
Responsável por contagiar todos os componentes e gerar uma sinergia entre bateria e público, a rainha da bateria é o grande destaque da escola na avenida. Neste sábado, em que Caxias do Sul volta a realizar seu desfile carnavalesco após oito anos, seis mulheres irão pisar na Rua Plácido de Castro com esta missão que não permite, por um segundo sequer, perder a ginga e o compasso do samba. Sejam elas estreantes ou experientes, todas compartilham uma ligação que vem desde a infância com a festa popular, muitas delas herdando essa paixão dos pais.
A seguir, confira um breve perfil de cada uma das seis rainhas das baterias das escolas de samba caxienses e as suas expectativas para o desfile que se inicia às 21h na Rua Plácido de Castro, em frente à antiga Maesa.
Cristiane Fidelis, 33 anos, da Nação Verde e Branco

Filha de um integrante histórico da bateria da Nação Verde e Branco, o tarolista Seu Tesoura, Cristiane Fidelis é destas pessoas cuja ligação com o Carnaval vem de berço. Além de participar desde os cinco anos dos desfiles da agremiação sediada no bairro Cinquentenário, integrou a corte do Carnaval mirim e adulto. Também concorreu a Mais Bela Negra de Caxias do Sul:
- Gosto deste envolvimento comunitário - resume Cristiane, que trabalha com limpeza pós-obra.
Moradora do bairro Reolon, a rainha conta que em dias de ensaio da bateria ela e um grupo de cerca de 20 vizinhos vão a pé até a sede da escola. Além do carinho pela escola, nutre um amor ainda maior pelo samba:
- No final de semana não posso ficar sem um pagodinho pra distrair. Sou fascinada por samba e pagode.

Mesmo sendo uma das mais experientes entre as rainhas de bateria do Carnaval 2025 em Caxias, Cristiane revela que não consegue controlar a ansiedade nestes dias que antecedem o desfile na Plácido. Mas é aquela ansiedade boa:
_ Já estamos com o coração na mão, na expectativa de que tudo dê certo. Passo o dia pensando no cabelo, na roupa, na coreografia. Acho que a Nação vai trazer muita coisa bonita pro público.
Joice Rodrigues, 41 anos, da Unidos do É o Tchan

Quando Joice Rodrigues foi escolhida Rainha do Carnaval caxiense, em 2017, ficou um certo sabor de frustração. Isso porque a representante da Unidos do É o Tchan foi escolhida no primeiro da série de anos em que não houve desfile em Caxias do Sul, e por isso a participação ficou restrita a visitas da corte aos blocos da cidade:
- Embora a gente tenha sido muito bem recebido por todos os blocos, nada se compara à emoção de desfilar na avenida. Mesmo assim foi um aprendizado muito grande, que me deu muito mais conhecimento sobre o que é o Carnaval e tudo o que essa festa envolve - conta.

Massoterapeuta e proprietária de uma clínica de estética, Joice vem de família carnavalesca. Ou, pelo menos, um lado da família. A mãe fez parte da ala das baianas na escola XV de Novembro, enquanto o pai sempre foi mais ligado ao tradicionalismo. Embora tenha crescido admirando as meninas que participavam dos desfiles, até a adolescência ela dançou apenas no CTG:
- Só quando fiz 16 anos é que fiz valer minha opinião (risos). Aí troquei o CTG pelo Carnaval.
Neste ano, em que estreia como rainha da bateria do “Tchan”, Joice diz estar grata pelo convite de pisar na avenida como destaque da primeira escola em que desfilou, até o Carnaval de 2009, último em que a Unidos do É o Tchan participou. Nos anos seguintes Joice chegou a desfilar pela Pérola Negra, mas atendeu prontamente o convite para retornar à agremiação de origem.
- Quando o Tchan anunciou que ia voltar, eu sabia que voltaria junto. Porque é a escola que faz o meu coração bater mais forte. Apesar de toda a dificuldade, pelo fato de serem 15 anos fora da avenida, vai ser um desfile lindo e repleto de surpresas para quem estiver assistindo.
Kerollin Becher, 23 anos, da Filhos de Jardel

O que Kerollin Becher mais sentiu falta nos anos em que Caxias do Sul não realizou o desfile das escolas de samba foram os momentos de união da comunidade do bairro Jardelino Ramos.
- Assistir os ensaios da bateria sabendo que vamos ir com tudo para a Plácido, com toda a garra, é o que mais me emociona. Carnaval pra mim é orgulho e nada me deixa mais orgulhosa do que essa união da comunidade em torno do desfile - diz a jovem, que aos 23 anos irá estrear como rainha de bateria “no Jardel”, como os integrantes se referem à agremiação.

