Para muita gente de boa cepa, o Sete de Setembro novamente desfilou ostentando crise de identidade. É que já não se fazem comemorações como antigamente. Para o bem ou para o mal, mudanças foram acontecendo ao longo do tempo. E nem estou eu aqui para polemizar. Cada época, evidentemente, possui suas peculiaridades inerentes. Costumes se modificam ou são readaptados de acordo com o processo evolutivo dos povos. O que nem sempre significa ordem e progresso.
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Outrora, a Semana da Pátria se emoldurava com celebrações intensamente participativas. Pontificava, em seu entorno, um admirável respeito, tão relevante e deslumbrante, a ponto de dignificar a cidadania em sua mais altaneira concepção. Sentíamos-nos orgulhosos, perfilados nos pátios escolares, cantando o Hino Nacional diariamente, durante a verde-louro semana, enquanto o pendão da esperança era hasteado com todo amor.
Mais do que tudo, esperava-se ansiosamente pelo desfile do dia sete. Os colégios caprichavam ao máximo para se apresentar com todo o garbo. Sobrava tempo para organizar e corrigir os pelotões, procurando acertar o passo, sempre espezinhados por aquela dúvida cruel: a batida do bumbo correspondia ao pé direito ou ao pé esquerdo? Como as bandas se constituíam no supremo objeto de consumo, os rapazolas disputavam ardorosa e ferrenhamente uma vaguinha, enfeitiçando as moçoilas com o rufar dos tambores e as sonoras clarinadas. Os que não conseguiam se frustravam aos prantos, à beira de um ataque de nervos. Todavia, a bossa terminou com o advento das charmosas gaitas (ou gatas…) escocesas das meninas do São Carlos…
De um modo geral, todos íamos para as ruas com o peito varonil e os braços fortes, sentido-nos banhados pelos raios vívidos, ao som do mar e a luz do céu profundo. Hoje, tudo mudou. As crianças e os jovens se situam às margens plácidas, sem a menor ideia de que vivem numa terra adorada e idolatrada e com a lambuja de um "lábaro estrelado". Talvez, por isso, eles preferem ficar deitados eternamente em berço esplêndido, à espera do futuro que nunca chega, mamando no seio da liberdade, sob o formoso céu risonho e límpido do impávido colosso. Ao fim e ao cabo, quem continua marchando, de verdade, é o povo heroico, padecendo as mazelas e sequelas das falcatruas e incompetências. Enquanto ainda há tempo, rezemos para que a mãe gentil salve, salve a Pátria Amada, acordando esse gigante adormecido pela própria natureza de seu sonho intenso. Antes que sobre nós a terra desça definitiva e irreversivelmente.
Opinião
Francisco Michielin: entre outras mil
Quem continua marchando, de verdade, é o povo heroico
Francisco Michielin
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