
No próximo sábado (6) será celebrado o Dia Internacional do Cooperativismo. Na região, o município de Nova Petrópolis dedicará um final de semana com programação especial. A cidade abraça a temática justamente por ser referência no modelo de gestão no país. Foi em Nova Petrópolis que, em 1902, o padre jesuíta Theodor Amstad criou a Sicredi Pioneira RS, primeira cooperativa financeira da América do Sul e que hoje possui mais de 140 mil associados. Além da Sicredi, Nova Petrópolis também é o berço da Cooperativa Agropecuária Petrópolis Ltda, a Piá.
A representatividade histórica de ambas as cooperativas contemplou a cidade da Serra com o título de Capital Nacional do Cooperativismo. Hoje, milhares de pessoas visitam anualmente Nova Petrópolis com o objetivo específico de conhecer o modelo de gestão. Tal representatividade tornou o cooperativismo parte do DNA da cidade. Atualmente, uma das maiores referências do assunto é Mário José Konzen, presidente da Casa Cooperativa de Nova Petrópolis. Aos 70 anos, ele afirma ser um apaixonado convicto pelo tema e desenvolve projetos em escolas para já, desde cedo, estimular a percepção cooperativista entre jovens. Ao +Serra, Konzen falou sobre a evolução do modelo cooperativista. Confira:
Qual é o âmbito de atuação da Casa Cooperativa?
É uma associação que não tem fins econômicos e se dedica ao desenvolvimento do cooperativismo, especialmente à educação e à preservação da história. Pelo fato de Nova Petrópolis ter essa história bastante próxima do cooperativismo, desenvolvemos vários trabalhos com jovens para estimular mais pessoas a estar habilitadas e ser bons gestores para cooperativas. Todas têm fim social para que tenham melhores pessoas para a sociedade, melhores empresários, lideranças para entidades e instituições de classe, escolas, todos os espaços que precisamos que estão cada vez mais ausentes e desassistidos. A intenção é recuperar formação de novas lideranças que assumam isso com gosto.
Qual a responsabilidade de ser a Capital Nacional do Cooperativismo?
Nova Petrópolis recebe, no mínimo, três mil pessoas por ano que vêm visitar a Sicredi, em reconhecimento às pessoas que fizeram trabalhos bem feitos e inspiram. A gestão da Sicredi Pioneira é considerada modelo não só para outras cooperativas como também temos recebido várias referências positivas de órgãos controladores. É importante compartilhar esse conhecimento e essa experiência. Fazemos isso com gosto, justamente porque um dos princípios do cooperativismo é esse, compartilhar tudo que tem de bom com outras cooperativas.
O cooperativismo, então, é mais do que um modelo organizacional?
Um pouco difícil de medir o que aconteceu de diferente em 100 anos. Mas quando surgiu o cooperativismo, pessoas tinham dificuldade em adquirir ferramentas de trabalho melhores, uma vaca de leite para alimentação. Porém, quando surgiu a cooperativa, puderam tomar crédito e isso gerou desenvolvimento das famílias e, consequentemente, da região. Fica fácil perceber que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) está acima da média em regiões onde há cooperativas fortes. O cooperativismo é uma atividade transformadora e inclusiva, diferente do capitalismo que exclui.
Quais são as vantagens do modelo cooperativista?
Cooperativa é uma instituição que tem as mesmas funções de empresas privadas e atende às necessidades dos associados, só que o resultado gerado não vai para o dono, fica na instituição, que devolve para o associado, e em investimentos na comunidade, que também voltam para o associado, afinal, se tem uma escola melhor, uma Apae melhor, por exemplo. Isso acaba sendo melhor para todos.
Há quanto tempo o senhor se envolve com cooperativismo?
Desde 2000 sou associado da Sicredi. Em 2005 comecei a participar como conselheiro, depois virei vice-presidente. Com 61 anos, voltei à universidade para fazer pós-graduação em especialização em cooperativismo e fui participando cada vez mais de eventos. A cada evento de prestação de contas, fazemos questão de falar sobre cooperativismo e quanto mais falamos, mais aprendemos e nos fascinamos sobre o assunto.
O que evoluiu no cooperativismo nos últimos anos?
A gestão evoluiu muito. O pessoal está buscando mais formação, que era uma coisa que fazia muita falta, muitas cooperativas sofriam por falta de gestão. Isso evoluiu muito, tanto por necessidade quanto por imposição do Banco Central, que é um órgão que fiscaliza essa atividade. Às vezes, acontecia em algumas cooperativas que dirigentes tinham atuação política, o que é desprezível numa cooperativa. Também havia despreparo. Muitas vezes a pessoa era um bom empresário, mas faltava gás quando chegava na cooperativa, porque é algo complexo. À medida que foram se qualificando e substituindo com gente mais jovem, passou a caminhar muito bem. Outra questão que evoluiu muito foi o fato de as pessoas perceberem melhor os diferenciais e entender a importância de intervir socialmente e contribuir com entidades.
Mas ainda assim se percebe alguns problemas em cooperativas. Recentemente, tivemos um caso em Farroupilha (presidente de duas cooperativas desviou valores, segundo o Ministério Público)...
Quando acontece problema, é problema de pessoas. Ali faltou cooperativismo. Quando vou participar de uma cooperativa, não entro para ter benefício diferente do outro, tenho benefício proporcional ao que ajudei a construir. Isso é problema de dirigentes despreparados, falta gestão ou há muito interesse em trabalhar em benefício próprio. É importante conhecer as pessoas, ser participativo, ser fiscal indiretamente e estar atento, sabendo que a cooperativa é minha e tudo que é meu tem de cuidar.
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