— Etnerf arp sàrt ed olaf ue e oivàtO è emon uem.
Se você não entendeu a primeira frase dessa reportagem é porque não tem a mesma habilidade do estudante caxiense Otávio Cardoso Dal Pizzol, de 9 anos. A partir de uma brincadeira com a família, o garoto começou a pronunciar palavras de trás para frente. Com o passar dos dias, conseguiu formar frases e até decorar letras de músicas ao contrário. Um talento registrado em vários vídeos que os pais gravaram, postaram e que fizeram sucesso nas redes sociais.
— Ele começou imitando o Tadeu Schmidt, que invertia o nome dos jogadores quando faziam gol contra, no Fantástico. O Otávio sempre queria falar antes e mais rápido do que ele. Aí, o irmão, de 10 anos, começou a instigar, pedindo outras palavras. Nos impressionou muito quando ele começou a cantar e inverter palavras mais difíceis. Então, o incentivamos a continuar essa brincadeira – comenta o pai do Otávio, o diretor comercial Thiago Dal Pizzol, 33.
Mas, o que impressiona é a agilidade com que o garoto responde aos desafiantes. Na maioria das vezes, tios, amigos da família e colegas. Em segundos, ele põe em sentido contrário palavras grandes como “inconstitucionalissimamente” e faz parecer fácil a inversão da lógica.
— As pessoas já chegam me falando: "Otávio, fala isso, fala aquilo que eu quero ver se tu sabe". Aí, eu respondo para elas verem que eu tenho esse talento – brinca o estudante do 4º ano.
Segundo o neurocientista da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Lucas Fürstenau de Oliveira, Otávio integra um grupo de pessoas que têm a habilidade natural de explorar a programação motora que produz as palavras. Ele explica que a fala é composta por uma sequência de palavras que, quando pronunciadas, emitem seus sons característicos, os chamados fonemas. A maior parte das pessoas automatiza certas sequências de fonemas, aquelas palavras que são utilizadas corriqueiramente, e trava naquelas que não são utilizadas com frequência ou que são mais difíceis. No caso do Otávio, essa dificuldade não existe ou é inexpressiva.
— Esse menino apresenta duas características que facilitam a habilidade dele. Uma delas é o que a gente chama de “memória de trabalho”, que é a capacidade de guardar informação ativamente na cabeça. Ele tem a memória grande o suficiente para guardar todas as palavras que estão sendo ditas em uma frase. A outra é que ele criou o hábito de conseguir inverter a sequência de movimentos que geram os fonemas. Essa programação é automatizada para ser executada sempre de um determinado jeito. Esse menino parece conseguir inverter essa programação — constata o especialista.
Para testar a habilidade de Otávio, a reportagem visitou alguns vizinhos na companhia do garoto, que mora no bairro Rio Branco. E, alguns, se impressionaram. A professora Raquel Bortoluz pediu para que ele invertesse a frase “eu sou uma vizinha muito legal e que tu gosta muito”. Otávio fez inversão em segundos e o resultado surpreendeu até quem já está acostumado às brincadeiras da oralidade.
— Ele está de parabéns porque não é fácil inverter uma frase inteira, sem erro e com essa velocidade — elogiou Raquel .
Não satisfeitos, desafiamos Otávio para uma atividade fora da zona de conforto dele: escrever seu nome ao contrário. Essa tarefa demorou um pouquinho mais... mas também foi cumprida! Outra habilidade de quem, desde cedo, vê o mundo de uma perspectiva bem diferente.
— É engraçado porque, desde muito pequeno, ele sempre teve a mania de colocar as coisas ao contrário. Ele põe cueca ao contrário, calça ao contrário, camiseta ao contrário. Toda a hora a gente tá dizendo: “Otávio, tá com a camiseta ao contrário” e ele não percebe isso — recorda o pai.
Segundo o neurocientista, o ato de inverter palavras não é exclusivo de quem traz essa facilidade que Otávio tem na verbalização das palavras e pode ser desenvolvido por meio de treinos, mas, ainda assim, dentro da limitação de cada um.
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