Há um jargão no mercado financeiro que diz: "devemos arriscar apenas o dinheiro do uísque, jamais o do leite". O momento de levar isso bem a sério é agora, quando a inflação segue subindo e o Produto Interno bruto (PIB) brasileiro segue descendo _ nesta semana foi anunciada a décima redução seguida na estimativa de expansão do PIB. A economia de Caxias do Sul, segundo dados da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) divulgados na quinta-feira passada, fechou o primeiro semestre com desempenho negativo de 6,4%. Sem falar do desemprego rondando o mercado de trabalho.
Esse cenário de incertezas exigiu decisões rápidas por parte do consumidor, o que é extremamente importante e eficaz em tempos de crise. Muitas famílias voltaram a fazer o rancho em troca de ir ao súper duas ou três vezes por semana. Produtos considerados supérfluos começaram a acumular nas gôndolas, a lista do mercado diminuiu.
- A inflação, o endividamento pessoal e a crise da indústria nacional são fatores que influenciam diretamente nas mudanças de hábitos de consumo de alimentos, por exemplo. Mas não vejo isso como algo ruim. Acredito que a rapidez com que os consumidores adotaram mudanças demonstra o aumento de sua inteligência financeira - destaca a psicanalista e consultora em educação financeira Marcia Tolotti.
Cortar os supérfluos e assegurar o básico tem muita lógica nesse momento. Marcia acredita que são medidas inteligentes, por exemplo, trocar marcas premium por marcas mais populares e procurar por embalagens mais econômicas (saches, ao invés de latas e potes, por exemplo). A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) aponta que a mudança nos hábitos de compra teve representatividade, principalmente, nos últimos dois meses, período no qual o consumidor esteve mais atento e cauteloso do que nunca.
- Há uma tendência de que o consumidor adquira em grande volume os itens básicos no começo do mês para, nas semanas seguintes, talvez, escolher seus supérfluos, o que fará com muita pesquisa e seleção - diz o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo.
Alternativas para as compras de mercado Pesquisas da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) apontam que estamos comprando menos e permanecendo menos tempo no súper. Há consumidores que optaram por substituir as comprar em pequenas quantidades ao longo da semana pelo famoso rancho mensal, de preferência em atacados. Outros preferem fazer compras de reposição nos pequenos mercados de bairro.
- Essa segunda opção faz mais sentido do ponto de vista emocional, é como um mecanismo de proteção. Grandes ofertas diante de poucos recursos aumentam a frustração. Por que enfrentar a angústia de ver aquilo que "não posso comprar" em um grande supermercado? No mercadinho do bairro, o tour é muito menor, gerando muito menos angústia diante da limitação financeira. O passeio no supermercado está sendo trocado pela compra de reposição. Não deixa de ser uma saída inteligente - explica Marcia.
A nutricionista Daiane Pistore, 25 anos, optou pela primeira alternativa. Nos últimos três meses, pelo menos, trocou as compras no varejo pelos ranchos, principalmente de alimentos não-perecíveis, produtos de limpeza e higiene.
- Sai muito mais em conta financeiramente. Eu compro já para deixar em estoque. As frutas e verduras, necessárias para uma alimentação saudável, eu passei a comprar em feiras - comenta Daiane, pouco depois de fazer compras em um atacado de Caxias.
Dados da Agas indicam que nos últimos 10 anos, 900 mil gaúchos "migraram" da classe D para a série C, e passaram a consumir itens que até então não consumiam. No entanto, hoje em dia voltaram a ser mais seletivos.
- Agora, esse consumidor já experimentou tudo e selecionou o que quer e o que não quer, o que realmente precisa ou não.
