A boa notícia: os brasileiros estão lendo mais. A ruim: o número daqueles que não leem ainda é elevado. É o que revela a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, cujos resultados foram divulgados nesta semana. Segundo o estudo, realizado pelo Ibope Inteligência a pedido do Instituto Pró-Livro, atualmente 56% dos brasileiros são considerados leitores, ou seja, leram ao menos um livro nos últimos três meses.
É pouco, mas representa um crescimento de seis pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, de 2011. E os índices mostram uma luz no fim do túnel: na faixa etária dos 11 aos 13 anos, 84% são leitores, e na dos 14 aos 17, são 75%. Sinal de que, entre outras iniciativas, o trabalho de base, na escola, vem sendo bem feito. Em Caxias do Sul e região, as escolas também fazem sua parte.
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No ano passado, a média de livros lidos pelos brasileiros foi de 4,96, contra 4 em 2011. Entretanto, como esse número se refere ao total da pesquisa – incluindo na média aqueles que não leram nada, ou muito pouco –, ele esconde outros dados mais promissores. Entre estudantes, a média de livros lidos nos três meses anteriores à pesquisa foi de 4,91; como o ano tem quatro trimestres, seria possível dizer que estudantes leitores têm contato com aproximadamente 19,64 livros/ano. Outro indicador do papel fundamental da escola no incentivo à leitura é o das pessoas que influenciaram o gosto pela leitura: 7% citaram um professor ou professora, índice que só perde para as mães, com 11%.
Essa influência é semelhante à que levou a primeira-dama caxiense, a jornalista Alexandra Baldisserotto, a se tornar "ratinha de biblioteca". Anos atrás, quando cursava a terceira ou quarta série no colégio Carmo, chegava a trocar as brincadeiras do recreio por momentos na biblioteca, e até hoje costuma ler bastante. Ela credita esse amor aos livros à influência da então encarregada da biblioteca do colégio, a especialista em Educação Infantil Domingas Colombo Giacomin.
– A descoberta maior foi o Sítio do Picapau Amarelo, os livros do Monteiro Lobato _ recorda Alexandra.
Pioneirismo na área
Pioneira na cidade em promover encontros entre escritores e estudantes, Domingas, 62 anos, atualmente na biblioteca do colégio Mutirão, começou esse trabalho há 40 anos, tendo passado por diversas escolas da cidade. As ações incluem desde atividades a partir da obra de Lobato e a contação de histórias para os mais pequenos (muitas vezes com Domingas caracterizada como os personagens) até a organização de feiras do livro e concursos literários.
Seu projeto mais querido, entretanto, é o que proporciona o contato direto entre escritores e estudantes: nesse tempo, foram mais de 80 autores de renome nacional trazidos para bate-papos, entre eles Ziraldo, Rubem Alves, Ana Maria Machado, Eva Furnari, e Ruth Rocha.
– Dos gaúchos, só não consegui o Mario Quintana – diz, listando Josué Guimarães, Lya Luft, Luiz Antônio de Assis Brasil e Moacyr Scliar entre os bate-papo de destaque.
O resultado é que já está formando a segunda geração de leitores, e se emociona quando mães e pais de alunos de agora lembram das histórias que ela contava ou sugeria ler. O reconhecimento por seu trabalho não é apenas de antigos (e atuais) estudantes: no último dia 10, ela foi agraciada com o título de Cidadã Caxiense.
Com menos tempo de estrada mas igual entusiasmo, José Henrique Alves de Castilhos, 29, trabalha há cinco anos com contação de histórias no Colégio La Salle, além de ser o responsável pela biblioteca infantil. Suas atividades englobam principalmente crianças do pré-escolar ao 4º ano, mas também organiza a feira do livro da escola e as visitas de escritores.
– Em 2016, como o colégio completa 80 anos e ocorrem as Olimpíadas no Brasil, estou com o projeto Viajando o Mundo em 80 Livros, contando histórias de várias partes do mundo. Já passamos pela Grécia, África e Londres, entre outras _ conta, animado.
Cresce o número de leitores entre jovens
Escolas investem na criatividade
As escolas públicas também já perceberam há tempo o papel da escola como incentivadora da leitura, e a maioria das instituições de ensino de Caxias do Sul e região realiza ações permanentes no sentido de aproximar os estudantes dos livros.
