A obtenção de energia elétrica não é a única possibilidade proporcionada pela produção do biogás. A partir do processo de purificação da substância é possível gerar o biometano, combustível equivalente ao gás natural. Conforme levantamento da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás), o país teria condições de produzir até 45,3 bilhões de metros cúbicos de biometano ao ano, o que bastaria para substituir 70% do consumo atual de diesel.
Leia mais:
Conheça o biogás, a fonte de energia gerada a partir de resíduos rurais e de saneamento
Dejetos de porcos geram toda a luz de granja em Carlos Barbosa
De olho nesse nicho, a Companhia de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás) planeja inserir o biometano na sua oferta aos clientes. Neste ano, a empresa lançou edital para recebimento de propostas de suprimento de biometano. A meta é contratar três lotes para fornecimento de 22 mil metros cúbicos diários. A entrega do gás começaria em 2021 e os contratos com os vencedores seriam de 10 anos.
– Um dos objetivos da chamada é conhecer esse mercado. O Estado tem um potencial de produção de 1,5 milhão de metros cúbicos de biometano por dia. Hoje, a Sulgás distribui 2,1 milhões de metros cúbicos diários de gás natural - explica Cristiano Rickmann, gerente de comercialização da Sulgás.
É a primeira chamada do gênero que a Sulgás faz desde a instituição da Política Estadual do Biometano, em 2016, na qual o governo gaúcho reconheceu oficialmente essa fonte de energia como instrumento de promoção do desenvolvimento regional e de redução de impactos ambientais. Um ano antes, a estatal chegou a realizar edital para aquisição do combustível, mas não houve projetos inscritos. Desta vez, Rickmann acredita que as propostas chegarão e a ideia é utilizar o gás nos segmentos comercial, industrial, residencial e veicular.
Uma das pioneiras na exploração do biometano no Estado, a Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus) é uma potencial fornecedora para o Estado. O presidente da Ecocitrus, Maique Kochenborger, diz que a cooperativa ainda irá analisar se é viável e vantajoso participar da concorrência. Porém, o dirigente lembra que a empresa teria condições de atender ao volume estabelecido nos lotes do edital.
Com sede em Montenegro, a Ecocitrus produz 1,2 mil metros cúbicos de biometano por dia. O gás é utilizado, entre outras atividades, no abastecimento de carros dos associados da cooperativa. Ao todo, cerca de 20 veículos recebem o combustível diariamente. No curto prazo, a tendência é de que a produção da substância aumente significativamente, já que a empresa está investindo mais de R$ 5 milhões na ampliação de sua usina de biogás.
– Com o novo desenho da usina, poderemos chegar à produção de 20 mil metros cúbicos ao dia de biometano – projeta Kochenborger.
Além do gás purificado, a Ecocitrus também utiliza parte do biogás para abastecer a rede elétrica da empresa. A geração de energia começou em 2012, a partir de resíduos agroindustriais de associados e de outras empresas gaúchas que mantêm parceria com a cooperativa.
Serra quer virar polo de soluções para biogás e biometano
Com a proliferação das unidades de produção de biogás, a demanda por máquinas e acessórios voltados à atividade tende a se aquecer no mercado nacional. Hoje, uma parcela dos itens utilizados na construção das plantas de geração da energia é importada. Na condição de um dos principais polos metalmecânicos e de expoente no setor plástico no país, a Serra se articula para abocanhar esse nicho e se inserir como um potencial fornecedor de produtos para o mercado da energia renovável.
O presidente do Arranjo Produtivo Local Metalmecânico e Automotivo da Serra Gaúcha (APLMMeA), Ubiratã Rezler, defende que a região teria condições de se constituir em um polo de fabricação de produtos para o setor do biogás. Neste sentido, poderiam sair das fábricas serranas tubulações, compressores, geradores de energia elétrica, peças usinadas em inox, caminhões que possam rodar com biometano, entre outros artigos.
– Com a estrutura atual das fábricas na região é possível produzir para o segmento. O que falta hoje é demanda. Ainda queremos ver quais competências teremos de trabalhar, mas a oportunidade existe – salienta.
No momento, o APL tem mantido contatos com o Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás (CIBiogás) para identificar quais itens as empresas da Serra poderiam fornecer. A partir daí, a intenção é capacitar as indústrias para atender ao mercado.
Algumas fábricas, no entanto, se anteciparam e já estão inseridas no segmento do biogás. Fundada há quase 20 anos, a caxiense Trigás foi uma das primeiras companhias no país a se dedicar ao setor. Hoje, a empresa desenvolve equipamentos para a geração de energia e realiza projetos de usinas a biogás.
– Lá atrás víamos o potencial desse mercado. Como na época não se tinha biogás, começamos desenvolvendo motores a gás natural – recorda Persival Zuquetto, fundador da Trigás.
Um dos carros-chefes da companhia é a montagem de geradores para a conversão do biogás em energia. A empresa também faz a montagem de caldeiras e aquecedores, além de fornecer outras peças e equipamentos para plantas de produção do combustível. Zuquetto confia que, com a expansão das usinas pelo país, as expectativas de negócios são “enormes”. Neste ano, a Trigás deverá trabalhar em 12 projetos de usinas no Rio Grande do Sul, com investimento total acima de R$ 10 milhões.