encaminhados, o discurso de economistas se ampara em outras "necessidades". Para Maria Carolina Gullo, a consolidação das reformas previdência e tributária providenciaria um cenário mais favorável a investimentos. No entanto, na opinião dela, as necessidades para haver retomada plena não se restringem aos encaminhamentos junto ao Congresso Nacional:
— Nossa região (de Caxias), por exemplo, depende muito da infraestrutura, que deixa a desejar. Também é preciso continuar esse programa de parcerias público-privadas que vem sendo desenvolvido.
Presidente da CIC, Ivanir Gasparin, também acredita que os encaminhamentos necessários em níveis políticos já foram feitos e a diretriz deve se voltar a investimentos na infraestrutura.
— Apesar de ter ficado abaixo do esperado esse ano, a economia tem números positivos. Acho que o governo poderia se dedicar a nós dar melhores condições de infraestrutura — defende.