Se a máxima de que "mar calmo nunca fez bom marinheiro" se aplica ao mercado de trabalho, 2015 foi um ano de puro aprendizado a profissionais e empresários de Caxias.
De janeiro a dezembro, não houve um único mês de tranquilidade. As incertezas políticas e as inseguranças econômicas simplesmente não deram trégua e o ano termina com prejuízos próximos de 20% na cidade. Foi uma crise sem precedentes, com retração três vez maior do que na desaceleração de 2009.
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A retração no desempenho afetou primeiramente a indústria. Como consequência direta das demissões, a crise chegou com tudo também no comércio, inibindo as vendas.
Em meio ao contexto negativo, o caxiense percebeu que a retomada geral no cenário não deve vir no curto prazo, mas que melhoras pontuais, com esforço, são possíveis. Confira algumas lições que 2015 deixou:
Não depender do governo
Um dos fatores que desencadeou a falta de pedidos nas indústrias foi o entrave nos programas do governo. Subsídios e taxas menores para o setor foram reduzidos ou cortados com as instabilidades econômicas e políticas.
- Aprendemos neste ano que não devemos depender muito de programas do governo. Temos que esquecer subsídios que podem ser cortados a qualquer momento e trabalhar por conta, como sempre fizemos e sabemos fazer - acredita Getulio Fonseca, presidente do Simecs, acrescentando que a retração do mercado nacional fará o setor fechar 2015 com baixas próximas de 30%.
Empreender em novos nichos
O mercado de trabalho caxiense foi cruel em 2015: foram 10,6 mil postos fechados de janeiro a novembro e novas demissões devem ser contabilizadas para dezembro, aumentando ainda mais esse saldo. A indústria fecha o ano empregando 78,8 mil pessoas, número registrado em 2007. Ou seja, o principal setor da cidade retornou ao mesmo patamar de empregados de oito anos atrás.
Diante desse mercado com poucas vagas, muita gente decidiu tirar da gaveta o sonho de empreender. O número de novos negócios aumentou e nichos poucos afetados com a crise, como o de consertos e o de beleza, despontam.
Investir em exportações
A estratégia de vender para fora do país estava em segundo plano para muitos empresários nos últimos anos, motivados por um mercado nacional aquecido e pelo câmbio desfavorável. Neste ano, porém, tudo mudou: o dólar na casa dos R$ 4 e a completa desaceleração dos pedidos internos obrigaram uma mudança. A ordem agora é desbravar o mundo.
- Vimos em 2015 que é fundamental investirmos sempre em inovação e automação, assim podemos nos manter competitivos no mercado externo - aponta Getulio Fonseca, presidente do Simecs, lembrando que as exportações cresceram cerca de 20% neste ano no setor.
Apostar em estratégias
Além do cenário econômico totalmente desfavorável, o clima também prejudicou (e muito!) o comércio caxiense neste ano. No inverno, quase não fez frio. Na temporada de liquidações da estação, a chuva afastou os consumidores das ruas. O jeito para driblar todas essas adversidades foi inovar em chamarizes:
- O comércio teve um aprendizado muito grande com a crise, porque precisamos nos adaptar a essa realidade do consumidor. Então investimos muito em produtos novos, com valores mais em conta - relata Sadi Donazzolo, presidente do Sindilojas Caxias.
O dirigente ressalta ainda que o comerciante passou a negociar mais em 2015, tanto com fornecedores quanto com clientes.
Fazer um planejamento financeiro
Não bastassem as demissões, a inflação e os juros também se uniram para corroer o dinheiro do consumidor. O IPC, que mede a inflação dos produtos em Caxias, alcançou 10,5% em 12 meses. O clima prejudicou a agricultura e elevou os preços no principal polo de hortifrutigranjeiros do RS. A cesta básica passou a custar R$ 737. Com menos poder de compra, a inadimplência subiu: há 72,3 mil caxienses no SPC, 6 mil a mais de 2014.
- O brasileiro se achou rico, sem ser rico. Comprou casa, carro, viajou, experimentou novos restaurantes e roupas, tudo ao mesmo tempo - analisa Fabiana D'Atri, coordenadora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco.
O consumidor aprendeu que um planejamento financeiro, evitando ao máximo as compras a prazo e não comprometendo mais de 30% da renda, é essencial para não se endividar.