Cerca de 100 pessoas lotaram a Sala das Comissões da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul na noite desta sexta para opinar e tentar reverter uma decisão que, desde o ano passado, já está tomada pela prefeitura: a mudança da Feira do Livro para a Estação Férrea. O pedido para a audiência pública decorreu do anúncio, semana passada, de que os livreiros da cidade não participariam da feira caso ela deixasse a Praça Dante.
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A secretária da Cultura interina, Gabriela Dozza, apresentou novamente os argumentos defendidos pela administração para a transferência, como melhor infraestrutura e maior espaçamento entre as cerca de 50 bancas, além de um espaço infantil e juvenil. Ela também apresentou um mapa dos espaços, e citou as melhorias em segurança e estacionamento.
– Vim apresentar a nossa proposta. Temos definido pela administração municipal que a Feira será na Estação – iniciou Gabriela, anunciando que a edição 2016 também contemplará um encontro dos escritores youtubers.
A afirmação motivou uma espécie de burburinho na plateia ("Definido? O que estamos fazendo aqui, então?"), seguida da argumentação do presidente da Associção do Livreiros Caxienses (Alca), Cristiano Bartz Gomes.
– Não é só uma questão comercial – disse, lembrando que os livreiros é que começaram a Feira, há mais de 30 anos.
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Você prefere a Feira do Livro na Praça Dante ou na Estação Férrea? Por quê?
Gomes também questionou a necessidade de ampliação da Feira, colocada pelo poder público, ressaltando que a programação precisa crescer em qualidade, não quantidade. Enquanto ele falava, uma faixa com os dizeres "A Praça é do povo! Feira do Livro para todos" surgiu na plateia.
A abertura para os questionamentos do público fomentou a defesa pela Praça.
– Ano passado encontrei uma mulher na Feira, dizendo que passou pelo local por acaso (estava indo buscar um exame) e acabou comprando um livro usado por R$ 2. Essa mulher certamente não iria na Estação – exemplificou a escritora Maya Falks, primeira a falar.
Outro ponto levantado diz respeito às linhas de ônibus.
– Temos 61 linhas de ônibus para a praça, e só seis para a Estação. Por que criar criar novas linhas de ônibus para a Estação, se a maioria para na frente da Praça Dante? – questionou uma debatedora.
Idalice Manchini , representante do Sindilojas, manifestou apoio da entidade aos livreiros e argumentou que houve falta de diálogo por parte do poder público antes de tomar "uma decisão tão significativa".
– Não há feira sem os livreiros, nem sem o apoio do poder público. Precisamos dos dois. E o público está no Centro, então não se pode ter uma decisão tão inflexível. Ela ainda poderia ser revertida – comentou.
A representante do Conselho Municipal de Cultura, Maria Cecília Pozza, declarou que os livreiros tiveram, sim, oportunidade de discutir a mudança, porém restringiram-se a dizer "não queremos". Lembrou também que um decreto de 2001 determina que compete à prefeitura definir o espaço da Feira do Livro.
– O fato de ter o decreto não significa que a decisão precise ser tão autoritária – retrucou a manifestante seguinte, Sueli Cardoso, da livraria O Colecionador, ressaltando que os livreiros foram pegos de surpresa no início do ano passado, quando o município anunciou, pela imprensa, que haveria a mudança, sem que os livreiros fossem consultados com antecedência.
Ao final da audiência, alguns vereadores que estavam presentes também se manifestaram, defendendo a permanência da Feira do Livro na praça. O chefe de gabinete do município, Paulo Dahmer também se manifestou, e sugeriu que os livreiros analisem fazer a Feira deste ano na estação, lembrando que lá também é praça (Praça das Feiras e Praça do Trem), e que, se não der certo, voltem no próximo ano para a Dante Alighieri.
Por sugestão da vereadora Denise Pessoa (PT), a Comissão de Educação e Cultura da Câmara, que promoveu a audiência, resolveu solicitar uma reunião com o prefeito e os livreiros, para que se discuta novamente o tema.
A 32ª Feira do Livro de Caxias está prevista para ocorrer de 30 de setembro a 16 de outubro.
