Foi na década de 1990, no Estado da Geórgia, nos Estados Unidos, que o trap começou a ser desenvolvido em locais periféricos, a partir do rap e do hip hop. Originalmente ligado ao tráfico de drogas e, às lutas nas ruas da cidade de Atlanta, era comum que as músicas pioneiras, introduzidas inicialmente pelo DJ Paul, tivessem batidas pesadas e letras que refletissem a realidade difícil vivida nas comunidades urbanas.
O encontro entre o ritmo e o Brasil começou no início dos anos 2010, quando artistas locais como Naio Rezende e Raffa Moreira, começaram a incorporar elementos do gênero em suas músicas. A fusão do trap com influências do funk carioca, do hip hop e da música eletrônica brasileira resultou em um estilo autêntico e inovador.
Nomes como Matuêe L7nnon que, aliás, se apresentaram em Caxias do Sul neste ano, contribuíram com a adaptação do trap ao contexto brasileiro. A popularidade de músicas como Kenny G e Foi Bom deram início à uma era de ouro para o gênero no país. À medida que a cena do ritmo crescia, outros artistas como PK, Sidoka, Mc Cabelinho e Djonga se destacaram, trazendo uma variedade de estilos e abordagens. Cada um contribuindo com histórias narradas sobre as próprias experiências e visões de mundo, tornando o ritmo rico em realidades diversas.
Aos poucos, o trap, que é considerado como subgênero do rap e hip hop, foi ganhando força em solo brasileiro até que, em junho deste ano, conseguiu um feito inédito: desbancar pela primeira vez o sertanejo como ritmo mais ouvido na playlist Top Brasil da plataforma Spotify, que reúne as principais músicas escutadas no país.
Trap nos palcos caxienses
Com letras contundentes e batidas cativantes, o ritmo é hoje um espelho das questões sociais, econômicas e políticas do Brasil, ocupando desde o ano passado espaços exclusivos em festivais como Rock in Rio e The Town, pioneiros em exibir nacional e internacionalmente o ritmo no Palco Favela, dedicado à artistas do gênero.
O palco, inclusive, foi inspiração para que vozes de comunidades gaúchas ganhassem espaço pela primeira vez na edição da Gramado Summit deste ano, que inspirada pelo Rock in Rio do ano passado, abriu o próprio Palco Favela com palestras e conversas sobre ideias inovadoras que surgiram dentro de comunidades do Rio Grande do Sul.
O ritmo vem sendo acompanhado pelos gaúchos há algum tempo e os pedidos de ouvintes começaram a chegar aos poucos na programação da Rádio Atlântida Serra e também Porto Alegre. Atualmente, artistas como Matuê, L7nnon, Xamã, Teto e WIU, estão entre os nomes comumente pedidos pelos ouvintes.
Em Caxias, além de ouvir a programação da rádio, a galera costumam frequentar espaços como Zero54 e CCUBO Multipalco. Os dois locais apresentam tanto músicas dos artistas mais populares da atualidade, quanto aqueles menos conhecidos. De acordo com o DJ ADR, 28 anos, que toca nos dois espaços, a ascensão do ritmo é percebida e mostra que o gênero é mais do que uma tendência passageira.
— Acredito que o trap vai continuar bastante tempo em destaque, porque essa nova geração, a geração mais nova, está consumindo bastante o ritmo. Como DJ e pesquisador de música, acredito que ainda veremos o boombap, como Racionais, por exemplo, voltar. Vejo o trap como um som experimental, mais cantado, que ganhou destaque durante a pandemia, mas o boombap é algo mais dançante. Acompanhando essa tendência e os gostos do público, que gostam de acompanhar os dois, acredito que o cenário é de continuar ganhando espaço entre as pessoas — menciona o DJ.