Em Farroupilha, o último dia 5, escolhido como o Dia Municipal da Leitura, foi de intensa atividade nas 27 escolas da rede municipal. Feiras de livro, apresentação de trabalhos dos alunos, peças de teatro, contação de histórias e, principalmente, muita leitura marcaram a data. Na Escola Nossa Senhora de Caravaggio, localizada ao lado do santuário homônimo, as ações ligadas à leitura se prolongaram por dois dias, coroando o trabalho feito desde o início do semestre. Um teatro de sombras contou a história da escrita, desde as primeiras manifestações de arte rupestre, passando pelos hieróglifos egípcios, as escritas suméria, cuneiforme e fenícia, até os dias atuais.
Depois, os estudantes puderam conferir os ambientes criados uns pelos outros, a partir de livros da escritora Helô Bacichette (com quem conversariam no dia seguinte): desde recriações dos cenários das histórias até textos produzidos pelos próprios alunos e aproveitamento interdisciplinar dos temas tratados. Na entrada do espaço que abrigava os festejos literários, chamavam a atenção dois guarda-chuvas: de um, pendiam livros, de Branca de Neve a Macbeth; de outro, cartas de personagens para autores, de personagens de um livro para o outro e até uma carta enviada numa garrafa, como nas histórias de aventura.
Nas outras escolas, a criatividade igualmente pautou o dia, com destaque para experimentar o prazer da leitura em ambientes diferentes daquele da sala de aula. Na Carlos Paese, os alunos de 1º ano, escolheram a goleira na quadra de esportes como ambiente para leitura, enquanto na Nossa Senhora Medianeira o local escolhido foi a pracinha em frente à escola – enquanto alguns escolheram deitar nos bancos ou sentar nos balanços, Thiago Saldanha, 14, e Gustavo de Oliveira, 13, do 8º ano, acomodaram-se tranquilamente em uma árvore para desfrutar seus livros.
As escolas caxienses, municipais e estaduais, são outras que têm belas iniciativas no incentivo à leitura. A obra de Monteiro Lobato – "pai" da literatura infantil brasileira –, por exemplo, costuma ser abordada desde a educação infantil, introduzindo a boa literatura antes mesmo de as crianças começarem a ler.
ALGUMAS CONSTATAÇÕES
Confira alguns dados da 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada entre novembro e dezembro com mais de 5 mil entrevistados das cinco regiões brasileiras:
- No Brasil, 56% da população, ou 104,7 milhões de pessoas, são leitores; em 2011, esse índice era de 50%
- Os 44% restantes não são leitores, ou seja, não leram nenhum livro, inteiro ou em partes, nos últimos três meses (mas isso não significa que nunca tenham lido)
- Nos três meses anteriores à pesquisa, a média de livros lidos foi de 2,54, e no ano, de 4,96 (em 2011, esses números eram, respectivamente, 1,85 e 4,0)
- Entre os estudantes, os índices sobem, com o número de livros lidos nos últimos três meses quase igualando a média anual geral: 4,91
- A faixa etária que mais lê é a de 11 aos 13 anos, com 84% de leitores, seguida dos 14 aos 17, com 75%; empatados em terceiro lugar, com 67% de leitores, estão as crianças de 5 a 10 anos e os jovens de 18 a 24 anos
- Dos 25 anos em diante, o índice de leitores começa a cair, oscilando dos 27% (70 anos ou mais) aos 59% (25 a 29); ainda assim, a população adulta e a que está fora da escola estão lendo mais do que o apontado em pesquisas anteriores
- Entre os de escolaridade superior, a média de livros lidos no ano foi de 10,87
- No comparativo entre as regiões, o Sudeste apresenta a maior média de livros lidos nos últimos três meses, 2,98; depois vêm o Centro-Oeste, com 2,52; o Norte, com 2,44; o Nordeste, com 2,15; e, em último lugar, o Sul, com 2,05
- Dentre os fatores que influenciam na escolha de um livro para a leitura, os mais citados foram tema ou assunto (30%), dicas de outras pessoas (11%) e o autor (12%)- O tema ou assunto influencia mais a escolha dos adultos e daqueles com escolaridade mais alta, atingindo 45% das menções entre os que têm ensino superior
- Entre quem tem de 5 a 13 anos, a capa de um livro é o principal motivo de escolha
- As dicas de professores também são muito influentes, especialmente para aqueles que de 5 a 10 anos
- Entre os leitores, a principal razão de não ter lido mais é falta de tempo, com 43%
- Depois da Bíblia, os livros mais citados na pesquisa são best-sellers: Diário de um banana, Casamento blindado e A culpa é das estrelas
- Os livros citados como mais marcantes foram a Bíblia, A culpa é das estrelas, A cabana e O Pequeno Príncipe
- Os escritores de quem os entrevistados mais gostam são Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho