O aluguel por temporada a partir de plataformas online de compartilhamento de acomodações tem se revelado uma alternativa crescente e ganha cada vez mais espaço. Por seu elevado potencial turístico, durante todo o ano, a Região das Hortênsias tornou-se em 2018 o destino nacional preferido pelas famílias em pelo menos uma destas plataformas, o Airbnb. Uma pesquisa inédita foi feita pela plataforma com viajantes brasileiros, e Gramado e Canela ficaram à frente de Florianópolis e Rio de Janeiro. São consideradas famílias pelas pesquisa grupos com crianças de até 12 anos. Nas duas cidades, são cerca de 1,3 mil anfitriões ativos.
Com o Natal Luz, o aluguel por temporada se intensifica na Região das Hortênsias. Somente na edição deste ano, de 26 de outubro a 13 de janeiro, essa modalidade de hospedagem deve gerar uma renda estimada de R$ 12,1 milhões aos moradores que têm imóveis cadastrados para aluguel apenas em Gramado, informa o Airbnb. Equivale a uma média diária de R$ 151 mil ao dia. No ano passado, esse valor diário ficou em cerca de R$ 99 mil. O movimento é 53% maior do que em 2017. O volume representa 35 mil chegadas de hóspedes apenas via Airbnb no período, com base no último dado disponível, de 11 de dezembro
Uma das moradoras que tem imóveis cadastrados na plataforma é a aposentada Iolanda Dieder Killing. Ela tem três: um trailer que fica no camping que administra e dois apartamentos no bairro Planalto, nas proximidades do Lago Joaquina Rita Bier, bem perto de onde acontecem espetáculos do Natal Luz.
- Gramado sempre tem alguma coisa (para atrair visitantes) Neste momento, tenho um pessoal de João Pessoa. Hoje (sexta-feira), chega um casal de Minas no trailer, em um dos apartamentos, tem hóspedes do Paraná - destaca Iolanda.
Ela diz que já perdeu as contas de quantos hóspedes acomodou desde que cadastrou os imóveis na plataforma, em 2014. Seguramente, são mais de 100, confirma Iolanda, sem no entanto arriscar um número mais exato.
Iolanda está contente com a operacionalidade do aluguel por temporada via plataforma de compartilhamento. Conta que até dá problema de avarias, mas explica que tanto anfitriões como hóspedes são avaliados. E eventuais estragos são relatados, havendo ressarcimento pela plataforma.
- Mas dá muito pouco problema, o público é diferenciado, alugamos só para famílias. No Natal Luz, aumenta muito - destaca Iolanda.
Outra moradora cadastrada na plataforma, cuja identidade está preservada, aluga sua casa para hóspedes há três anos. Seu foco é receber famílias, e ela já contabiliza mais de 460 chegadas de viajantes neste período.
Em Gramado e Canela
- São 1.300 anfitriões ativos na plataforma (4% dos moradores da cidade).
- 41 anos é a idade média dos anfitriões.
- 55% são mulheres (no Brasil são 52%).
- 87% dos anúncios são de espaços inteiros (casas ou apartamentos)
- 54% do total de chegadas de hóspedes são famílias.
Setor hoteleiro vê avanço da plataforma com preocupação
A proliferação do aluguel de temporada preocupa o Sindtur Serra Gaúcha, entidade que abrange a hotelaria de quatro municípios da Região das Hortênsias.
- Não somos contrários. O que entendemos é que precisa algum tipo de regulamentação, ou então, a desregulamentação para os hotéis. Hoje, a concorrência entre ambos é desleal - destaca Fernando Boscardin, presidente da entidade.
Ele diz que o aluguel por temporada é uma situação disseminada em lugares de grande fluxo turístico no Brasil e no mundo.
- Pessoas constroem prédios inteiros e o destinam ao aluguel de temporada, oferecendo os mesmos serviços de um hotel, porém quase tudo na informalidade.
Boscardin alerta que a ocupação média dos hotéis na Região das Hortênsias caiu, "principalmente por causa do aluguel de temporada".
- É uma situação que não pode mais ser ignorada. Se eu transformo (um hotel) em residencial e coloco em plataforma e uso mão de obra que está no seguro-desemprego, são maneiras de favorecer a informalidade.
Ele alerta para outras consequências:
- Se chegar em Gramado hoje e procurar um imóvel para alugar, não se consegue. Ou não existem, ou o preço vai na lua. Encarece os aluguéis. E muitos dos proprietários sequer vivem em Gramado, quer dizer, o dinheiro não fica na cidade. É preciso o poder público deixar de ignorar essa situação.