A colheita da uva na Serra está atrasada nesta safra em razão do frio e da chuva. Também por questões climáticas a safra deverá sofrer uma quebra estimada em 100 milhões de quilos, ou seja, cerca de 15% do montante obtido na safra passada: 700 milhões de quilos.
Mas esse percentual de perdas até agora - quando a colheita não atingiu nem 5% da área plantada - não significa uma frustração no setor vitivinícola. Pelo contrário, pode representar um ganho de qualidade, principalmente na elaboração de vinhos, espumantes e sucos, defendem representantes do setor.
- Vai cair a quantidade, mas não significa que vai reduzir a qualidade do vinho. Esses fatores todos podem até ajudar. Quanto menor a quantidade de uva no parreiral ou numa planta, automaticamente a concentração de açúcar é maior. Se o tempo colaborar em fevereiro e março, que é o pico da colheita, vamos ter talvez uma safra de excelente qualidade - comenta o presidente do conselho deliberativo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Moacir Mazzarollo.
Para Mazzarollo, também presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Veranópolis, Vila Flores e Fagundes Varela, a vindima está em média 15 dias atrasada, principalmente por causa das temperaturas mais baixas entre agosto e setembro. As variedades mais precoces para a venda in natura na safra passada, por exemplo, começaram a ser colhidas antes da primeira quinzena de dezembro de 2012. Na safra atual, se deu depois do Natal.
- A brotação ocorreu com atraso. Agosto era o mês do início de brotação. Nesta safra, foi entre final de agosto e início de setembro. Foi mais frio. As temperaturas baixas em setembro não foram favoráveis para um desenvolvimento normal - explica. Com uma semana de atraso em relação ao ano passado, os Broilo deram a largada na colheita da uva na terça-feira em Farroupilha. Até o final de fevereiro, a família e os empregados passarão quase o dia inteiro nos 25 hectares de parreirais, das 7h às 20h, com intervalo para o almoço. A expectativa é de que, no final, pai, mãe, filho e mais nove ajudantes retirem das parreiras 450 toneladas de uva (450 mil quilos).
Pai e filho divergem quanto aos prejuízos. Adriano Broilo, 39 anos, crê que, em razão dos tratamentos após as chuvaradas, a perda não aconteceu. Wilson Broilo, 71, pensa que os parreiras poderiam render 500 toneladas. Na manhã de sexta, enquanto todos coletavam os cachos, Ivani Broilo, 68, preparava o almoço para o batalhão.
- É cedo ainda para saber, porque é apenas a segunda carga que preparamos. Começamos a colher na terça - justifica Adriano.
A produção da família não fica no Rio Grande do Sul. Vai para uma vinícola de Minas Gerais, que envia caminhões a Capela São Roque para buscar a safra. A concentração de açúcar na uva colhida até o momento não é dos melhores. Eles poderiam esperar para retirar o grão mais tarde, o que elevaria o grau de açúcar. O problema é que eles não podem esperar a uva chegar na graduação ideal porque o produto enfrenta uma longa viagem até o sul de Minas, o que tornaria a uva muito madura. Para os Broilo, o que importa mesmo é o volume de produção.
- Para nós, é melhor quantidade porque não vendemos por grau (concentração de açúcar). Nós vendemos por quilo. Mas cuidamos da qualidade também. Caso contrário, eles vão começar a não querer mais - diz o filho.
A viticultura é a fonte de renda deles. O precursor da atividade na família foi o avô de Wilson. Na propriedade, segundo ele, há parreiras de 120 anos, ainda na ativa. O valor da uva ainda não os agrada.
- Preço está ruim. O problema é que os preços dos produtos usados no tratamento das parreiras foram lá em cima - explica Adriano.
Safra 2013/2014
Safra da uva na Serra tem previsão de perdas na produção, mas ganhos em qualidade
Vindima está atrasada em razão do clima
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