Muitos sonham e idealizam sua vida como se fosse um filme de aventura. Um mundo sem trabalho formal, sem boletos a pagar, sem portas, nem grades. Enfim, uma vida a ser encarada com o frescor da jovialidade e o requinte de fazer o que se bem quiser. Muitos sonham e idealizam, mas poucos têm essa vida. O que nos falta?
Se avaliarmos a história do casal aventureiro Bruna e Luiz Fernando Jaeger, os mil empecilhos foram pro espaço, porque tomados de coragem, desapego e amor, têm o mundo aos seus pés. Esse estilo de vida foi retratado pelo fotógrafo Lucas Lermen, cujas fotos estão em livro e exposição que abre para visitação na quinta-feira, dia 9, às 19h, na Galeria de Artes do Centro de Cultura Ordovás, em Caxias.
A Jornada é mais do que um documentário fotográfico da vida do casal de viajantes, porque Lucas permitiu-se a viver como eles durante os oito dias em que encarou a estrada dentro da Kombi de Luiz e Bruna, em janeiro de 2017.
— Eu tinha de viver como eles e não apenas sair fotografando — argumenta Lucas, 28 anos.
Para se ter uma ideia, explica Lucas, quando fotografa um casamento, ele chega a fazer de 6 a 7 mil cliques. Enquanto que em uma viagem como essa, de pouco mais de uma semana, Lucas fez apenas 2 mil fotos. Ainda parece muito para quem não vive da arte de fotografar, mas é quase nada, justifica Lucas. Mais importava viver do que fotografar, e só por este aspecto A Jornada é uma documento de confronto. Primeiro, particular, porque Lucas nunca foi um cara da aventura, sequer gostava de acampar.
— Só isso já foi um desafio pra mim. Sabe que eu imaginei que ia ser mais roots, que até ia passar fome, mas aprendi que se pode viver com muito pouco — observa Lucas.
Sobreviver com pouco dinheiro e viver com muito mais tempo. Parece papo de doido ou de gente utópica, mas através desse estilo de vida, Bruna e Luiz provam que essa aventura é mais do que sonho, é realidade.
— Nosso custo de vida hoje é bem menor na estrada, porque não temos de pagar boletos de água, luz e aluguel, nem precisamos de Netflix, ou até coisas que tu te obriga a pagar pra ter uma vida convencional. Vivendo na cidade não temos tempo para ver a beleza da vida, porque é como se o tempo escorrega-se das mãos. Viver na estrada me fez abrir os olhos e perceber que um dia não tem 24h, mas 48h, por causa da intensidade com que se vive — explica Bruna.
— Eu achei a minha praia. Eu me sinto num habitat natural quando estou na estrada. Nós já tínhamos uma vida simples, mas simplicidade mesmo é viver dentro de um carro, porque tudo que precisamos está na Kombi — conta Luiz, que conheceu a Bruna em 2014, por conta de uma viagem com os amigos. Estão casados desde 2015.
Esse amor à primeira viagem fez com que eles abandonassem a vida de emprego formal, de casa normal, de perspectivas tradicionais de um jovem casal, para encarar uma nova realidade. Mas, afinal de contas, vivem de que, nos pergunta o pragmático.
— Sempre nos perguntam isso — diverte-se Luiz, que complementa:
— Eu era corretor de imóveis e a Bruna trabalhava na área comercial de um estúdio de fotografia. Então, além de um dinheiro guardado, a Bruna é web designer e pode trabalhar a partir de qualquer lugar.
— Esse estilo de viagem mais longa mudou nossa percepção. É muito mais barato viver assim do que imaginávamos. Às vezes até nos convidam para comer na casa de pessoas que conhecemos nas cidades onde estamos — revela Bruna.
A mostra A Jornada tem 40 fotografias e o livro 50 páginas, que servem como um recorte dessa viagem através de lugares lindos da América do Sul. Mas é unânime nos relatos de Bruna, Luiz e Lucas, de que a inquietude é libertada na estrada. É como se a travessia exterior desse conta de percorrer caminhos da alma, inacessíveis de outra forma.
— É difícil explicar a sucessão de acontecimentos positivos que ocorrem desde que se cruza a primeira fronteira do Brasil — revela Luiz.
Há coisas na vida em que só é possível sentir ao viver. Eis então o convite dos aventureiros para que a estrada seja a porta de entrada dessa doce vertigem para dentro de nós mesmos.
AGENDE-SE
O quê: A Jornada, abertura da exposição e lançamento do livro do fotógrafo Lucas Lermen
Quando: de quinta-feira, dia 9 de maio até 10 de junho. Visitas de segunda a sexta-feira, das 9h às 22h, e sábados, domingos e feriados, das 16h às 22h
Onde: Galeria de Artes do Centro de Cultura Ordovás
Curadoria: Alessandro Ruaro
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