A ligação de Kerollin com a escola vem de três gerações da família. Desfilou pela primeira vez aos seis anos, na ala infantil, depois passou a sair como passista. A paixão só não é maior do que pelo próprio Carnaval. Por isso, a moradora do bairro Parada Cristal, que trabalha em um frigorífico, acalenta o sonho de representar sua comunidade como integrante da corte, seja como princesa ou rainha. Também por isso quer ver não só a sua escola, mas todas fazerem um lindo evento de retomada neste sábado:
- Quero ver todas as escolas fazerem bonito, para que Caxias volte a ter o Carnaval bonito que sempre teve.
Paula Teixeira, 32 anos, da XV de Novembro

Desde os três anos Paula Teixeira desfila pela Acadêmicos XV de Novembro. Devotada à escola identificada com a comunidade do bairro Euzébio Beltrão de Queiroz, Paula já desfilou até quando estava grávida de sete meses da primeira filha, Ana Clara.
- A expectativa para sair pela primeira vez como rainha da bateria é ainda maior do que em outros anos. Todo dia treino um pouco em casa junto com minhas duas filhas, que também já desfilam pela escola.

Paula é filha do líder comunitário Paulo Teixeira, o Cara Preta, presidente da XV de Novembro, que ano passado estava internado no hospital, com um problema cardíaco, até poucos dias antes do desfile na Plácido de Castro. Por isso a filha conta que uma das maiores emoções que o Carnaval já a proporcionou foi a oportunidade de ambos desfilarem juntos, mesmo que o cortejo tenha tido caráter mais simbólico:
- Pude desfilar de mãos dadas com ele e aquilo me emocionou e marcou muito, pela situação delicada que ele passou.
Atendente de um bar e estudante de radiologia, Paula diz que o Carnaval é o momento mais esperado do ano. Mesmo que o desfile dure apenas 50 minutos, cada minuto é vivido intensamente:
- É no Carnaval que a gente consegue colocar para fora toda a nossa alegria, perder a vergonha e esquecer dos problemas. Tudo que importa é fazer um desfile bonito.
Sabrina Bianchi, 23 anos, da Pérola Negra

Apesar de jovem, aos 23 anos Sabrina Bianchi já desfilou por diversas escolas de samba no Carnaval caxiense: Protegidos da Princesa, XV de Novembro, Gaviões do Samba, Mancha Verde, Pôr do Sol e, neste ano, irá estrear na Acadêmicos Pérola Negra. Também será a primeira vez que Sabrina irá vestir a faixa de rainha de bateria, após ter desfilado por diversas vezes como destaque ou na comissão de frente das agremiações por onde passou.
_ Estou bem ansiosa, por ser a primeira vez, mas também muito empolgada por ver toda a comunidade caxiense que gosta do Carnaval novamente mobilizada.

A paixão de Sabrina pela festa popular é tamanha que, para amenizar a saudade no período em que não houve o desfile em Caxias do Sul, Sabrina se juntou a amigos que criaram o conjunto Samba Show, que leva a alegria carnavalesca a festas e eventos. A jovem é a passista do grupo.
_ Para mim, pelo menos, o Carnaval nunca parou _ comenta a rainha, que trabalha como metalúrgica e como maquiadora, nos finais de semana.
No ano passado, quando houve o desfile simbólico das escolas na Plácido de Castro, Sabrina já era, formalmente, a rainha de bateria do Pérola Negra. Como não havia bateria no desfile, porém, deixou a faixa em casa. Para este sábado, a rainha acredita que não apenas a Pérola Negra, mas todas as escolas irão dar um passo importante para que Caxias volte a ter um Carnaval à altura de sua tradição:
_ A gente está esperando um Carnaval muito melhor do que o do ano passado, que leve muito mais gente para assistir. Acredito que a tendência é que as escolas venham a cada ano mais fortes.
Yan Scherer, 30 anos, da São Vicente

Primeira rainha de bateria transsexual do Carnaval caxiense, Yan Scherer, de 30 anos, nasceu em Panambi, no noroeste do Estado. Naquela região aprendeu a gostar do Carnaval de forma proibitiva, por questões religiosas da família.
- Tinha de esperar todo mundo ir dormir pra poder ligar a televisão e assistir aos desfiles. Via a musa Globeleza e me imaginava sendo ela um dia - conta.
Yan se mudou para Caxias do Sul em 2014 e fez a transição de gênero em 2022. Como a mulher livre que se tornou, diz que no Carnaval irá abraçar sua criança interior, que cresceu com muitas proibições:

- Quando estiver sambando na frente da bateria, parte de mim vai estar pegando no colo aquele menininho que tinha no Carnaval uma paixão proibida, mas que sonhava que um dia podia ser rainha.
Foi trabalhando como atriz, ofício ao qual se dedica junto com a apresentação de eventos, que Yan conheceu e se aproximou da São Vicente, em uma recepção feita para a Associação Carnavalesca de Caxias do Sul. Convidada a desfilar, o carinho foi aumentando ano após ano. Estreando no posto de rainha da bateria, quer retribuir com muita entrega o acolhimento que recebeu nos últimos 10 anos:
- Não é todo mundo que tem a coragem de fazer diferente. Fiquei muito honrada com esse convite, porque irei ocupar um lugar que as pessoas trans nunca imaginaram que seria possível. Quero representar a escola com toda a grandiosidade que ela merece.
PROGRAME-SE
O desfile de Carnaval de Caxias do Sul tem início às 21h deste sábado, na Rua Plácido de Castro. Seis escolas irão desfilar, sendo que o tempo para cada uma é de 50 minutos. O intervalo entre uma e outra dever ser de 50 minutos. O evento é gratuito.