Outro ritmo que caminha ao lado do trap é o funk. Conforme o DJ, que toca há cinco anos em diferentes estados do país, o subgênero trap-funk vem ganhando cada vez mais fãs, que buscam frequentar espaços que tocam o estilo. Entre eles, estão pessoas que, segundo o DJ, estão presentes nas mais variadas classes de poder aquisitivo e não somente aquelas que fazem parte de comunidades.
Ascensão do trap
Atualmente, o trap no Brasil é uma força da indústria musical com uma base de fãs fervorosa e uma presença marcante nas paradas de sucesso. Com potencial para um futuro de evolução e influencia na música brasileira, o ritmo pode dar ainda mais voz às próximas gerações e refletir as próximas transformações em curso na sociedade, por meio do testemunho, da criatividade e da resiliência diante dos desafios, continuando a moldar a paisagem musical do Brasil e a inspirar novas gerações de artistas e ouvintes.
Confira os 10 principais nomes do trap no Brasil:
1. Veigh: O cantor mais popular do ritmo no Brasil, Veigh acumula 10,3 milhões de ouvintes no Spotify. Natural de São Paulo, uma das cidades mais influentes para a cena musical do Brasil, conta com um cachê de R$ 120 mil por show e apresenta músicas como Mais Um Dia, De Longe e Fogo no Olhar.
2. L7nnon: Natural do Rio de Janeiro, cidade que historicamente tem rica tradição musical, acumula 9,9 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Por show, recebe em torno de R$ 150 mil e apresenta os hits Foi Bom, Bem Pior e Dúvidas.
3. MC Cabelinho: O terceiro mais ouvido entre os trappers, MC Cabelinho também é natural do Rio de Janeiro. Conhecido também pelos papéis de Hugo na novela Vai Na Fé e Farula em Amor de Mãe, ambas produções da Rede Globo, se apresenta com um cachê de R$ 130 mil e acumula 9,7 milhões de ouvintes no Spotify. As principais músicas do artista são Amor de Balada, Vida de Solteiro e Faz de Conta.
4. Kayblack: Nascido em São Paulo, Kayblack ocupa o quarto lugar entre os artistas mais ouvidos do trap. Com 9,5 milhões de ouvintes mensais, o artista se apresenta com as faixas Vida Louca, No Sapatinho e Fica Tranquilo, recebendo o cachê que pode chegar a R$ 300 mil.
5. Vulgo FK: Nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais, leva para o trap uma perspectiva fora no nicho Rio-São Paulo. Com 9,2 milhões de ouvintes mensais, apresenta para o público as faixas Tipo Polícia, Dinheiro Voa e Avisa Que Eu Cheguei.
6. Xamã: Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, é conhecido pelas letras poéticas e introspectivas. Com um cachê de cerca de R$ 130 mil, por show, o artista acumula 9 milhões de ouvintes mensais no Spotify e apresenta hits como Malvadão 3, Quem Eu Sou e Escorpião.
7. WIU: Um dos nomes mais pedidos na Atlântida Serra, WIU é de São Paulo e ganhou notoriedade com os hits Rollie e Never Trust. O cantor, que conta com 7,2 milhões de ouvintes, se apresentou em Caxias do Sul este ano no CCUBO Multipalco, no dia 19 de março.
8. Orochi: Também do Rio de Janeiro, Orochi ganhou reconhecimento com músicas como Balão e Tô Gravando Um AVS. O cantor, com 7 milhões de ouvintes mensais, já chegou a negociar shows pelo cachê de R$ 500 mil.
9. Matuê: Um dos nomes mais conhecidos entre os fãs do gênero, Matuê é de Recife, Pernambuco, e ganhou espaço com as faixas Kenny G, Quem Manda É A 30 e Pior Que Sinto Falta. Com 6,9 milhões de ouvintes no Spotify, o artista, que também se apresentou em Caxias neste ano, ganha em média cerca de R$ 150 mil, por show.
10: Teto: Outro artista que se apresentou na maior cidade da Serra em 2023, o brasiliense Teto, acumula 6 milhões de ouvintes por mês e apresenta hits como My Baby e 100km/h.