Uma poesia simples, criativa e genuinamente brasileira. Assim é a aldravía, poema em até seis versos de uma palavra cada, sem exigências quanto à métrica ou à rima, que surgiu em Mariana (MG) no início dos anos 2000 e, recentemente, desembarcou em Caxias do Sul. Nesta quarta-feira à noite, os adeptos locais do Movimento Aldravista reúnem-se para o seu sexto encontro, no café Do Arco da Velha, no térreo da Casa da Cultura – e, avisam, quem se interessar pode aparecer por lá, entre as 18h30min e as 20h.
– Quem conhece a aldravía, se encanta, principalmente pela liberdade de escrever – garante a poeta Lucí Barbijan, que descobriu esse tipo de poesia ano passado e trouxe o movimento para a cidade.
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Antes de falar mais da poesia em si, entretanto, vale explicar de onde vem esse nome. "Aldravía" deriva da palavra "aldrava", uma espécie de argola ou batedor de metal que antigamente se utilizava para bater às portas. E é isso que o movimento pretende: fazer as portas se abrirem para uma nova poesia, que traduz aquilo que o poeta vê, levando quem lê a pensar e a reinterpretar o cotidiano.
Lucí destaca que é forte na aldravía o uso da metonímia (figura de linguagem em que a palavra utilizada remete a outra com a qual mantém afinidade). Assim, não basta simplesmente largar palavras ao acaso: é preciso ter um significado em mente, sintetizando ao máximo, poeticamente, a ideia de quem escreve.
– É preciso fazer o leitor pensar, chegar a uma conclusão – ensina a poeta.
Entre os pioneiros da aldravía estão os mineiros Gabriel Bicalho, J.B. Donadon-Leal e Andreia Donadon Leal, que já organizaram diversos livros com o novo estilo – alguns traduzidos para outros idiomas, do espanhol ao romeno.
Por aqui, os encontros têm acontecido sempre na segunda quarta-feira do mês, mas a ideia é aumentar a frequência. O grupo até conseguiu uma pequena aldrava, cuja batida marca o início e o fim das reuniões. Entre uma batida e outra, fala-se do conceito de aldravía para quem está participando da primeira vez, depois há leitura de produções e, claro, é lançado um tema para todos escreverem. Desta vez, o desafio será escrever utilizando-se de antíteses, ou seja, oposições.
A organizadora conta que, até o final do ano, a intenção é lançar um livro de aldravías produzidas pelos participantes locais, além de tentar levar o novo estilo a escolas.
Saiba mais
Geralmente usa-se minúsculas nas aldravías. Além disso, quando se usa menos de seis palavras, os versos restantes são preenchidos com til (~).
Algumas aldravías, por Lucí Barbijan:
insônia
!
culpem
inspiração
aldravista
~~~~
ofereço
flores
vida
levo
flores
morte
Agende-se
O que: encontro do Movimento Aldravista
Quando: nesta quarta, às 18h30min
Onde: Do Arco da Velha Café (Rua Dr. Montauri, 1.333), no térreo da Casa da Cultura, em Caxias do Sul
Quanto: entrada franca
Literatura
Movimento Aldravista tem reunião nesta quarta-feira, em Caxias do Sul
Conheça a aldravía, poesia de seis versos nascida em solo brasileiro
Maristela Scheuer Deves
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