Fruto da união musical entre a flautista Paula Pascheto e a pianista Júlia Tygel, que se conheceram na pós-graduação em música na Universidade de São Paulo (USP), o Duo Flutuart chega a Caxias do Sul nesta quarta-feira para a primeira apresentação no Rio Grande do Sul. A dupla presta homenagem à compositora, pianista e regente Chiquinha Gonzaga, que em 2017 faria 170 anos. Trata-se de um resgate da obra de uma das mais importantes artistas da música brasileira, cuja vida pode ser considerada um ato de resistência.
– Além de ter inaugurado uma carreira de musicista para a mulher no Brasil, a Chiquinha tinha uma inserção política muito forte, não só a favor da abolição da escravatura, mas também com uma luta feminista muito importante. Ela se casou três vezes, teve que abrir mão da guarda dos filhos, era muito boêmia. Quando tinha 52 anos, juntou-se com um rapaz de 16 anos, tendo que registrá-lo como filho. Se fosse um homem mais velho com uma jovem, talvez não tivesse a mesma repercussão – analisa Paula Pacheto.
Enquanto compositora, o legado de mais de 2 mil músicas deixado por Chiquinha chama a atenção pela diversidade de ritmos: polcas, valsas, fados, tangos, habaneras, quadrilhas, serenatas, além de peças sacras e marchas como a clássica Ó Abre Alas, escrita para o carnaval de 1899 e considerada a primeira do gênero. Paula Pascheto brinca que a versatilidade de Chiquinha tem muito a ver com a necessidade, como boa brasileira:
– Além de dar aulas de piano e tocar, ela vendia partituras de porta em porta. Acho que essa diversidade da obra dela se dá pela necessidade de sobrevivência mesmo, algo que é do brasileiro. A gente é criativo por necessidade (risos).
O tributo é dividido em três partes, que abordam diferentes fases da biografia da compositora: A Feminista, Chiquinha e Callado e A Abolicionista. Enquanto a primeira e a última são auto explicativas, a segunda parte contempla o período em que Chiquinha integrou o grupo Chôro Carioca, a convite do flautista Joaquim Callado, um dos pais do choro. A flautista do Flutuart acrescenta que uma das propostas do tributo é ser menos formal do que concertos eruditos, como forma de tornar mais interativo e, assim, mais atraente para o público geral.
– A gente dá uma roupagem mais descontraída em relação à formalidade da música erudita, que muitas vezes afasta o público. Isso se dá principalmente na conversa com a plateia Não é aquele espetáculo em que o grupo entra no palco, toca e sai sem falar nada. A gente tenta aproximar a plateia como parte da realização artística – comenta.
Serviço
O que: Concerto Duo Flutuart – 170 anos de Chiquinha Gonzaga
Quando: Quarta-feira (24), às 19h30min
Onde: Teatro do Sesc (Rua Moreira César, 2.462)
Quanto: R$ 15 (para o público em geral), R$ 12 (para empresários e dependentes com Cartão Sesc/Senac, classe artística, estudantes e idosos) e R$ 10 (para comerciários e dependentes com Cartão Sesc/Senac).