"O Brasil está no limite do despenhadeiro, se der um passo errado, cai. Não pode mais brincar."
Com essa frase, José Antonio Fernandes Martins, vice-presidente de Relações Institucionais da Marcopolo, definiu o rebaixamento do grau de investimento do Brasil de BBB para BBB- pela agência de rating Standard & Poor's (S&P). O executivo, que acumula um vasto currículo, incluindo os cargos de vice-presidente da Fiesp e da Fiergs, disse em palestra na segunda-feira de noite que "a ação da agência de rating vai atropelar o governo". E as consequências mais prováveis da nova classificação tendem a ser um aprofundamento severo nos cortes de gastos públicos e uma aceleração nos processos de privatizações e concessões públicas.
- As medidas já adotadas pelo governo não vão surtir efeito da noite para o dia. Os resultados virão no final de 2015. E ainda teremos no meio do caminho uma Copa do Mundo extremamente tumultuada.
A avaliação contundente do empresário veio logo após o rebaixamento da nota do Brasil na noite de segunda-feira. E decorreu de resposta à primeira pergunta feita por um dos cerca de 300 empresários que compareceram à palestra de Martins, na abertura do calendário de reuniões-janta do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás), na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul. A declaração impressionou os presentes pelas palavras preocupantes de Martins, considerado homem de confiança da Dilma, convocado para ajudar a moldar o pacote de socorro à indústria, em 2012.
- Não sei se houve precipitação, mas sempre houve uma má vontade das agências de rating com o Brasil. O Brasil foi atropelado com esse rebaixamento. Se baixar desse grau, a presidente Dilma não se reelege. Acho que agora o governo vai botar as barbas de molho - comentou o executivo, conhecido pelo excelente trânsito na capital federal.
Martins também revelou aos convidados o tom da conversa mantida por um grupo de 21 empresários, no qual se incluía, com o ministro da Fazenda, há cerca de duas semanas. E comentou a apreensão das indústrias com o momento econômico:
- Nós falamos para o Guido Mantega: 'façam o que for preciso, vendam o Amazonas e a ilha de Marajó se precisar, mas não deixem o país perder o grau de investimento'. Perder a posição de grau de investimento é uma calamidade pública.
Segundo o executivo, que também responde pelas presidências do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre), da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus) e da Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS), Mantega teria se comprometido em fechar 2014 com uma meta mínima de 1,9% no superávit primário e cortes de R$ 40 bilhões a R$ 44 bilhões no orçamento.
O certo é que Martins é um dos executivos mais respeitados do meio empresarial da Serra. Transita com desenvoltura nas esferas de governo, entidades sindicais, instituições públicas e privadas. E suas palavras colocam ainda mais interrogação em um cenário de incertezas num ano marcado pela Copa do Mundo e pelas eleições.
Incertezas econômicas
"O Brasil está no limite do despenhadeiro", diz José Antonio Fernandes Martins, em Caxias
Maior rigor nos cortes de gastos públicos e aceleração nas privatizações serão consequências do rebaixamento da nota do Brasil
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