Os dias consecutivos de chuva e a baixa luminosidade afetam a produção de hortaliças em Caxias do Sul. E o problema está apenas começando: o inverno recém iniciado tende a ser mais chuvoso em razão do fenômeno El Niño.
Faz mais de 15 dias que o agricultor Rogério Bridi, 43 anos, tenta plantar alface e brócolis na propriedade, em São Virgílio da 6º Légua. Mas o solo encharcado impossibilita que ele prepare o cultivo.
- Não tem condições de entrar com a máquina na terra. A cada 15 ou 20 dias faço um plantio para abastecer a feira. Só que agora não sei se vou conseguir manter essa sequência. É preciso de três a quatro dias de sol para preparar o solo e depois fazer o plantio. Ultimamente, está difícil fazer dois dias de sol - diz Bridi.
Com as hortaliças já plantadas, as perspectivas não são boas: Bridi acredita que não vai poder comercializar 60% da produção, em razão da qualidade. O produtor vende a produção em feiras e é um dos que abastece a Cooperativa de Agricultores e Agroindústrias Familiares (CAAF). Fornecedora de hortaliças para escolas de Caxias do Sul, a CAAF poderá não ter alface e brócolis para entregar daqui a 15 dias.
Se a falta de produtos se confirmar, poderá haver impacto nos preços. Nos pomares, a chuva em excesso também é prejudicial. A umidade favorece o aparecimento de fitomoléstias, segundo o engenheiro agrônomo e assistente regional de fruticultura da Emater, Enio Todeschini. E, para piorar, as precipitações atrapalham o controle dessas doenças: os produtos aplicados para eliminar as fitopatias duram menos na planta, porque ela é lavada seguidamente pela água. Em fase de dormência, a principal cultura, a uva, não é atingida agora. Mas na primavera, se o clima continuar assim, poderá ser.
A proteção das plantações, por meio da plasticultura, por exemplo, é uma solução. Porém, os altos custos da técnica restringem o uso dela, apesar da oferta de linhas de crédito especiais de programas do governo. Em média, para um parreiral, o investimento ficaria em torno de R$ 70 mil por hectare, somente a estrutura do plástico.
- Com o cultivo protegido, você cria um microclima mais estável. Mas ainda é considerado um investimento elevado. E tem outros entraves. O problema é dominar a tecnologia. Porque quando se faz o cultivo protegido, o microclima é diferente. Requer que o agricultor tenha conhecimentos a mais e orientação - conta a a engenheira agrônoma e assistente técnica regional da Emater de Caxias, Sandra Dalmina. Sandra.
Todeschini aconselha, para reduzir os impactos da umidade, o uso de práticas preventivas e mais acessíveis, que controlam a incidência de doenças na fruticultura e fortalecem o solo. Algumas das medidas são aplicar produtos, como a calda bordalesa, e manter o solo com cobertura vegetal.
- O produtor deve manter o solo coberto, no meio dos pomares. Se o solo ficar desprotegido, perde nutrientes com a chuvarada. E a cobertura funciona como barreira física para fungos - explica Todeschini.
Umidade sem fim
Chuva prejudica produção de hortaliças em Caxias do Sul
Solo encharcado atrapalha plantio
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