Quem testemunhou, recorda até hoje. Quem correu, não esquece. E até quem não viveu aqueles tempos sente saudade. Falamos das lendárias corridas de carreteiras (à época chamadas "carreteras"), quem ferveram as estradas da Serra e do Estados nos anos 1940, 1950 e 1960. E um de seus mais emblemáticos personagens ganha novo reconhecimento nesta sexta-feira (4), no Clube Aliança, em Bento Gonçalves. É onde ocorre o lançamento da biografia ilustrada Aristides Bertuol - O Piloto da Carretera Nº 4 – o livro, aliás, chega em uma data especial: no ano em que se comemora o centenário de nascimento do piloto (1916-1979).
Com pesquisa histórica de Gilberto Mejolaro, textos do jornalista Fabiano Mazzotti e um vasto material fotográfico inédito, a publicação mapeia a trajetória do piloto e as curiosidades das 60 corridas das quais participou. Entre elas a pioneira Copa Rio Grande do Sul, disputada em 26 de setembro de 1948, com um Chevrolet Sedanete; o 4º Grande Prêmio Cidade de São Paulo, em Interlagos, em 19 de março de 1949, quando faturou sua primeira vitória; as copas e circuitos da Festa da Uva de 1950 e 1958; e a derradeira 3 Horas de Guaporé, em 21 de dezembro de 1969. No total, foram 14 vitórias, sete segundos lugares e seis terceiros.
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Era de ouro
Conforme Mazzotti, as corridas de carreteras marcaram um período de ouro do automobilismo brasileiro e tiveram um significado especial na história do Rio Grande do Sul no pós-guerra, quando Bertuol começou a correr.
– A Copa Rio Grande do Sul, em 1948, contribuiu para que as estradas do Rio Grande do Sul fossem conhecidas por outras regiões. O governo do Estado utilizava as estradas como divulgação dessa malha rodoviária, e os meios de comunicação faziam uso dessas corridas para se aproximar da população. Várias rádios e jornais tinham provas com seus nomes – completa.
O livro é também uma espécie de presente de ídolo para fãs (dele e do automobilismo), graças ao cuidadoso acervo mantido pela família. Bertuol zelava por cada recordação ligada à sua participação nas corridas: recortes de jornal, revistas, fotografias, medalhas, troféus e diplomas. Algo que, secreta e possivelmente, traduzia uma vontade de contar a todos, no futuro, todas as aventuras vividas na época de ouro do automobilismo.
– Era impressionante ver a massa que ia para as estradas acompanhar as provas. Não apenas para ver o Aristides, mas um contexto de pilotos gaúchos que tiveram um enorme significado no automobilismo nacional (Diogo Ellwanger, os irmãos Julio e Catharino Andreatta, Argemiro Pretto, Oscar Bay, entre outros). Em Interlagos (SP) e no Rio de Janeiro, os pilotos do RS eram sempre convidados, para conceder mais nível às disputas. Isso porque eles eram muito bons, eram os campeões das estradas – finaliza Mazzotti.
Prefácio
O prefácio assinado por Émerson Fittipaldi remete a uma ligação da família com Aristides Bertuol iniciada no início dos anos 1950, quando o pai de Émerson, Wilson (o Barão), organizava provas em São Paulo.
Em 1951, Barão veio ao RS convidar os pilotos para o Grande Prêmio Automobilístico Getúlio Vargas, visita que se repetiu em 1956, com os filhos Émerson e Wilson.
Como lembrança, foi tirada uma fotografia na ponte do Rio das Antas, um dos tantos episódios que marcaram um vínculo de décadas entre os Bertuol e os Fittipaldi.
O número 4
Embora tenha disputado corridas com diferentes números, o 4 foi o mais adotado por ter sido o seu número de estreia de Aristides Bertuol como piloto, na Copa Rio Grande do Sul, em 1948 – a organização sorteou somente algarismos pares entre os corredores, em função da superstição com o número 13.
O 4 tirado por ele acompanhou-o em 43 das 60 corridas que disputou. Além das portas do carro, o número podia ser pintado na traseira ou no teto. Isso permitia uma fácil identificação dos veículos pelos aviões, na época usados para repassar as informações transmitidas pelas emissoras de rádio.
Filme raro
Durante a solenidade também será apresentado um filme raro de uma corrida de carreteras com largada e chegada em Bento Gonçalves. Trata-se do I Circuito da Boa Vizinhança, ocorrido em 22 de julho de 1951 e vencido por Bertuol (foto acima).
O roteiro incluiu passagens por Guaporé, Passo Fundo, Lagoa Vermelha, Vacaria e Caxias do Sul. A produção de 10 minutos é da Tomazoni Film, de Porto Alegre, e foi patrocinada pela fábrica Angelo Milani & Cia Ltda, indústria de destilados que existiu em Bento entre os anos 1940 e 1970.
PROGRAME-SE
:: O que: lançamento do livro Aristides Bertuol - O Piloto da Carretera Nº 4
:: Quando: nesta sexta-feira (4), às 19h30min
:: Onde: Clube Aliança (Rua Rua Marechal Deodoro, 127, Centro – Bento Gonçalves)
:: Quanto: R$ 50 (preço promocional). No dia 9, às 19h, a obra será lançada na Feira do Livro de Porto Alegre. O valor será de r$ 90