Emoção. Esse substantivo, de estreita relação com a arte, descreve bem o que move o trabalho da artista plástica Tânia Oliveira, cuja exposição Afinidades pode ser conferida até o final de abril na Galeria de Artes do Centro de Cultura Ordovás. As 12 telas, produzidas de 2007 a 2016, remetem à atividade anterior de Tânia, que atuou por duas décadas como figurinista de cinema e está em sua segunda mostra individual - a primeira em Caxias do Sul.
- É uma espécie de retorno às origens - avalia o curador da exposição, C.G.Hünninghausen.
Tânia conta que sempre pintou, paralelamente à atuação de figurinista. Entretanto, acostumada a estar "por trás das câmeras", só bem recentemente começou a mostrar suas obras. Os dois trabalhos, para a artista, são complementares:
- Ambos são arte - define.
As telas expostas no Ordovás também têm relação com o romance Afinidades Eletivas, de Goethe. Tudo começou em 2009, quando ela fez o figurino para a peça homônima produzida no Rio, com direção de Marcos Barreto. As emoções presentes no texto, em que dois casais trocam de parceiros, e principalmente a noção de "química" entre os personagens são os motes da peça.
- Hoje, usa-se a palavra "química" como clichê, mas em 1809, quando Goethe escreveu o livro, era uma metáfora muito bonita para explicar os relacionamentos - diz Hünninghausen.
Na obra de Tânia, essa química expressa-se no uso de camadas e mais camadas de tintas, que vão sendo colocadas, retiradas e recolocadas, numa alegoria do próprio ser humano, cuja visão de mundo permanentemente se refaz, num processo de experimentação constante e de descobertas.
- O artista, na maior parte das vezes, tateia, trabalha no escuro - compara o curador.
Nas 12 telas (a menor com 1m x 1m, a maior com 4m x 1,7m) destacam-se, além da sobreposição de camadas, as texturas, os tons terrosos e o uso de carvão e betume, que fazem companhia ao óleo e ao acrílico. O gosto por linhas, herança dos tempos de figurinista, também está presente.
- Faço um trabalho figurativo abstrato: monto um personagem, levo-o para a tela e depois o visto e desnudo. Procuro passar emoção aos personagens. Sempre trabalhei muito com a emoção, preciso dela - resume Tânia.
Para o curador, essa emoção é o diferencial da artista:
- Tânia não é cerebral, é emoção, é muito intensa. E isso é algo em falta no circuito das artes hoje, no Brasil ainda se está geralmente numa obra muito dura, de meados dos anos 1990.
Afinidades é a primeira exposição selecionada na Convocatória 2016 da Unidade de Artes Visuais de Caxias.
No dia 15, às 19h30min, Tânia Oliveira e C.G.Hünninghausen participam de uma conversa com o público sobre o processo de criação das obras. A mostra tem produção executiva de Alexandre Copês.
Visitação
:: Quando: até 30 de abril, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h,e aos sábados, das 15h às 18h; no dia 15, conversa com a artista, às 19h30min
:: Onde: Galeria de Artes do Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312)
