

Ocupando um papel importante na regulação térmica do planeta, influenciando o clima e as condições de vida na Terra, o continente antártico é o cenário de uma missão científica que tem acadêmica da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Rafaele Frassini, 34 anos como única representante gaúcha. Trata-se da Missão 35, formada por um grupo de quatro pesquisadores brasileiros que desembarcaram na Antártida (ou Antártica) no fim de outubro para realizar, até o dia 17 de dezembro, a coleta de macroalgas antárticas que serão utilizadas em diversos estudos no Brasil.
Leia mais
Confira as atividades do final de semana em Caxias e região
Pesquisadora do Instituto de Biotecnologia da UCS, Rafaele está finalizando um doutorado no Laboratório de Genômica Proteômica e Reparo de DNA, iniciado em 2013, cujo objetivo principal é identificar compostos com atividade antitumoral oriundos de algas do continente gelado.

O uso popular das algas já é comum entre os povos asiáticos, como por exemplo, no combate a problemas vasculares e desordens glandulares, além, de serem excelentes fontes de fibras. Por viverem em condições extremas, como temperaturas extremamente baixas e longos períodos debaixo d’água, o que exige uma grande capacidade de adaptação ao ambiente, desenvolvem substâncias específicas cuja capacidade de combate a células tumorais é testada no instituto.
A vida vista do alto: histórias de quem está acima da média no quesito é altura
Empresa de Garibaldi oferece passeio imersivo na confecção do vidro
Tríssia Ordovás Sartori: a pós-verdade dos relacionamentos
Depois de coletadas, as algas são desidratadas, trituradas e misturadas a solventes capazes de extrair esses compostos, que são aplicados nas células cancerígenas armazenadas no laboratório.
– São feitos testes com diferentes concentrações dos compostos para verificar quais matam 50% das células tumorais. Os que se mostrarem eficazes são candidatos a uma nova fase do estudo, na qual será feito o isolamento do princípio ativo. Após muitos anos de pesquisa, poderão virar medicamentos contra o câncer. Meu trabalho é uma pecinha nesse quebra-cabeça – explica Rafaele, que tem a orientação dos pesquisadores Dra. Mariana Roesch Ely e Dr. João Antonio Pegas Henriques.

Das 12 amostras analisadas desde o começo da pesquisa, sendo três espécies pardas (Desmarestia anceps, Ascoseira mirabilis e Cytosphaera jacquinotii) e uma vermelha (Iridaea cordata), três mostraram potencial antitumoral e continuarão sendo estudadas.
Treinamento
Antes de embarcar rumo ao Polo Sul, Rafaele e os demais pesquisadores passaram por um treinamento pré-antártico no qual receberam instruções a respeito das condições que iriam encontrar. O preparo incluiu informações sobre meio ambiente, riscos e alimentação, além de uma prova de aptidão física. Na Antártida, as temperaturas ficam em torno de 20 graus negativos.
:: O governo brasileiro promove a pesquisa no Continente Antártico através do ProAntar (Programa Antártico Brasileiro) coordenado pela Marinha do Brasil.
:: A Missão 35 é fomentada pela agência nacional Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sob projeto cujo proponente é o professor Dr. Pio Colepicolo (Universidade de São Paulo)