Qual a idade para se fazer algo pela primeira vez? O caxiense Matusalem Roberto Ferreira é do time que acha que o único tempo que existe para viver é o agora. E por isso, aos 70 anos, após superar uma internação de 15 dias com Covid-19,o policial rodoviário federal aposentado estreou na literatura, com “Morena: uma história de amor e guerra”. Publicado pela Editora da UCS (Educs) em outubro do ano passado, a obra rendeu ao novato septuagenário nada menos que o Prêmio Vivita Cartier, dado ao melhor romance inscrito no 56º Concurso Anual Literário de Caxias do Sul.
Apaixonado por genealogias, Matusalem passou quatro anos pesquisando as origens da própria família. Conseguiu descobrir um parentesco com Vasco Fernandes Coutinho (Portugal, 1490 - 1561), primeiro donatário da capitania hereditária do Espírito Santo. A pesquisa rendeu um livro sobre o antepassado, mas também serviu para despertar o interesse literário no morador do bairro Sagrada Família, que buscou inspiração em Erico Verissimo e Josué Guimarães e se pôs a experimentar a escrita criativa.
– Tendo trabalhado a vida toda como policial e sendo ex-estudante de Direito, meu vocabulário era muito distante do literário. Para melhorar minha escrita, além de ler muita literatura com um olhar mais atento, fiz o curso Licença Poética, na UCS Sênior, que também me ajudou muito. Com o livro pronto, ainda esbarrava no custo para publicar. Só depois de ter visto a morte muito de perto quando peguei Covid é que decidi que esse sonho não podia mais esperar – conta Matusalem, que, além do troféu, recebeu R$ 9 mil em dinheiro como premiação pelo livro.
Ficção com profundo resgate histórico, que recebeu leituras do historiador Luiz Antônio Alves e do jornalista Dinarte Albuquerque antes de ir para avaliação do comitê editorial da Educs, “Morena…” acompanha a saga desde a adolescência até a morte de Carolina, personagem fictícia, mas inspirada na avó do autor, que nasceu e cresceu nos Campos de Cima da Serra, e morreu em Porto Alegre. Tendo como pano de fundo a Revolução Federalista, também chamada de “Guerra da Degola” e outros conflitos que mancharam de sangue o final do século 19 e as primeiras décadas do século 20 no Sul do país, a protagonista vive os dramas de ser mulher numa realidade ainda mais hostil com o sexo feminino. A história que se desenrola é de tentativa de sobreviver e alcançar redenção numa época em que “tudo se resolvia na adaga”, como explica o autor:
– Eu cresci ouvindo histórias contadas pelo meu avô à beira do fogão, numa casa que só era iluminada por um lampião, e acho que esse livro traz um pouco do fascínio pelas lendas gaúchas, especialmente aquelas transmitidas oralmente de geração para geração, mas que parece que estão morrendo com a perda dos velhos hábitos de contação de histórias.
A obra pode ser adquirida na Do Arco da Velha Livraria e Café ou pelo site da Educs, com preço médio de R$ 60.