Conheço Samuel Casal, o ilustrador que trabalhou na criação da abertura da novela das nove da Globo, Velho Chico, há 35 anos. Desde os tempos de criança, em que estudávamos no colégio Madre Imilda, em Caxias do Sul, onde era colega do seu irmão mais velho e passávamos os fins de semana na chácara dos Casal.
E desde a época em que nossas preocupações eram apenas andar de bicicleta, jogar bola ou passar horas na piscina, Samuca já demonstrava muita criatividade, aliada a uma quase compulsão por desenhar. Os cadernos da escola que o digam.
Lembro da primeira vez, na adolescência, que ouvi um disco (era vinil) do Iron Maiden. Foi na casa dele. Ao som de rock pesado, Samuel já esboçava uma digital artística que hoje é considerada por gente que entende do riscado, com o perdão do trocadilho, como icônica.
Quis o destino que trabalhássemos na mesma época também em dois jornais. No Pioneiro, onde Samuel estreou como ilustrador, pilotando seu primeiro Mac. Era início dos anos 1990, e Steve Jobs começava a se destacar como o cara. Adianto temporal.
Na virada do século 21, ambos estávamos no Diário Catarinense, em Florianópolis. E foi com o trabalho desenvolvido no universo digital, em que Samuel foi um dos pioneiros no país, que ele encontrou de vez sua marca, imagens em tese macabras e assustadoras, como caveiras e lobisomens, desenhadas com tal riqueza de detalhes que conquistam cada vez mais admiradores.
De galerias na Noruega, Espanha e Rússia a produtores de rótulos de vinho na Califórnia, os convites para expor não param de pipocar na caixa de e-mail. Nas redes sociais, ele mantém seguidores fiéis, sempre à espera da próxima ilustração.
De qualquer maneira, em 2006 Samuel decidiu dar uma virada na sua vida. Já tinha faturado alguns dos oito troféus de melhor ilustrador do país da HQMix, prêmio escolhido pelos profissionais da área, quando resolveu viver somente da sua criação, por conta. Montou um estúdio e ganhou o mundo sem sair da capital catarinense.
Hoje, quem vê aquele sujeito com ar introspectivo (é timidez mesmo), fala pausada, de braços tatuados, bermuda, camiseta sem estampa e chinelo rumo ao mercadinho perto de casa, no bairro Carvoeira, talvez nem imagine estar diante de um dos ilustradores brasileiros mais admirados no país e lá fora.
Dono de um traço marcante, reconhecido por gente como Lourenço Mutarelli - maior autor brasileiro das histórias em quadrinhos underground -, é acusado pelos mais puristas de subverter a xilografia, o trabalho de entalhe em uma peça de madeira ou MDF que serve de matriz para impressão da gravura.
Há 18 anos morando em Florianópolis e com 25 anos de experiência profissional, Samuel, sem afetação ou estrelismo, conquistou a possibilidade de trabalhar sem sair de casa para nada. Conversa com editores e ilustradores, fecha contratos, tudo a partir do sobrado onde vive, encravado em uma rua sossegada na Carvoeira. Ali, junto com as filhas Bruna, três anos, e Bianca, sete, e a mulher Raquel, Samuel tem um porto seguro para entalhar imagens que levam seu nome e seu trabalho para longe.
Talento
Caxiense Samuel Casal tem reconhecimento mundial por sua arte
Artista radicado em Florianópolis trabalha sem precisar sair de casa
GZH faz parte do The Trust Project