Karla, Marilisa e Favorino são três caxienses que não se conhecem, mas que compartilham algumas coisas em comum. Uma delas é que todos, em algum momento, passaram por um período de sofrimento emocional. Outra é que esse sentimento se manifestou em suas peles, provocando neles a mesma doença: o vitiligo.
Uma terceira coisa em comum é que todos tiveram de aprender a lidar com os olhares curiosos, comentários maldosos e situações constrangedoras, muitas vezes provocadas pelo desconhecimento mais básico que se tem em torno da doença, cuja principal característica é a descoloração da pele, que provoca manchas brancas pelo corpo.
– As pessoas que não conhecem acham que é contagiosa. Uma vez eu estava no ônibus com a mão exposta, e uma senhora não quis colocar a mão onde a minha estava antes. Aquilo me doeu muito. Vi que ela estava com medo de ficar perto de mim – conta Marilisa Brando, 60 anos, que convive com o vitiligo desde os 27.
Assim como aconteceu com Marilise, é comum a outras pessoas que têm a doença sofrer com o preconceito de quem pensa que o vitiligo é contagioso. Não é, como esclarece a médica dermatologista caxiense Roberta Pansera.
– O vitiligo é uma doença que se caracteriza por perda da pigmentação da pele, devido à diminuição ou parada de produção de melanina pelos melanócitos, que são as células que dão pigmento à pele, causando manchas brancas de diferentes tamanhos em cada indivíduo. Não é contagiosa e quem é portador pode ter contato físico, como abraçar, beijar, usar mesmos utensílios domésticos, ou seja, ter uma vida social como qualquer pessoa – explica a médica.
A doença, que também afeta uma das participantes da atual edição do Big Brother Brasil, a mineira Natália Deodato, que teve o diagnóstico na infância, pode aparecer em qualquer momento da vida. Multifatorial e de predisposição genética (30% dos pacientes têm parentes com vitiligo), tem como principal disparador o fator emocional, manifestando-se na maioria das vezes após algum episódio de forte carga de estresse ou preocupação. No caso de Marilisa Brando, as primeiras manchas começaram a aparecer na ponta dos dedos cerca de um mês após a perda do irmão, morto assassinado.
– Foram duas semanas em que fiquei em estado de choque, sem reação alguma. Quando havia passado cerca de um mês, comecei a notar que as pontas dos dedos estavam ficando brancas. Fui ao médico, e quando ele disse que era vitiligo, e que não tinha cura, fiquei ainda mais nervosa. As manchas começaram a aparecer no rosto, nos cotovelos, nos pés, nas partes íntimas... mas o tratamento fez melhorar bastante. Também surgiram algumas mechas brancas no cabelo, antes dele branquear todo com a idade – conta a dona de casa.
INVESTIGAR É FUNDAMENTAL
No corpo de Favorino Cavalli, 63, o vitiligo surgiu de forma um pouco mais tardia, mas também após um momento de intensa preocupação. Ele tinha 55 anos e a empresa onde trabalhava passava por uma fase de demissões em massa, que se estendeu por mais de um ano de apreensão. Quando, enfim, Favorino foi demitido, as manchas não demoraram para aparecer.
– Eu cheguei em casa depois de um jogo do Caxias, fazia muito calor e fui lavar o rosto. Quando me olhei no espelho, percebi as manchas. Sabia que era um sinal do corpo para responder ao estresse que eu vinha passando. Iniciei o tratamento e as manchas no rosto regrediram, mas nas mãos e nos pés ficaram. No começo foi um baque, mas conforme a gente entende que não tem cura, vai se acostumando. Para mim é muito natural – conta o morador do bairro Pioneiro.
Marilisa e Favorino desenvolveram o vitiligo em sua forma mais leve e também mais comum, quando não se associa a outras doenças e não evolui para nada além do crescimento das manchas, que não provocam dor (exceto quando a pessoa descuida na exposição ao sol). No entanto, é preciso estar atento e monitorando sempre:
– É fundamental que se faça a investigação, em pacientes com vitiligo, de doenças associadas a tireoide, a deficiência de vitamina B12 e outras doenças autoimunes. É uma doença que até o momento não tem cura definitiva, mas existem opções de tratamentos para controle e pigmentação da pele, como cremes, medicamentos orais, fototerapia, laserterapia, cirurgia com transplante de melanócitos e micropigmentação. Controlar o estresse é outra medida bem-vinda, assim como evitar roupas muito apertadas, ou que podem causar atrito sobre a pele, contribui para a redução do surgimento de novas manchas ou o aumento das existentes – explica a dermatologista Roberta Pansera.