
Ao mesmo tempo em que amarga uma das piores recessões já vivenciadas, Caxias do Sul mostra também que ainda há motivos para comemorar. O município ocupa a 30ª posição no ranking das cidades com maior potencial de consumo do país, aponta levantamento recente do IPC Maps. Caxias é a segunda melhor do Rio Grande do Sul na lista – atrás apenas de Porto Alegre – e fica à frente até mesmo de algumas capitais do Brasil, como João Pessoa (PB), Aracaju (SE) e Teresina (PI).
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Conforme o estudo, o potencial de consumo de Caxias para 2016 é de R$ 14,9 bilhões. Em 2015, a cidade ocupava uma posição abaixo que a deste ano, ficando no 31º lugar, e contava com movimentação estimada em R$ 14,4 bilhões. Marcos Pazzini, diretor da IPC Maps e responsável pelo estudo, destaca que o aumento no valor total de Caxias se deve principalmente à elevação no potencial de consumo da classe A e também da classe C.
– Apesar da alta no valor total, Caxias do Sul teve uma ligeira retração entre 2015 e 2016. Em 2015, foi responsável por 0,38497% do consumo nacional e, em 2016, será responsável por 0,38404% do total. Esta queda deve-se ao momento de crise que o país vem passado – analisa Pazzini, explicando, portanto, que a crise impactou no levantamento mas, como ela é geral, não influenciou tanto nas posições das cidades.
Outro fator que justifica a boa posição de Caxias no ranking é o Produto Interno Bruto. Jacqueline Corá, economista e coordenadora do curso de Ciências Econômicas, destaca que o PIB per capita caxiense é 55% acima da média do Estado.
– Nesse sentido existe um potencial de consumo, principalmente na parcela da população de renda mais elevada. No relatório, percebe-se que a expectativa sobre potencial de consumo recai sobre as classes A e B que, embora configurem pouco mais de 25% dos domicílios brasileiros, respondem por mais de 56% do consumo das famílias. Para esse grupo em especial, a restrição orçamentária é menor e apresentam mecanismos de proteção diante da crise, diferente das famílias de menor poder aquisitivo – explica a economista.
Poupança ameniza efeitos
A poupança financeira que muitas famílias mantêm também contribui para Caxias não perder posições no ranking. Mauro Corsetti, diretor de Economia, Finanças e Estatística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), avalia que culturalmente os caxienses guardam mais dinheiro que a média:
– A poupança faz com que os efeitos da crise sejam amortecidos, amenizados. Muitas famílias têm condições de manter o padrão de vida apesar da crise. Mas o consumo, no geral, é sim bastante afetado pelas demissões e queda na massa salarial – ressalta.
Ainda segundo o estudo do IPC Maps, o consumo nacional deve chegar a R$ 3,9 trilhões neste ano. A liderança no país é da região Sudeste (49%), seguida da Nordeste (19%), Sul (17,6%), Centro-Oeste (8,4%) e Norte (6%).
"O potencial realmente existe, mas há mais cautela"
A concentração das famílias caxienses nas classes A e B é um dos principais pontos para a boa colocação da cidade no ranking de consumo nacional. Enquanto no país, as classes A e B representam 56% dos gastos, em Caxias o número sobe para 66%. A disparidade ocorre ainda na outra ponta: no Brasil, a classe D/E representa 10% do potencial de consumo, já em Caxias o índice desce para 3%.
A gerente da concessionária Savarauto Mercedes-Benz de Caxias, Elisabete Petrin Welcomme, analisa que de fato a crise não tem influenciado muito a renda das classes com maior poder aquisitivo. O comportamento de compra, porém, teve alteração:
– O potencial de consumo realmente existe e não mudou. Nosso público não está mais pobre. O que existe é um desconforto psicológico de comprar um item de alto valor em tempos de retração geral – explica.
Na Mercedes, o tíquete médio de compra é de R$ 200 mil reais, embora há veículos que chegam a R$ 1,2 milhão. Nesse ano, as vendas estão, em média, 10% menores do que no ano passado.
– A parte positiva é que, como nossos clientes não estão mais pobres, essas compras vão acontecer em algum momento. Em março, por exemplo, tivemos um mês atípico, com uma enxurrada de vendas que estavam reprimidas – conta Elisabete.
Ameaça ao consumo
Apesar de Caxias ocupar um lugar de destaque no ranking nacional de consumo, há ameaças que podem impedir a continuidade desse bom desempenho da cidade. A perda da competitividade das empresas no cenário nacional e mundial, avalia Mauro Corsetti, diretor da CIC, é a maior delas:
– Caxias vem perdendo investimentos e mercado. Com isso, cai a massa salarial e o poder de consumo. A cidade precisa se reciclar – alerta.
Neste ano, a economia caxiense acumula perdas de 14,4%. Em 12 meses, 14,8 mil postos de trabalho foram fechados. A economista Jacqueline Corá lembra ainda que Caxias do Sul tem uma matriz produtiva fortemente embasada na indústria de bens de capital, o que estabelece encadeamentos com diferentes setores:
– Nesse caso, quando a indústria recua (e recuou perto de 22% no acumulado de 12 meses), no médio prazo acaba afetando os demais setores. É o que já acontece com o comércio e serviços. No item emprego, temos um recuo de 13% na força de trabalho do município nos últimos 2 anos, o que afeta a renda disponível das famílias e a expectativa em relação ao futuro.
O RANKING
1º São Paulo (SP)
2º Rio de Janeiro (RJ)
3º Brasília (DF)
4º Belo Horizonte (MG)
5º Salvador (BA)
6º Curitiba (PR)
7º Porto Alegre (RS)
8º Fortaleza (CE)
9º Manaus (AM)
10º Goiania (GO)
11º Campinas (SP)
12º Recife (PE)
13º Guarulhos (SP)
14º Belém (PA)
15º São Gonçalo (RJ)
16º Campo Grande (MS)
17º Maceió (AL)
18º São Bernardo do Campo (SP)
19º Santo André (SP)
20º Ribeiro Preto (SP)
21º Uberlândia (MG)
22º São José dos Campos (SP)
23º Natal (RN)
24º Florianópolis (SC)
25º Joinville (SC)
26º São Luís (MA)
27º Osasco (SP)
28º Contagem (MG)
29º Niterói (RJ)
30º Caxias do Sul (RS)