A era das múltiplas tecnologias e a quase ditadura do conceitualismo pareciam borrar a permanência da pintura no mundo das artes. Abstract, que o artista visual Jeff Chies abre hoje, às 19h30min, na Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, coloca a técnica em ação para afirmar sua reverberação na contemporaneidade.
Com nove telas em grandes dimensões, a exposição tem vetores que dialogam com movimentos postos como o experimentalismo, o abstracionismo e a action panting e, ao mesmo tempo, afirmam uma vontade de Chies em exercitar a construção de um repertório de pinturas abstratas. Um jogo entre ato e conceito, desdobramento dos paradoxos da arte.
– O ato é solto, visceral, selvagem. Há uma linha fina nesse embate, que deriva na construção de um corpo teórico para o trabalho – conceitua o artista.
As pinturas de Jeff Chis se descolam do figurativo, ganhando autonomia e, pela abstração, podem se comportar como partituras musicais no equilíbrio entre elementos, nas nuances de composição, nos ritmos para fluir e fruir. Assim, se libertam de sua condição intrínseca para chegar a outros lugares.
– Um desafio bacana para a pintura hoje é esse plano pictórico chamar o olhar para algo que não seja uma narrativa, mas é reconhecível pela emoção. O trabalho não é conceitual, mas também lida com esses movimentos da arte. Me interessa o que é posterior ao discurso usual. Quando se dá o não reconhecível, abrem-se outras portas – argumenta Chies.
Essa potência de percepção é exercitada em plena sociedade do espetáculo, da quase banalização das imagens. Assim como o tempo de feitura de cada obra, que leva de quatro a cinco meses cada, as telas pedem um tempo de observação, momentos ou silêncios para adentar às linhas e vãos, aos desvãos e derivas feitos em pinceladas grossas e cores pulsantes.
– Vivemos um momento de ditadura da imagem. Penso que o contraponto a isso sejam conexões não usuais. Algo de mistério e sedução. O quão simples que (o trabalho) pode não ser para não ser consumido em doze segundos. Há uma vontade de dizer que nada é tão simples assim – pincela.
Reunindo, então, a tríade vigor, potência e sedução, o criador articula seu discurso para afirmar um gesto secular para o mundo contemporâneo. Nesse embate entre a pintura e a overdose de produção de imagens, os abstracionismos de Chies se confrontam e se confundem no hermético mundo imagético.
– Para mim é caro esse não reconhecível. A pintura é uma linguagem clássica mas, ao mesmo tempo, consegue aderir questões tão contemporâneas, nos devolvendo coisas tão mais potentes do que o conceitual – acredita o pintor em sua sinfonia de signos pictóricos.
SERVIÇO
Artes Plásticas
Jeff Chies e os conceitos da pintura em exposição na Galeria Municipal
"Abstract" reúne nove telas abstratas em grandes dimensões
Carlinhos Santos
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