Compreender nossas experiências singulares e ao mesmo tempo compartilhadas neste espaço que chamamos de cidade, com todas as referências de mundo que se integram nessa compreensão, é algo que nos torna parte de uma comunidade. Este olhar para a cidade, que é, de certo modo, um olhar para o outro, deve ser um processo contínuo. A experiência de urbanidade é ponto crucial para a transformação do nosso olhar.
A literatura projeta horizontes, projeta também uma camada literária sobre a cidade, quando fala sobre ela, quando constitui personagens que a vivem ou quando são os escritores, escritoras, mediadoras, ilustradores, contadoras, professores, organizadoras, bibliotecários, livreiras, leitores e leitoras a circular pelas ruas, praças, teatros, palcos, etc. A literatura nos desperta, porque nos oferece ferramentas e jeitos novos de ver o mundo. Modos de compreender as transformações, modos de compreender nossa cidade que é sempre um devir-cidade, ou seja, uma cidade que se pensa e se quer transformada para ser algo mais humano, mais próximo do que desejamos. Isso acontece, vejam bem, justamente porque a experiência de urbanidade, a literatura, os compartilhamentos, os diálogos, a fricção constante dos pensamentos propõem e projetam a todo o momento horizontes.
Quando um sujeito enquadra, por assim dizer, a paisagem, quando ele escolhe os elementos físicos e simbólicos que a compõem e os relaciona, por exemplo, a praça, o verde, as flores, as histórias, as gentes, a carga das pedras, as bancas, a chuva, ele também compõem um pensamento-paisagem. É a interação intelectual que o sujeito tem com o mundo, sua experiência de urbanidade, que torna o mundo visível para o sujeito. O invisível é o horizonte, a potência a qual o sujeito ainda não atribuiu sentido. O horizonte nos oferece um contorno provisório que é sempre passível de distanciamento, reorganizando a paisagem e nos convidando a ampliar ou prolongar o que vemos pela via da imaginação. Esse desejo de adiar o horizonte é também um desejo de estender a paisagem, pois ambos são inseparáveis. A relação afetiva que se cria entre o sujeito e a paisagem pode ser entendida por meio do desejo de projeção do horizonte.
Eu vi uma Feira do Livro potente, bonita, comprometida, feita de pessoas competentes dribladoras de entraves. Duzentas e trinta mil pessoas! É muita gente mesmo! Quase cinquenta e oito mil livros vendidos. Quanto empenho, quanta força transformadora, quantos desejos projetados, quantas composições novas de cidade. E quanto fazer poético. Eu aprendi tanto nesta Feira do Livro. No meu horizonte quero e vejo se delineando uma bela feira em 2018. Espero que nossos horizontes se cruzem!