Ao menos duas alterações climáticas dos últimos meses impactaram diretamente na safra da uva deste ano, atividade agrícola que abrange cerca de 20 mil famílias produtoras em todo o Estado e teve a colheita deflagrada no começo de janeiro. Uma das mudanças é justamente o período da vindima: em função do calor e das noites quentes registradas em 2014, a uva amadureceu antes do previsto e variedades como Bordô e Niágara estão sendo retiradas das parreiras com cerca de 15 dias de antecedência.
O outro reflexo climático foi o excesso de chuvas no final de 2014 e início de 2015 que, junto com a antecipação da safra, fez com que o teor de açúcar das variedades precoces caísse. A alteração vem proporcionando mais acidez às variedades, garantindo uma safra sob medida para os espumantes.
O ideal para as borbulhas, revela o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro do Vinho, Moacir Mazzarollo, é que as varietais tenham entre 14 e 16 graus no teor do açúcar. O índice está sendo registrado nesse primeiro momento da colheita em uvas como a Chardonnay:
- Está sendo uma safra excelente para se fazer espumante, o que é ótimo, já que é um produto que tem cada vez mais volume nas nossas vinícolas - comemora Mazzarollo.
Já para a elaboração de vinhos é mais interessante que o teor de açúcar suba para mais próximo de 20 graus. Isso ainda pode melhorar, já que a colheita da Isabel, variedade mais representativa da Serra, só inicia daqui uns 20 dias, bem como de outras viníferas.
- Se o tempo contribuir, ou seja, não chover de forma exagerada nas próximas semanas e termos dias mais secos, a formação do açúcar será melhor. A Isabel representa quase a metada de safra e pesa muito no resultado quantitativo e qualitativo - explica o presidente da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin, ressaltando que a safra por enquanto se mostra com boa sanidade, bom sabor e bom aroma.
Conforme o Ibravin, a expectativa é que sejam colhidos entre 600 e 610 milhões de quilos de uva até o final da safra, em março, número semelhante ao de 2014. Vale lembrar, porém, que embora o período de janeiro a março seja a época de maior trabalho para os produtores de uva, o restante do ano também influencia (e muito) na qualidade da vindima. O zelo com as parreiras, acredita José Tomazzoni, 73 anos, pode determinar uma safra:
- O segredo de uma boa colheita é a poda verde, que muitos não fazem (redução no volume de folhas durante a evolução da uva, permitindo que a parreira fique mais arejada e pegue mais sol) - ensina o produtor da Linha 60 de Flores da Cunha.
Além dos cuidados redobrados com a poda e com outros tratamentos, Tomazzoni também mantém coberto sete dos 16 hectares de uva que possui. Essa parte da produção é vendida para duas redes de supermercados - Walmart e Zaffari - e a proteção extra contra chuvas e vento garante melhores aparência e sabor.
Já o restante do que está sendo colhido é destinado à vinificação, processo que também é realizado na propriedade de Tomazzoni. Depois a produção é vendida para outra vinícola, que faz o engarrafamento.
- Nunca tive dificuldade em encontrar mercado porque damos importância para a qualidade. Trabalhar com amor também ajuda muito - destaca ele, que é auxiliado na produção pelos três filhos, pela esposa Inês, 69 anos, e por outros familiares.
Sob medida para as borbulhas
Calor acima do normal na Serra antecipou a vindima, o que favorece a produção de espumantes
Baixo teor de açúcar foi causado pelas altas temperaturas e também pelo excesso de chuvas
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