Um panfleto faz presumir que a greve dos professores poderá ser deflagrada na semana vindoura. Em suas camisetas a inscrição: "Nenhum direito a menos". Justo. Concordo. O mesmo que dizer: "direito a todos os direitos". Perfeito. Tal cessação voluntária ao trabalho não é a primeira. Nem será a última. Sobram razões. Sou e estou plenamente solidário ao magistério. Com um pequeno reparo: politizaram demais a radical aversão aos atuais governantes, pegando pesado na forma e no conteúdo. E não que eu morra de amores por eles ou tenha procuração para defendê-los, que nem é o caso e nem eu quereria. Só que a intransigência odiosa, por maior culpabilidade dos ditos cujos, se opõe à prudência, enquanto a resiliência e o determinismo na luta conduzem à reconciliação pacífica e honrosa.
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Não esqueçamos que os filhotes das tais heranças malditas fazem parte das dinastias dos algozes. Cada um se aproveita, oportunista e sadicamente, para golpear o saco de pancadas. O diabo sabe mais por velhice do que por diabruras. Os vilões da hora só azedaram o caldo malévolo e maquiavélico. Quando deveriam fazer o inverso: recuperar o tempo e o dinheiro perdidos dessa gente sofrida. Não dá para engolir tamanha melancia de avareza.
Todavia, eu lembro bem que essa causa nobre, essa guerra santa dos professores não é de hoje. Pelo contrário: tem conotações históricas. As reivindicações ultrapassam quatro décadas, desfiando a prepotência da politicalha. Com grandes desgastes, algumas poucas conquistas, muitas incompreensões, sob o tacão de ferro do aviltamento e acorrentados pelos grilhões da degradação profissional.
Tenho e mantenho o maior apreço pelos professores. Já fui um deles na UCS – com greves e tudo. Com meus velhos e queridos mestres aprendi a ler, a escrever e a me aculturar. O resto veio ao natural. Sem eles eu não seria coisa nenhuma. Respeito-os com minha eterna gratidão. Os "Profes" merecem um hino de amor.
Se há categorias malvistas em movimentos grevistas, por parecer constrangedor, essas incluem professores, médicos e policiais. Reparem: logo as três áreas basilares da sociedade – educação, saúde e segurança. Há alunos que precisam ser ensinados, doentes para tratar e cidadãos que clamam proteção. Tenho certeza que esses dedicados obreiros ficam aborrecidos, se reprimem e se deprimem. Mas, quem vai quitar as suas contas? O maná não irá cair de graça. Está bem que nem só de pão vive o homem, mas até a padaria da esquina não perdoa a dívida do pão nosso de cada dia, nem mesmo a do pão que o diabo continua amassando...
Opinião
Francisco Michielin: professores em pé de greve
"Cada um se aproveita, oportunista e sadicamente, para golpear o saco de pancadas"
Francisco Michielin
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